Incomoda-me
(e me irrita) sobremaneira quando alguém, sem ter o que opinar, lança mão do
velho jargão de que “no Brasil, o que prevalece é a lei do Gérson” insistindo, por
exemplo, que “não há solução para a corrupção no Brasil”, praticamente um batido
clichê de quem não está nem um pouco interessado em melhorar este “status quo”
(e, em muitos casos, eu diria até feliz com isso).
Ora,
os jovens dos dias de hoje nem sequer sabem de onde surgiu a tal “lei do
Gérson” (comercial em que o jogador Gérson, campeão da copa de 70, inocentemente,
repetia a frase que viria a se tornar o jargão mais mal afamado do país, que “o
que importava na vida era levar vantagem em tudo”). Então, não está na hora de
mudarmos este velho discurso? Não seria a hora de finalmente acreditarmos um
pouco no nosso povo, sem otimismo exagerado, mas também sem esse pessimismo
crônico e doentio?
Assim,
após essa pequena introdução, começo esse texto relembrando as classes de
“motherfuckers” (os sociopatas, os egoístas individualistas e os tarjas pretas)
que falei no meu texto anterior, mas agora me volto para os “motherfuckers
propriamente ditos” para, enfim, chegar ao ponto crucial da minha indagação e
indignação.
De
todos os motherfuckers, os “propriamente ditos” são os mais cruéis porque eles
dominam as grandes comunicações e instituições em um país, e diferentes dos
outros “mothers...” (que vivem, comparativamente, quase reclusos nos
seus mundinhos de m....), os “propriamente ditos” invadem a mídia para espalhar
desavenças, preconceitos, ódios e medos (sejam eles de cunho político,
religioso, racial, sexual e outros) para, de alguma maneira, tirarem proveito
disso, só que em proporções gigantescas.
Para
esses intentos macabros, os motherfuckers ( no português bem claro, “filhos
da p...”) propriamente ditos apresentam-se como jornalistas partidários e sem
ética (que só divulgam meias-verdades pois, mancomunados com algum partido ou
político, interessa apenas que se divulgue o que convém para este ou aquele
partido), como pseudo-religiosos (que bradam versículos de livros sagrados para
justificar e instigar ódio entre religiões, intolerâncias racistas e sexistas),
como políticos inescrupulosos (velhos conhecidos na mídia), e por aí vai...
O
que me incomoda, mais ainda que a corrupção, é essa intolerância que se
dissemina por todo o país (vide as ameaças de morte para o humorista Jô Soares por este ter entrevistado a presidenta Dilma e o jornalista Fernando Moraes, autor dos livros “Chatô, o rei do Brasil”, “Olga” e “A ilha”), incentivada pela grande mídia televisiva que,
maniqueísta e explicitamente partidária, continua com o velho discurso
equivocado “do bem contra o mal”, perpetuando o ódio e a desconfiança na
população por conta das reportagens que levam ao ar (um dos mais assuntos mais
comuns é sobre a corrupção, que infelizmente é “quase milenar” no país,
mas a mídia quer fazer parecer que é exclusiva dos “petralhas”) e, ao
contrário, deveria incentivar a cassação indiscriminada dos corruptos, mas
partidária e mancomunada, só interessa transmitir meias-verdades para o povo
brasileiro.
E
cada vez mais me considero, mais e mais, uma cidadã do mundo. Adoro o meu Brasil,
mas a cada viagem que faço para o exterior, percebo o quão equivocados estão os
brasileiros que, por um lado, pecam por excesso de egocentrismo e patriotismo
(o que não é exclusivo do Brasil, diga-se de passagem) e, contraditoriamente,
continuam com o eterno “complexo de vira-lata” (este sim, ainda parece muito
gritante por aqui, desde sempre, muito antes do “nobre” título, dado pelo
dramaturgo Nélson Rodrigues, nos idos anos 50).
Nélson
Rodrigues deixou escrito: “o brasileiro é um narciso às avessas que cospe na
própria imagem”...“tem brasileiro que sofre do complexo de vira-lata, se coloca
sempre como um ser inferior diante do resto do mundo”. Mas ainda bem que nem
todos os jornalistas são maniqueístas chinfrins e mancomunados com este ou
aquele partido...
