✩ Campanha ❝O Voo de Diana❞ ✩ (1ª parte)

                                                                                                                                 Wagner Williams Ávlis*


 Foi para toda a Comunidade g+Quadrinhos que este tratado
 foi dedicado no ano de sua publicação (2013). 
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     Nessa parte, o tratado discorre sobre os hiper-saltos da Princesa Amazona, a habilidade que precedeu seu voo e que de certo modo fora uma tácita reprodução da habilidade que tinha o Superman na mesma década, os anos 1940. Discorre ainda a incongruência entre o traje da guerreira grega (muito mais american way) e a tradição helênica das roupas femininas. Destaque para uma teoria da autora que buscou explicar outra incongruência: a existência duma aeronave invisível num mundo isolado da tecnologia patriarcal e que era a símile das eras clássicas da Grécia antiga. Por fim é arrolada uma galeria de capas onde se prenunciava a possibilidade de um voo sem o jato invisível, com as habilidades gradativas chamadas "deslocamento suspenso" e "autoplanagem".


✩ Mulher-Maravilha e Seus Hiperssaltos de Início de Carreira

        William Moulton Marston não elaborou a Wonder pra voar como uma deusa – e arrisco dizer mais, tampouco pra refletir o modo de vida guerreira duma amazona grega! Apesar de não ser algo oficial, nós, leitoras veteranas e conservadoras, na experiência de leitura, postulamos que o aparato mítico-grego da Maravilhosa esteve vinculado à Ilha Paraíso Themyscira e deixado lá pra trás quando da saída de Diana pro mundo exterior patriarcal. Seu modo de vida amazônico deu lugar a uma simples idiossincrasia grega (expressa nas frases de efeito que aludem aos deuses). Por isso, em seu começo, não a vemos prestar culto a suas divindades, não a vemos treinando marcialidade fora de Themyscira, não a vemos conservando suas tradições e ritos, e a vemos permitir-se quebrar o voto de abstinência de sua confraria (ao noivar com Steve Trevor) e absorver, tímida, o modo americano de viver (por força disso, o nome “Mulher-Maravilha” mais suas traduções equívocas de “Miss América” ou “Supermulher” nada aludíveis à Grécia). O uniforme e a aeronave da heroína são pouco gregos ou mitológicos, pois na trama eles agem como elementos politizados: o uniforme tem cores e símbolos da nação estrangeira, e a aeronave é um fator de comparação com a aeronave de Steve Trevor, a fim de ser vista como representante duma civilização de igual tecnologia. Não era que Marston queria desprezar a fortuna grega (ele lia bastante os clássicos); apenas focar sua defesa no feminismo, não importando de qual procedência viera. Entretanto, a Mulher-Maravilha não era uma mulher comum; era uma semideusa “(...) linda como Afrodite, sábia como Atena, tão forte quanto Hércules e tão veloz quanto Mercúrio, vinda da Ilha Paraíso, onde as amazonas governam soberanas…” (Sensation Comics #01, 1942 - introd.), e por isso ela saltava, sobre-humanamente, a grandes léguas ou alturas. Tal trunfo era, na realidade, pra rivalizar com Superman de Jerry Siegel e Joe Shuster, que, à época, não voava também, só hiperssaltava (vocês sabiam disso, gente?). Ainda assim, Marston, desintencionado, abriu margens pra confusão do voo na lambança que futuros escritores, junto dum mercado imaturo, iriam aprontar.


