Power Rangers - Review


20 anos depois, Power Rangers tem seu nome outra vez nos cinemas. Mas, agora com uma proposta bem diferente da série e dos filmes predecessores da década de 90. O reboot através da nova película desconstrói e reedifica tudo o que havia sido proposto na era de Mighty Morphin, desde a mitologia​ até os personagens. É um novo momento para a cultura jovem e para o cinema, e em Power Rangers não tinha como ser diferente.

A nostalgia não foi abandonada, já que ela provavelmente é uma das razões para reviver a famosa franquia dos heróis coloridos. Mas nada de noventismos aqui ok? Homenagens ou os famosos fan-service (delícia!), aqui não falta. Com  certeza alguém vai vibrar quando escutar o famoso ringtone clássico da série original, sim o "sonzinho" “Go Go Power Rangers” aqui está de cara nova e é brevemente utilizado.

E o que aconteceu para que aquele universo da série coubesse em um filme de duas horas? Cortes e adaptações que podem frustrar os mais fechados, mas serem completamente compreensíveis aos mais sensatos. Dessa forma houve espaço para abordar mais aspectos dos protagonistas. Suas inseguranças e caráteres​ de forma mais densa. Vemos isso acontecer até com o mais magistral dos personagens.


Finalmente cada um dos escolhidos tem uma história de fundo mais interessante e relevante. Pois é, afinal, o que explica eles serem quem são. A ranger amarela, Trini (interpretada pela atriz e também rapper Becky G), por exemplo, tem um comportamento mais introvertido que provavelmente se baseia, entre outra coisas, na problemática relação com sua família e no desabrochamento da sua sexualidade.

E todo esse trabalho mais completo nas figuras trás personagens muito interessantes como Billy, o ranger azul. Que apesar de ser construído sobre um estereótipo de nerd atrapalhado e recluso é extremamente carismático pelo seu comportamento e virtuosidade. O que se deve muito ao trabalho de R.J. Cyler, o jovem que o interpreta. Ele não parece estar ali simplesmente para cumprir uma cota racial, mas para dar energia ao grupo. Ele é único e essencial no filme. O que não pode se dizer muito do ranger preto, Zack. Ele não parece ser mais do que uma tentativa de extensão cômica de Billy. Zack é uma figura forçada e também mal desempenhada. O ator que o representou, Ludi Lin, é falho em todos os atos. E se já estava decepcionado nos momentos “engraçados”, é terrível vê-lo nos dramáticos. Ele se destaca por não ter entregado sequer o mínimo de emoção apropriada às cenas e por estar do lado de potenciais como a talentosa Naomi Scott e a despontada já citada, Becky G.

Naomi interpreta a ranger rosa Kimberly, um dos personagens mais bem trabalhados no arco. Ela se destaca por protagonizar com mestria suas cenas carregadas. Não se trata apenas de uma patricinha. Kimberly eclode como uma forte e determinada mulher depois de superar arrependimentos e inseguranças.

No entanto, obviamente, a trama é mais centrada no ranger vermelho, Jason. E Dacre Montgomery assumiu bem esse papel, dando toda a atitude que ele precisava. Como líder, ele tem que enfrentar a responsabilidade da regência do grupo. Ele mesmo que sequer devia se achar digno de heroísmo.


E juntos, “como um só”, eles devem derrotar o mal encarnado na forma da traidora Rita Repulsa que busca possuir a fonte da vida na Terra e assim, dominar o universo — OK. Essa parte é bem genérica mesmo. Mas como não respeitar quando estamos falando de Power Rangers e do talento da excelente camaleoa Elizabeth Banks? A atriz e a direção realmente salvaram o que poderia ter sido um absoluto desastre como vilã. Rita poderia ter sido melhor desenvolvida, ainda mais por representar sozinha todo o núcleo de antagonistas (não podemos contar com o gigante Goldar). Apenas apresentá-la como pária não foi nada convincente. Até porque, ela não vai muito além disso. Mas interpretação faz milagres. E cenas visualmente ricas ajudam também você a esquecer que é ela é só uma múmia vingativa e megalomaníaca. Mas é definitivamente melhor como vilã que a galhofa (com respeito) do original. Dessa Rita você vai ter medo.

O universo dos Rangers, apesar de absurdo para o mundo real, é mais crível quando encontramos tramas táteis. Um ponto positivo para o filme foi ter feito um bom trabalho com os protagonistas.
Os momentos dramáticos, apesar de não parecerem tão harmoniosos com a dinâmica geral da película, foram bem regidos. São intensos e valorosos. E a trilha escolhida para eles denota isso perfeitamente. Tendo que obrigatoriamente citar a cena em que Stand By Me (Bootstraps) toca. É impossível não sentir a mínima empatia.