Que estranha essa mania do brasileiro de achar “o gramado do vizinho sempre mais verde” neste eterno sentimento de “vira-lata sem dono”!!! A mesma conclusão chegou o francês Olivier Teboul, de 29 anos, engenheiro de computação (que está há dois anos no Brasil), que coletou curiosidades sobre o jeito de ser dos brasileiros e registrou tudo em seu blog.
Olivier as enumera (65 itens entre coisas boas e ruins) e confirma
exatamente esse nosso maldito complexo de inferioridade (já percebido por ele
convivendo com o nosso povo por tão pouco tempo ainda). Reescrevo aqui algumas
impressões enumeradas pelo tal francês que mais me chamaram a atenção:
· “Aqui no Brasil, os brasileiros acreditam
pouco no Brasil. As coisas não podem funcionar totalmente ou dar certo, porque
aqui, é assim, é Brasil. Tem um sentimento geral de inferioridade que é
gritante. Principalmente a respeito dos Estados Unidos. Tô esperando o dia
quando o Brasil vai abrir seus olhos” (eu também ansiosamente espero).
· “Aqui
no Brasil, as pessoas acham que dirigir mal, ter trânsito, obras com atraso,
corrupção, burocracia, falta de educação, são conceitos especificamente
brasileiros. Mas nunca fui num país onde as pessoas dirigem bem, onde nunca tem
trânsito, onde as obras terminam na data prevista, onde corrupção é só uma
teoria, onde não tem papelada para tudo e onde tudo mundo é bem educado” (de
novo, idem, idem, idem).
· “Aqui no Brasil, novela é mais
importante do que cinema. Mas o cinema nacional é bom” (também acho, e novela é
um “pé no saco”).
· “Aqui no Brasil, o povo é muito
receptivo. É natural acolher alguém novo no seu grupo de amigos. Isso faz a
maior diferença do mundo. Obrigado, brasileiros” (de nada, nós é que temos que
agradecer quando alguém de fora reconhece o que nosso povo custa a enxergar).
Mas,
o que mais me incomoda no Brasil não é nem a impunidade em relação à corrupção
(lá fora, também isso ocorre, e muito). O que mais me incomoda é a nossa mídia
que é tão corrupta quanto os demais setores da nossa sociedade.
E
muitos desses sentimentos mesquinhos e rasteiros, que afloram no nosso dia a
dia, têm como principal veiculador essa nossa grande mídia, sempre partidária e
mancomunada com interesses escusos, e que nos tempos atuais fomenta o ódio
entre a população com um todo, quando passou a praticamente tornar ilegítimo o
processo eleitoral atual e a transformar a “milenar” corrupção como o problema
crucial do governo atual (que, não é novidade alguma, já existia escandalosamente nos outros governos anteriores).
O político
(seja de esquerda ou de direita, e de qualquer lugar do mundo) está no seu
“direito” de esconder meias-verdades que não lhe interessam eleitoreiramente
falando, mas a imprensa não pode ser partidária, essa é a pior corrupção que
temos hoje por aqui, uma imprensa que mostra meias-verdades (seja ela de
direita como de esquerda, de acordo com sua tendência partidária), a que melhor
lhe convém para o público (mostrando que é tão mancomunada quando os próprios
partidos) nos privando de reagirmos, uma vez que desconhecemos o que realmente
se passa nos bastidores da política.
E me volto como sempre para o cinema como meu companheiro de leitura e exemplo. O filme “Cidadão Kane ” da década de 40, causou furor na época, ficando engavetado, porque o cineasta Orson Welles desafiou um dos homens mais ricos da América, um gênio da comunicação dos EUA, dono de vários meios de comunicação da época, principalmente jornais de grande circulação, além de revistas e estúdios de Hollywood. Welles escancara em seu filme todo o monopólio desse grande magnata, denunciando toda a sujeira que havia por trás das manchetes sensacionalistas do jornal mais vendido nos EUA.
O jornal, sob o comando do tal ricaço, manipulava as notícias só divulgando meias verdades que lhe convinha politicamente , desafiando o poder público quando era de seu interesse, destruindo e difamando em seu jornal seus desafetos ou venerando e manipulando a opinião pública a seu favor e de seus correligionários.
