Watchmen: O ser humano por trás do uniforme


Geralmente as pessoas quando saem de férias elas viajam, eu como sou baixa renda, fico em casa dormindo até tarde e lendo. Entre essas leituras, está uma das maiores (se não a maior) graphic novel de todos os tempos, Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons. Sempre ouvi falar de Watchmen, como foi um marco nas histórias em quadrinhos e tal, mas só pude botar as mãos nessa obra agora.

Watchmen foi lançado originalmente em 12 edições, entre 1986 e 1987, pela DC Comics, escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons, acabou se tornando numa das HQs mais influentes e ganhou diversos prêmios. Só para ter ideia da importância de Watchmen, ele foi considerado uma das cem melhores obras em língua inglesa de todos os tempos pela revista TIME. Junto de O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller e Maus de Art Spiegelman, mudaram a forma como as pessoas enxergavam as histórias em quadrinhos, antes consideradas "algo feito para crianças". Foram responsáveis por despertar o interesse do público adulto para os quadrinhos e ajudaram a popularizar o formato conhecido como graphic novel (romance visual).

Ao ler a HQ, a frase: “Quem vigia os vigilantes ?” é recorrente, sempre aparecendo, seja pichada num muro ou em cartazes, essas palavras denunciam a proposta da obra. Quando Alan Moore escreveu o roteiro tinha em mente a ideia de como a existência de heróis influenciaria a vida de todos. No mundo de Watchmen, heróis mascarados estão na ativa desde os anos 30, chegando até se organizarem num grupo chamado "Homens-Minuto". A trama não se passa exatamente no mundo aonde vivemos, mas numa realidade que teve sua história alterada justamente pela existência dos heróis. Por exemplo, aqui os EUA venceram a Guerra do Vietnã com a ajuda do Dr. Manhattan, mas a existência de um ser tão poderoso aumenta ainda mais a tensão com a URSS.


Somos apresentados a pessoas comuns por trás das máscaras, cada qual com seus dilemas, traumas de infância, sonhos e medos. Alan Moore tenta retratar como realmente seria se as pessoas convivessem com heróis mascarados combatendo criminosos, posando para revistas, dando entrevistas, etc. Os Homens-Minuto no começo eram bem aceitos, mas com o passar do tempo as pessoas começaram a perceber que conviver com pessoas que agem acima da Lei não é assim tão simples. A polícia fazia greves contra os vigilantes, até os bandidos começaram a deixar as clássicas atividades criminosas para investir em outras mais lucrativas (prostituição e tráfico de drogas), assim os problemas sociais começaram a ser os principais objetivos dos heróis.

Após a greve dos policiais em 1977 e a pressão popular, foi criada a Lei de Keene que exigia que todos os "aventureiros fantasiados" se registrassem no governo. A maioria dos vigilantes resolveu se aposentar, alguns revelando suas identidades secretas para faturar com a atenção da mídia, como no caso de Adrian Veidt, o Ozymandias. Outros, como Comediante e o Dr. Manhattan (o único com super poderes), continuaram a trabalhar sob a supervisão e o controle do governo. O vigilante conhecido como Rorschach, entretanto, passou a operar como um herói renegado e fora-da-lei, sendo frequentemente perseguido pela polícia.


A história se situa no ano de 1985, em pleno período da Guerra Fria, em meio a toda tensão entre os EUA e a União Soviética. O ponto de ignição da trama é o misterioso assassinato de Edward Blake, logo revelado como sendo a identidade civil do Comediante. Tal assassinato chama a atenção de Rorschach, que começa a investigar o crime entrando em contato com seus antigos companheiros em busca de pistas, considerando praticamente todos como possíveis suspeitos.

Um dos pontos mais discutidos quando se fala em Watchmen é a desconstrução do herói. Nas HQs sempre somos apresentados ao conceito de herói e vilão, no mundo real heroísmo ou bandidagem é uma simples questão de ponto de vista ou ocasião. Por exemplo, um soldado na guerra se destaca no combate e abate um grande número daqueles que, como ele, estão ali para matar em serviço de seu país, ele na visão de seus compatriotas é um herói, mas na visão das famílias que perderam seus entes queridos ele é um assassino.

O Comediante se encaixa bem nesse exemplo, ele não tem vergonha de ter tido ações tão corruptas quanto às de um policial que veste a farda, mas que nem por isso está fazendo a lei ser cumprida. Um herói do ponto de vista político, pois defendeu, à sua conveniência, interesses do seu país. Combateu criminosos da mesma forma que pode fazer um policial que recebe propina. Ele representa o contraditório e, mais uma vez o comparando com um oficial, é o exemplo mais claro de usar uma farda não faz da pessoa necessariamente correta ou cumpridora da lei. Por que no caso dos denominados “heróis” seria diferente ?


Por ter uma história tão complexa, Watchmen seria difícil de ser adaptada para o cinema certo ? pois é, em 2009 a obra de Alan Moore ganhou um filme pela Warner Bros. com direção do "visionário" Zack Snyder. Muitos fãs torceram o nariz para a adaptação, por ter mudado o final, mas eu tenho que admitir que foi melhor assim, HQ e filme são mídias completamente diferentes. Não contarei o final aqui, procurem ler a HQ e assistir o filme, depois tirem suas próprias conclusões. Um dos pontos positivos do filme é a trilha sonora, ela encaixa perfeitamente com as cena apresentadas, um exemplo é a música que toca no começo do filme, The Times They Are A Changin' de Bob Dylan, é fantástica.



Não tenho a intensão de contar tudo sobre a história com esse texto. Estas foram apenas algumas idéias que tive depois de ler Watchmen pela primeira vez. Tenho certeza que a experiência é diferente para cada um que lê. Como o próprio Alan Moore disse: “Watchmen foi feita para ser lida várias vezes”, pois segundo o autor existem muitos detalhes escondidos, muitas vezes passamos por um detalhe importante da história e só vamos perceber algumas páginas depois.

Watchmen pode ser encontrada facilmente em qualquer livraria, eu mesmo tenho a edição definitiva lançada aqui pela editora Panini e posso dizer que é linda. São 460 páginas com extras como trechos do roteiro original (que era para ser uma história envolvendo os heróis da Charlton Comics), comentários dos autores, esboços de Dave Gibbons, textos sobre os personagens, etc. Leitura obrigatória para todos, não só leitores de quadrinhos, mas para aqueles que procuram um enredo fantástico com referências filosóficas, históricas, políticas e personagens marcantes.

Lulu

I'm boring, no fun at all

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