Mesma regra para a cena onde os Rangers se defrontam e que claramente referencia Clube dos Cinco. É um ato de aceitação e sobre como eles aprendem a lidar com quem são, quem desejam ser e o que pretendem fazer. Nada mais justo de ver quando a responsabilidade sobre o futuro da humanidade cai sobre suas mãos enquanto você ainda é um colegial.

Mas hakuna matata: o que não falta, definitivamente, é comédia. O filme é repleto de piadinhas. Por vezes perfeitamente colocadas, por vezes estranhamente inconvenientes e bobas. O enredo é bem complexo e movimentado. Há progresso em praticamente cada segundo do filme, mas longe de ser perfeito e muito mais distante ainda de ser polido. Uma nota apenas para os primeiros diálogos no momento que compreende a introdução da trama (onde os personagens estão sendo apresentados e a mitologia sendo descrita) cujas linhas são muitas vezes equivocadamente explicativas demais e perdem força para imersão natural do espectador.

 
E quanto ao visual: impecável. Excelentes e inventivos conceitos. Tudo é muito orgânico. Podemos notar isso logo nas armaduras dos Rangers. Elas seguem uma linha mais “viva”. Nada de collants ou capacetes polidos. O mesmo para os zords (os colossais robôs biomecânicos) que abandonaram sua aparência retrô/rústica de caixas de metal empilhadas de outrora. Para quem apenas os viu nas imagens de marketing como brinquedos em um simples fundo branco, apenas espere para assisti-los em ação de verdade. Os efeitos especiais não fraquejam e provam o grande investimento da Lionsgate.

Infelizmente, nem todas as cenas dos trailers estão no filme, e mesmo algumas presentes vieram de forma diferente. Num outro ângulo ou com linhas de diálogo alteradas. Um costume nada honroso. Mas pelo menos, em relação a materiais de divulgação, não chegaram a se precipitar demais com spoilers. Há pequenas reviravoltas que podem te pegar de surpresa. Riscos admiráveis por terem sido tomados em um material como esse.

E quando digo “material como esse” não quero dizer “filme para o público jovem”, mas “filme para fãs”. É graças à paixão do fandom que os guerreiros coloridos puderam ganhar espaço e relevância para uma produção nessa proporção. E alterar certos cânones poderia ser visto como afronta. Mas lembrando outra vez de que é algo que deve-se já ir ao cinema ciente. Era o que os trailers e pôsteres já vendiam.

Você pode ficar decepcionado por não ouvir os “bonecos de massa” fazerem seu barulho característico, mas admita que é muito mais legal vê-los como ameaçadores golens de pedra gigantes. Não temos a explosão colorida ou faíscas em vez de sangue, mas temos mais ação e dinâmica que qualquer episódio da série original foi permitido ter. E sequer houvimos também o esperado "It's morphin time". Mas é porque ele não caberia já que não há espaço para cenas teatrais de transformação. Não houve economia no trabalho de filmagem e edição. O que poderia ter sido um simples capotamento é um show fotográfico. E souberam equilibrar muito bem isso tanto nas cenas diurnas como noturnas.

Mas nada justifica o clássico e definitivo “Ai Ai Ai Ai Ai Ai” ter se perdido no processo. Alpha 5 é por dentro praticamente o mesmo que já conhecíamos: enérgico e exasperado. Mas agora seu prometido bordão tradicional não passa de repetidas interjeições anti-climáticas.


Os super sentai não poderiam ter se visto mais ocidentais como dessa vez. Não temos aqui a forte veia oriental de Círculo de Fogo (que é também um produto americano com raízes em produções japonesas). Esse é o “jeito ocidental” de produzir filmes. Há a obrigatória e sensata necessidade de diversidade étnica contemporânea, abrangência de categorias, efeitos especiais pesados e dinâmica forte.

Enfim. Dentro da sua proposta, é um ótimo filme. Entrega exatamente o que eu esperava e não vejo como desapontar quando você está ciente do que ele promete e do que ele realmente tem que cumprir. Sendo assim, espero ainda mais ansioso pelas prometidas sequencias.

Ah! Existe um pós crédito. Tá? E vale muito a pena assistir!
E que o poder o proteja!

"Power Rangers" tem estreia marcada para esta quinta-feira, 23 de março. E você pode conferi-lo em 3d no Centerplex Cinemas no shopping Via Sul.

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