O jornal, sob o comando do tal ricaço, manipulava as notícias só divulgando meias verdades que lhe convinha politicamente , desafiando o poder público quando era de seu interesse, destruindo e difamando em seu jornal seus desafetos ou venerando e manipulando a opinião pública a seu favor e de seus correligionários.
E como sempre fazia, o magnata tentou difamar Orson Welles fazendo uma campanha “anti-kane”, tentando manipular a opinião publica a seu favor e contra o jovem diretor, não conseguiu, o filme acabou sendo lançado e ganhou o Oscar de melhor roteiro da época (mas perdeu em todas as demais indicações – eram nove, inclusive de melhor filme – por conta ainda da influência macabra do tal motherfucker).
O magnata da imprensa (no filme retratado na figura
do personagem do cidadão kane e vivido pelo próprio Orson Welles) era
W.R.Hearst que, mesmo idoso e quase falido desde a Depressão Americana, por
conta da história que o comprometia, tentou de todo jeito barrar a gravação do
filme e a divulgação do mesmo – “qualquer semelhança com muitos dos nossos jornais NÃO é mera coincidência”, tanto que o “nosso cidadão Roberto Kane Marinho” conseguiu barrar, nos anos 90, a divulgação, no Brasil, do documentário “Brasil, muito além do cidadão Kane” (“Beyond citizen Kane”), da BBC de Londres, sobre o comprometedor monopólio midiático das organizações Globo.
O cineasta estadunidense Michael Moore, um adepto do documentário-verdade, não mede esforços para denunciar falcatruas e corrupções na sua “terra do tio Sam”, e por isso é mal visto pelos seus compatriotas (pelos políticos, principalmente) que alegam que ele é “um oportunista que levanta bandeiras anti-americanas”, fazendo parecer que o cineasta é antipatriota (ao contrário, o documentarista só não é um deslumbrado com o seu país e admite os defeitos e problemas de sua terra natal e os denuncia).
Em “Tiros em Columbine” (“Bowling for Columbine ”) o cineasta parte prá cima da “Associação de Rifles da América” cobrando dos seus dirigentes a “mea-culpa” dos inúmeros assassinatos por jovens armados nas escolas americanas ( no caso, o massacre na escola Columbine, no Colorado, em 1999) que persistem em escala assustadora até os dias de hoje. O documentário faz pensar, além de ser incisivo e ironicamente divertido, principalmente quando tentam pôr a culpa, do massacre da escola Columbine, na música (no caso, o bode expiatório foi o heavy metal Marylin Manson).
Moore mostra como, na América, a cultura do medo é divulgada todos os dias nos noticiários televisivos transformando o vizinho (seja de porta ou de fronteira) num potencial inimigo – o americano tem medo até da própria sombra, e para quem tem medo, “o ataque passa a ser a melhor defesa”, explicando o enorme número de vendas de armas para “legítima defesa” versus homicídios, muitos deles cometidos por indivíduos (motoristas no trânsito, estudantes, funcionários de empresas) que não conseguem se enquadrar numa sociedade em que não há espaço para “losers” (“legítima defesa”???!!!).
Ao mostrar como a política do medo financia armas e o crime nos EUA, o cineasta compara seu país com o Canadá, e mostra que, ao contrário, tanto o Estado como a imprensa canadense se volta para o coletivo, para o bem estar social, e como não instigam o povo a ter medo isso implica diretamente nos índices de violência canadense que são baixíssimos, mesmo com um número de porte de armas bem maior entre os canadenses, em comparação com os estadunidenses.
O cineasta é mestre em usar o sarcasmo e ironia e um “certo quê de inocência” premeditada, para chamar a atenção do público para assuntos delicados e de difícil abordagem, seduzindo-nos e convidando-nos a discussão de maneira sutil e bem-humorada, levantando bandeiras, questionando as corporações e “a selva de pedra” do capitalismo, contando-nos como se deu o nascimento da “cultura do medo” nos primórdios da história americana, no melhor estilo do desenho “South Park”.