✩ O Papel do Jato Invisível: Uma Teoria Minha

         O jatinho invisível de Diana é um resultado daquela imperícia das editoras emergentes na Era de Ouro. William Moulton Marston não se prendeu a explicá-lo, e, por consequência, o jato seguiu enigmático até o pós-Crise nas Infinitas Terras. Simplesmente ele não tem explicação definida ou razão de origem antes disso. Mas eu, através de 23 anos de leitura e coleção, teorizei algo referente e que encontra apoio em observações de roteiros, guia de quadrinhos, sites estrangeiros e fóruns de debate entre fãs. Não é consenso, mas é algo relativamente reconhecido. O jato invisível na pré-Crise é uma encarnação essencial de Pégaso, o unicórnio voador, espólio de guerra grego, e, portanto, item de Themyscira, e não o tal metal amazonium. O jato, diferente de qualquer outro, pode atravessar a atmosfera terrestre até o espaço sideral. Ele é invisível de modo relativo, pois pra Diana e pras demais amazonas ele é visível (alguém aí já viu Diana “errar” seu embarque? Ou as themysciranas não perceberem seu sobrevoo?); já pros mortais e outros seres o veículo é invisível. Se fosse puro metal geofísico bruto, o jato não atenderia ao comando de voz ou à telepatia de Diana, e careceria de combustível; isso não acontece porque o jato é orgânico, vívido, místico, é a essência mítica de Pegasus adestrado pras petições das amazonas, e, por isso mesmo, ele é destrutível. Não vou aqui dissertar sobre isso agora, mas se quiserem, noutra oportunidade, poderei fazê-lo, citando a fundamentação e as fontes. Quem quiser se antecipar em algumas poucas coisitas, pesquise sobre Sensation Comics #1 (1942), Wonder Woman #32-36 (1949), #43 (1950). Podem conferir algum fundamento num compacto da Mundo dos Super-Heróis#9 (“Mulher-Maravilha de A-Z”. Ed. Europa). O jato, a princípio, como bem citou VINÍCIUS MOIZINHO, servia pra atender a necessidade de voo da amazona, já que ela apenas hiperssaltava. 

Mais tarde, quando Diana passou a planar e a se deslocar em “correntes de ar”, o jato serviu de locomoção e bagageiro pra grandes distâncias. Na fase pós-Crise (John Byrne), o jato não é mais a essência de Pegasus; é um presente elemental transmórfico alienígena chamado “disco lansinar”, da raça lansinariana, e que pode assumir qualquer forma física – e aí o avião –, chegando até mesmo a se transformar, certa vez, numa redoma flutuante chamada “Domo Maravilha” (não publicada no Brasil, mas com rápidas aparições em DC 2000 #6 , 1990, ed. Abril; Superman & Batman # 5, “Ondas”, 2005, ed. Panini). Nesse último estágio, o jato tem mera função saudosista e ilustrativa, pois que aqui a heroína voa e pode transportar cargas em seu voo. Ficou mais libertário assim, concordam? Na atual série “Os Novos 52!”, o jato invisível nunca pertenceu a Mulher-Maravilha. Em vez disso, ele foi projetado pelo departamento de segurança nacional dos EUA, “ARGUS”, e serve como principal forma de transporte para Amanda Waller e Steve Trevor.

✩ A Mulher-Maravilha Dá Indícios de Que Pode Voar…

         Robert Kanigher e Denny O'Neil assumiram a responsabilidade de escrever as histórias após a morte de Marston em 1950 (este falece em 47). E, como eu disse no começo, na tentativa incontida de aperfeiçoarem a semideusa, vieram as lambanças! Um retcon que serviria mais tarde pra fundamentar a teoria da vulnerabilidade ao patriarcado, tiara-bumerangue, braceletes walk-talk, brincos que a permitiam respirar em ambientes no espaço, telepatia com animais (dada pela deusa da caça, Ártemis, e recuperada em Crise Infinita nos animais guiados por Diana a atacarem Superman manipulado por Maxwell Lord!), e, por fim, o deslocamento suspenso nas correntes de ar e a autoplanagem. Sim, galerinha, agora a Wonder podia dar hiperssaltos e com eles flutuar num ponto fixo ou se deslocar pra vários pontos através da corrente de ar. Sem essas correntes ela não planava, e mesmo assim dependia de sua aeronave, pois ainda não voava por si mesma. A ideia veio de O'Neil, que queria acrescentar mais tensão às cenas de ação que envolvessem confrontos aéreos ou espaciais mais a possibilidade (e a tensão) de Diana cair, se esborrachar no chão e morrer (no caso de falta de correntes de ar ou atraso do jato). Nessa época, a teoria da vulnerabilidade ao patriarcado rezava que Diana Prince perdeu a sua imortalidade amazônica quando deixou a ilha de Themyscira, por isso, a tensão na chance de ela morrer em queda-livre. A autoplanagem e o deslocamento suspenso durariam até 1968, quando Diana Prince “perdeu” em temporário as super-habilidades e virou agente secreta. As histórias de 2007 da Mulher-Maravilha na Panini, escritas por Allan Heinberg, aludem à essa fase "agente secreta Diana".
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WAGNER WILLIAMS ÁVLIS – crítico literário da Academia Maceioense de Letras (reg. O.N.E. ​nº 243), professor de Língua Portuguesa, articulista, historiador do Homem-Morcego.

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