Essa política do medo faz com que nos vejamos sempre como potenciais inimigos (o filme americano “Crash, no limite”, também retrata isso muito bem) e que, infelizmente, teimamos em herdar tudo o que tem de
ruim da América – essa política do medo se encaixa perfeitamente em nosso povo
aculturado, “apolitizado” e alienado, e foi devidamente importada pela nossa
imprensa golpista, principalmente em épocas eleitorais (a tresloucada atriz Regina Duarte que o diga, com seu ridículo discurso “eu estou com medo” na era Lula x Serra) – que medo
infundado é esse, de líderes latino-americanos que só têm “voz” em seus
míseros países???
Agora, o que vemos no Brasil? Intolerantes religiosos, políticos, raciais e sexuais como nunca dantes tínhamos presenciado por aqui... (um intolerante covarde acaba de escrever nas redes sociais “por favor, alguém mate esse lixo humano”, referindo-se ao jornalista e escritor Fernando Moraes, apenas por conta de suas opiniões políticas).
Ao contrário, devíamos ter medo sim, dos “Bushs da vida”, que
não respeitam leis internacionais e invadem países sob o falso pretexto de
levar democracia, na verdade com interesses econômicos escusos. Temos
o “melhor futebol do mundo” e as “melhores praias do mundo”, mas em
compensação, “tudo de ruim só acontece por aqui”, segundo os vira-latas. Adoram
vomitar “se fosse nos States, isso não acontecia”, seja qual for o tema,
corrupção, trânsito, impostos e por aí vai...
Sem
essa de que só aqui no Brasil tem (e acontecem) coisas ruins. Como viajante
pelo mundo afora, eu jamais me limito aos pontos turísticos que, em geral,
estão sempre devidamente maquiados por todos os lugares que já passei, e assim
posso comparar sem medo e sem preconceitos...
A
“Torre de Babel” (com a mistura de raças e línguas das mais diversas) que vemos
nas cidades cosmopolitas (como Paris, Londres, Nova York, Amsterdam e outras)
me fascina. Essa profusão cultural por conta das misturas entre os povos faz
com que eu, a cada vez que viajo para o exterior, considere cada vez mais sem
sentido o exacerbado sentido de patriotismo que, hoje, considero um atraso de
vida e um passo para a intolerância entre os povos (assim como acontece com a
religião, que fomenta ódios milenares).
E,
a partir das minhas andanças, concluo que todos os países, sem exceção, do
“primeiro ao terceiro mundo”, têm sempre algo de bom e de ruim. Por exemplo,
Londres e Paris têm metrôs sujos com mendigos fedendo, jovens meninas (menores
de 10-15 anos) aliciadas por máfia francesa furtando turistas a cada parada nos
metrôs (ou seja, não adianta reduzir a maioridade penal, se não formos, a
fundo, no que concerne às desigualdades sociais), pedintes pelas ruas e por aí
vai. Mas
nada disso tira o charme dessas duas famosas cidades, com a sua mistura
arquitetônica do passado e do futuro convivendo harmonicamente em meio à
agitação urbana com seus músicos de rua e suas ruelas milenares.
Precisos
são os horários dos trens e dos metrôs que são sistematicamente cumpridos em
muitas das cidades europeias que já visitei, é o famoso “horário britânico” (ou
“disciplina germânica”, para outros), mas em nenhuma delas os aviões saem no
horário exato, atrasos nos voos são muito comuns aqui e lá fora, quaisquer que
sejam as companhias aéreas...A
linda Amsterdam, por exemplo, com seus belos canais e sua bela arquitetura
convive harmonicamente com suas ruas tomadas por estacionamentos de bicicletas
e a famosa “red light” das mulheres seminuas nas vitrines e os seus usuários de
drogas (por aqui ilícitas e lá pacificamente liberadas).
Não.
Não é só no Brasil que tem coisas erradas e ruins. Em Amsterdam vi pedestre ser
desrespeitado, e um deles por pouco não foi atropelado, bem na minha frente, na
faixa de segurança, ainda atravessando no meio da pista quando o semáforo
apenas tinha acabado de fechar. Vi também muito francês bem vestido, alguns de
terno inclusive, pulando a catraca do metrô para não pagar a viagem.
Cobra-se
“taxa de turismo” no hotel, para “uso da cidade”, em várias metrópoles
europeias (enquanto, por aqui, reclama-se de taxas e impostos como se fosse o
único lugar do mundo a fazer isso). Em muitos países paguei a ida ao banheiro
em estabelecimentos não tão asseados assim que justificasse a cobrança. Vi
estudantes europeus, em grupo, levados pelos seus professores para ver artes
impressionistas nos mais variados museus e, como toda criança, em qualquer
parte do mundo, havia aquelas muito interessadas nas telas e nas explanações
(talvez um futuro artista), outras apenas “cumprindo obrigação”, e outras com
olhar vago e algumas até entediadas. Não é só a nossa criança brasileira que “é
alienada e não se interessa por cultura”...
E a todo instante vivenciamos atentados nos EUA (entre os seus próprios
conterrâneos) de evidente racismo e uso inconsequente de armas liberadas para
jovens sem nenhuma condição emocional para tal.
Mas os brasileiros falam da América como se esta fosse “a última jóia do
Nilo”, a “última bolacha do pacote”, como se tudo lá fosse “mil maravilhas”, um
“exemplo para o mundo e para os brasileiros”.
Acredito
que esse sentimento de inferioridade poderia ser parcialmente resolvido se o
nosso povo fosse mais confiável e respeitável em relação a si mesmo. Muitas das
nossas mazelas se perpetuam por conta da corrupção crônica, assim acredito que
o eficaz combate à corrupção seria o caminho mais viável para se chegar a isso,
porque aumentaria a nossa credibilidade lá fora, e como damos valor excessivo
ao que falam sobre nós lá fora, quem sabe...
Corrupção no
Brasil é crônica, desde a era do Império chegando à Nova República, passando
pelos militares (com sua censura que nos privava do conhecimento de tudo,
inclusive da corrupção) até chegar ao Color, que inicialmente foi carregado no
colo pela mídia interesseira que encobria a corrupção, mas quando contrariou a
elite, a mídia tratou logo de partir para a cobrança do impeachment. Parecia na
época que, enfim, nunca mais os “caras-pintadas” sairiam das ruas e ficaríamos
livres para sempre da corrupção deslavada.
Mas Sarney
veio trazendo a corrupção diretamente de Alagoas para a Presidência, que depois
continuou no governo FHC, que a grande imprensa escrita também fingiu nada
saber (as “nuvens de dados virtuais” tinham as verdades denunciadas pelos
blogs, mas a grande mídia televisiva junto com o “Engavetador Geral da
República” do FHC, apelido emblemático dado pelos blogueiros, malocava
processos guardados a sete chaves do grande público), e os caras-pintadas
ficaram “sem pai nem mãe”, pois “blog político sozinho não faz verão”.
Nos estados
e municípios também nunca foi diferente, Maluf em São Paulo, Serra e a “Privataria tucana” paulista (que até hoje aguardamos a famigerada CPI), Garotinho no Rio,
ACM vulgo “Toninho Malvadeza” na Bahia (com um apelido deste, o Odorico
Paraguaçú, “O bem amado”, telenovela dos anos 70, baseado no livro homônimo de
Dia Gomes, devia morrer de inveja) e por aí vai. E uma vez condenado
politicamente, o povo não deveria mais votar em políticos condenados como corruptos
(vide o Collor que voltou “pelos braços do povo” a fazer parte do cenário atual
da corrupção).
E não é que não exista uma crise econômica, mas não na proporção que a grande mídia quer fazer parecer, pois crises idênticas ou piores em governos passados já aconteceram e não houve tal estardalhaço da mídia (muitas vezes a repercussão ficou no nível de blogs políticos) porque havia interesses escusos de não expor verdades ao público.
E se hoje alguém tem alguma dúvida aonde acontece de fato os panelaços, por exemplo, não se ouvem panelaços na periferia das cidades (é só conferir com os seus empregados domésticos, porteiros e lixeiros), mas a grande mídia jamais mostra (ou, no mínimo, questiona) isso... Como também não se ouve notícias do manifesto, assinado desde abril por diversos intelectuais, que sugere que está em jogo uma campanha difamatória pela mídia golpista para esvaziar a Petrobrás a exemplo do que aconteceu no passado com outras estatais como as telecomunicações, por exemplo.
Mais que uma crise econômica, acredito que estamos diante sim de uma grave crise política, com um partido de governo que decepcionou grande parte da população (que achava que o mesmo entraria e sairia ileso do velho antro de cobras que sempre reinou por aqui), um partido aliado velho de guerra cronicamente mancomunado, e um partido de oposição que aproveita-se da crise para pegar carona no melhor estilo “quanto pior, melhor”, ou seja, cada um quer salvar a própria pele e ninguém pensa no Brasil como um todo para sairmos juntos do atoleiro.
Há poucas semanas uma reportagem da rede Globo (a nossa eterna “Cidadã Kane”), já “viciada” em insistir numa “grave crise econômica” no governo atual (o que não fazia em governos anteriores diante de crises idênticas), foca uma reportagem em um “pobre” empresário, dono de 40 apartamentos vazios que, “tadinho”, indignado, teve que “baixar o preço dos aluguéis por conta da crise”; em contrapartida o locatário (este sim, um pobre coitado batalhador da classe média baixa) feliz da vida por poder enfim alugar um apartamento decente (por isso ele não participa do panelaço) mal foi entrevistado pelo jornalista. Essa sempre foi a nossa mídia partidária, “dois pesos e duas medidas” nas suas (escrotas) reportagens.
A verdade é que a nossa classe média (a média e a alta, que são os que realmente fazem o tal panelaço que tanto a mídia alardeia) reclama, mas continua viajando “com ou sem crise” (agora na era Dilma/Lula, tanto quanto viajava na era Collor como na era FHC), apenas “reclamam da crise” porque estão descontentes por estarem trazendo menos bugigangas na mala, e é só.
O PT do Lula
denunciou os picaretas (e o grupo “Paralamas do sucesso” até musicou), mas
quando chegou sua vez no poder, se viu obrigado a entrar “no circo” e, infelizmente,
gostou do “picadeiro” e se mancomunou (“é mais fácil unir-se ao inimigo do que
vencê-lo”) e a corrupção novamente tomou rumo gigantesco (tão grande quanto a que já existia na era FHC, no currículo do “Engavetador Geral da República”, Geraldo Brindeiro, que arquivou mais de 600
processos que nunca foram sequer julgados, que dirá condenados, e o povo “dormia em berço esplêndido” sem nada desconfiar).
O anarquista
russo Bakunin já previa isso, ainda no século XIX, quando deixou escrito: “a
classe operária, tão logo se torne governante ou representante do povo, cessará
de ser operária e por-se-á a observar o mundo proletário de cima do Estado e
não mais representará o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo;
quem duvida disso não conhece a natureza humana”.
O que
realmente espero é que as denúncias continuem e que sejam punidos tanto os da
esquerda como os da direita (pois esses últimos há muito tempo “deitam e rolam”
ao bel-prazer da mídia partidária), porque a corrupção não é privilégio do
brasileiro, como um dia um dos meus filhos, ainda pré-adolescente
equivocadamente repetiu “brasileiro nasce corrupto” (estávamos em plena era
FHC), frase que cansou de ouvir da boca dos “vira-latas complexados”.
Os militares
se vangloriam alegando que, graças a eles, impediram que o comunismo se
instalasse no Brasil. Essa visão equivocadamente maniqueísta, do bem
(capitalismo) contra o mal (socialismo/comunismo) é arcaica e antiquada, como
se o capitalismo não tivesse suas mazelas e seu lado selvagem e o comunismo não
pudesse ter nada promissor em sua concepção.
O comunismo
de Lênin nada tinha a ver com a ditadura comunista de Stálin, o fascismo da
direita de Mussolini deixou seus estragos e nem é preciso lembrar do nazismo de
Hitler, da ditadura de Franco na Espanha e de Pinochet no Chile, e ditadura por
ditadura a nossa (que os militares tanto se vangloriam) visava “torturar para
evitar torturas”, mas como era uma ditadura de direita... então era “a ditadura
do bem”??!! “um mal necessário (da direita) para evitar um outro mal (o da
esquerda)”??!! Não é um contrassenso???
O filósofo Benedito de Spinoza (antes apóstolo judeu que foi cruelmente excomungado por suas ideias revolucionárias) no seu livro “Ética” revela que “não há nada que saibamos com certeza ser bom ou mal, exceto aquilo que nos leve efetivamente a compreender ou que possa impedir que compreendamos”. O ótimo (e violento) filme “Uma outra história americana” (“American History X”) talvez seja um ótimo exemplo do futuro desse ódio infundado baseado em preconceitos e intolerâncias raciais, políticas, etc.
O filósofo Benedito de Spinoza (antes apóstolo judeu que foi cruelmente excomungado por suas ideias revolucionárias) no seu livro “Ética” revela que “não há nada que saibamos com certeza ser bom ou mal, exceto aquilo que nos leve efetivamente a compreender ou que possa impedir que compreendamos”. O ótimo (e violento) filme “Uma outra história americana” (“American History X”) talvez seja um ótimo exemplo do futuro desse ódio infundado baseado em preconceitos e intolerâncias raciais, políticas, etc.
Spinoza dizia não existir o bem e o
mal, mas o encontro de corpos é que vai gerar se será um encontro fortuito bem
sucedido ou mal sucedido, ou seja, o que é bom para um nem sempre o é para
outro, e isso vale para tudo na vida, tanto politicamente, emocionalmente,
profissionalmente e por aí vai... Assim um regime comunista pode ser bom para
uns e péssimo para outros e o mesmo pode-se dizer do capitalismo e por aí
vai... O que acredito é que, qualquer que seja o partido ou o regime político, aquele que conseguir diminuir as desigualdades sociais (responsáveis pelas demais mazelas) esse sim é o caminho certo a seguir.
Longe
de questionar ideologias ou levantar bandeiras, e diferente de Welles e Moore, é certo que grande parte dos cineastas não
têm nenhum compromisso com a política dos seus países, em geral apenas retratam o
cotidiano das cidades onde vivem. E assim, percebemos que todos os países, sem
exceção, qualquer que seja o regime de direita ou de esquerda, têm seus problemas sociais, políticos, etc.
Por
exemplo, no divertido filme “Melhor é impossível” (“As good as it gets”), o
diretor expõe a realidade do sistema de saúde do cidadão norte-americano,
quando a protagonista Helen Hunt fica encantada (e sua mãe tem um verdadeiro
ataque de riso, tal a incredulidade da mesma) diante do cartão de visita,
cedido pelo médico particular (contratado pelo seu pretendente, o “escritor”
Jack Nicholson), com o número do celular do doutor (uma cena rara na América)
para chamadas emergenciais, a qualquer tempo, para o seu filho asmático (como
médica, posso garantir que, aqui no Brasil, é muito comum um paciente ter
acesso ao celular, cedido pelo próprio médico, sem nenhum ônus para o paciente,
inclusive de um hospital público).
No
filme do espanhol Pedro Almodóvar “Abraços partidos” (“Los abrazos rotos”), o
pai inválido da protagonista Penélope Cruz é literalmente jogado nas ruas de
uma cidade espanhola e devolvido à família na porta do hospital, morrendo a
seguir em casa nos braços da protagonista. E ousam dizer que “isso só acontece
no Brasil”... Muito pelo contrário, trabalho em hospital público, e não é
incomum vermos pacientes inválidos literalmente morando anos a fio no hospital,
ou porque a família os abandonou ou não têm recursos para cuidados especiais
diários.
E para
reforçar esse tema “vira-lata complexado e maniqueísta do bem contra o mal”,
nada como o cinema para ilustrar. Assim “volto a Cannes”, como prometi, para
citar o vencedor da categoria de melhor ator deste ano, que foi para o francês
Vincent Lindon que interpreta um operário desempregado em “La Loi du marché” (A
lei do mercado”). O filme (provavelmente entrará para a corrida ao Oscar 2016) do diretor francês Jacques Audiard é um retrato cruel
das consequências do capitalismo, uma crítica ferrenha ao capitalismo selvagem,
mostrando como as engrenagens do sistema podem destruir a consciência e a
dignidade do ser humano.
O excelente filme alemão "Good bye,
Lênin" que começa no período que antecede a derrocada do regime comunista e
mostra como a unificação, com a queda do Muro de Berlim, mexeu com a vida dos
berlinenses. O filme conta a história de um jovem que se sente culpado do
choque que a mãe (uma fervorosa ativista e nacionalista da Alemanha Oriental) sofreu ao
vê-lo participar de uma passeata anti-socialista, a mãe fica em coma por
cerca de oito meses, tempo suficiente para acontecer a queda do muro e a
Alemanha comunista se adaptar ao capitalismo. Ao se recuperar do coma, para
poupar a frágil mãe, o filho resolve forjar a vitória da ideologia socialista,
como se nada tivesse mudado naqueles oito meses (para isso vamos assistir a uma
série de gags bem boladas e hilariantes, no meio do drama em si).
A grande sacada do filme é o questionamento que ele
nos remete, pois vinte anos após a queda do muro, muitos alemães que nasceram e
cresceram do lado leste (a antiga Berlim Oriental) sentem nostalgia dos
velhos tempos – a chamada
"ostalgie", nostalgia do leste comunista – o filme retrata isso muito bem, com
o filho tentando forjar os produtos típicos que sumiram das prateleiras
com a chegada dos “enlatados” americanos. Há pouco tempo o país, por puro saudosismo, voltou a
fabricar inclusive os velhos produtos pré-unificação (carros, refrigerantes, enlatados) e
até camisas T-shirts com o brasão da DDR (sigla do "país comunista extinto").
Mais uma vez, precisamos aceitar as diferenças e
deixar o maniqueísmo de lado, pois o que é bom para uns pode não ser assim
interpretado por outros e temos que ser tolerantes e respeitar o outro nas suas
escolhas, quaisquer que sejam elas. “Adeus, Lênin” mostra uma visão romântica e
saudosista de uma ideologia diferente da nossa, mas no fundo a mensagem que
fica é que, não importa se socialista, comunista ou capitalista, o que importa
é que, o que todos nós desejamos, sem exceção, um mundo melhor e mais feliz de se viver, sem ódios e sem intolerâncias.
No
documentário “Sicko: SOS Saúde”, o cineasta estadunidense Michael Moore com seu
humor ácido e irreverente (ao som da voz inconfundível do Cat Stevens cantando
"Don't be shy" ao fundo) discorre sobre os planos de saúde nos EUA e seus
auditores corruptos, e como nós médicos éticos somos reféns deles (qualquer
semelhança com os nossos planos e auditores é mera coincidência???) e compara,
de maneira realista, o sistema de saúde dos EUA com outros países como
Inglaterra, França e inclusive com o de Cuba (mostrando que, diferente do que chega até nós, os cubanos têm uma medicina diferenciada e de qualidade, o que nos remete à lembrança do vergonhoso papel dos brasileiros frente à chegada dos médicos cubanos ao Brasil, execrados pela nossa mídia partidária e corrompida).
“Enxergar
o caos no belo e a beleza no caos” – talvez seja esta a melhor maneira de nos sentirmos “cidadãos do mundo”, valorizando o que temos de bom dentro e fora do nosso
país e parar com a ilusão de que só “por aqui as coisas não funcionam”, que
aprendamos a valorizar o nosso querido Brasil, a reconhecer e resolver os
nossos problemas (acredito que a corrupção da mídia é o mais nocivo deles
porque impede que tomemos conhecimento das demais corrupções) e esqueçamos a
pecha de que somos inferiores e meros vira-latas. Ao contrário, nós temos sim
“pedigree” (ou “pied de grue” em francês).
E, para terminar (Ufa!!!) mais esse “compêndio” (rsrsrs), deixo um dos itens mais divertidos que o
francês Olivier Teboul percebeu nos brasileiros: “Aqui no Brasil todo é gay (ou
“viado”). Beber chá: é gay. Pedir uma coca zero: é gay. Jogar vôlei: é gay.
Beber vinho: é gay. Não gostar de futebol: é gay. Ser francês: é gay. Ser
gaúcho: é gay. Ser mineiro: é gay. Prestar atenção em como se vestir: é gay. Não
falar que algo é gay : também é gay” (uahuahuah, divertido e irreverente como brincadeira, com todo o respeito, óbvio).
E deixo, como ilustração final, o documentário “Complexo de vira-lata”,
de Leandro Caproni, que disseca esse sentimento de derrotismo, pessimismo e
inferioridade em vários setores da nossa sociedade brasileira (que espero ver um dia se findar).
Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")
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