Óbvio que ninguém está a favor das mortes bárbaras dos chargistas do jornal “Charlie Hebdo”, mas “je ne suis pas Charlie”. Vou contar uma história, com o cinema me acompanhando de perto, porque talvez assim eu me explique melhor porque “não sou Charlie”.
Certa vez, quando estive pela terceira vez, na Bahia, em pleno Pelourinho, no meio de todo aquele sincretismo religioso, me vi numa tremenda “saia justa”, ao confessar, para amigos, o “meu preconceito e o meu temor” que até hoje tenho em relação à macumba, compartilhando o mesmo sentimento com o comediante Leandro Hassum, em que ele ressalta, no seu texto humorístico, o mesmo “medo” (quase um “inconsciente coletivo”) que é disseminado entre muitos brasileiros.
Na ocasião do embate polêmico com amigos, não percebi que estava entrando num terreno “perigoso” – ou seja, discutir religião – na época, fui tentar explicar de onde vinha aquele meu “pavor”. Como sou descendente de portugueses, por parte de pai (apesar do “pé na senzala”, com muita honra, descendência da família de minha mãe), cresci num meio católico.
Antes de continuar, um adendo para uma breve história do país: a religião oficial no Brasil sempre foi o catolicismo, trazida pelos brancos de origem portuguesa, e de geração em geração, até os dias de hoje, ainda passa-se, para as crianças dessas famílias de descendentes portugueses, a “imagem do mal” vinculada à macumba.
O termo correto é candomblé, trazido pelos negros escravos africanos (macumba, na verdade, é o instrumento usado nas cerimônias religiosas afro-brasileiras, feito com madeira de uma árvore africana, de nome macumba), mas todas essas cerimônias no Brasil foram vulgarmente rotuladas como macumba.
Nos áureos tempos da monarquia, o candomblé era encarado como “bruxaria, coisas do mal”, e então proibido e reprimido pelas autoridades policiais da época, e o preconceito foi gerado também porque igrejas neopentecostais e alguns outros grupos cristãos consideravam profana a prática dessas religiões.
Os negros passaram então a cultuar suas divindades secretamente, e para disfarçar, as identificavam com os santos da religião católica, ou seja, quando rezavam em sua língua nativa para Santa Bárbara, na verdade estavam cultuando Iansã, e quando se dirigiam a Nossa Senhora estavam falando com Iemanjá, e por aí vai – e foi assim que surgiu o sincretismo religioso no Brasil.
Essas divindades africanas foram “trazidas” da mitologia Iorubá (um povo africano da região da Nigéria e adjacências). Depois do candomblé, já no início do século XX, surge a umbanda, uma mistura de práticas do candomblé com espiritismo e catolicismo.
E assim, voltei para casa, no Rio de Janeiro, com a cabeça “quente” por conta da discussão acalorada que se seguiu à minha sincera declaração de “temor e preconceito” com a macumba, porque a discussão se prolongou noite adentro, com os ânimos “algo” exaltados, porque acabei por “falar demais” (quem me conhece, sabe que adoro uma polêmica, rsrsrs).
O calor da discussão girou também em torno das minhas demais declarações, pois hoje acredito que “o homem, em qualquer parte do planeta, precisa da crença para se proteger do que lhe é desconhecido (os índios, por exemplo, temiam o trovão), e busca na religião uma maneira de se sentir imortal, pois o ser humano jamais aceitou ser finito, jamais aceitará a morte como ponto final de sua existência”.
E provoquei mais ainda, “anarquista” que sou, quando disse que tinha dúvidas se “Deus criou o homem ou se, ao contrário, o homem é quem criou Deus, buscando assim, de alguma forma, a imortalidade” (ninguém “voltou” até hoje para confirmar, mas quem há de contestar??). Nem mesmo um “replicante" quer ser finito, como vemos na bela cena antológica do final do filme de ficção científica dos anos 80, “Blade Runner, o caçador de andróides”...
Voltando ao meu “temor”– digo temor, entre aspas, porque não tenho medo algum dos tais rituais (sou totalmente descrente do “possível mal” que um “despacho de encruzilhada” possa me fazer, e que, defendem os “puritanos”, não fazem parte do candomblé original), mas não fico à vontade em ambientes sombrios, e tenho, infelizmente, preconceito enraizado desde a infância (apesar de atualmente saber infundado, e por isso tenho tentado me livrar disso, mas confesso, ainda não consegui).
Pois incutiram-me, na minha memória de menina, “o mal” nesses rituais (que hoje nem acredito), tanto que até hoje detesto as cores do Flamengo, vermelho e preto – e parece que as cores berrantes têm grande influência negativa sobre o nosso espírito emotivo, pois tais cores (vermelho e preto) parecem que contribuem para gerar na torcida flamenguista algo realmente macabro, pois são brigões e em geral desrespeitosos até com eles próprios.
Um adendo: claro que eu estou fantasiando em relação aos chatos flamenguistas (perdão, meus queridos amigos flamenguistas, mas não posso evitar a provocação, rsrsrs), mas as cores podem nos acalmar ou, ao contrário, nos agitar (pois alguém tem dúvida de qual será o ânimo de um bebê cujo quarto de dormir for todo pintado de vermelho e preto?).
Na verdade, essas cores me remetem experiências juvenis negativas, porque quando ainda menina, sem querer, me vi defronte de um desses locais de umbanda, totalmente lúgubre e sinistro aos olhos de uma criança, impregnado com cheiro de velas, tudo em preto e vermelho, e hoje sei que a imagem funesta que vi era Exú (vermelho e preto, com seu tridente), que não me pareceu uma imagem nada agradável (tive pesadelos naquela noite), principalmente na minha visão de criança já influenciada com os preconceitos dos adultos cristãos.
Confesso que, mesmo hoje, já ciente de que tal divindade africana é “guardiã dos lares contra inimigos”, continuo achando que não é uma boa visão aos olhos de uma criança (que parece com o “devil” do imaginário popular, ninguém pode negar), independente do que ela foi forçada ou não a acreditar, pois está no inconsciente coletivo, a criança chora ao ver uma imagem macabra de um ser vampiresco ou diabólico, mesmo em tenra idade, mesmo sem nenhuma influência ainda do meio em que vive.
Há pouco tempo li uma reportagem: “Cérebro: porque a idéia da vida após a morte não morre”. O texto revela: “Somos a única espécie com consciência da própria existência, mas o preço que pagamos por essa dádiva é a ansiedade de nos sabermos mortais. Talvez a ansiedade explique porque o além é paradisíaco”.
E a reportagem continuava: “A idéia da imortalidade ameniza essa ansiedade que, ao contrário, sem atenuantes, seria incapacitante. A espiritualidade nos dotou de um otimismo inato que, no plano psicológico, nos conforta e nos estimula a procriar, ajudando a preservar a espécie”.
E outra notícia relevante e alarmante, recente nos noticiários internacionais: ”Veto à cidadania de palestinos casados com israelitas divide Israel: trata-se de segurança ou racismo?” E a toda hora lê-se história de radicalismos, muitos deles associados a religiões, e agora o massacre dos jornalistas por extremistas radicais islâmicos, com o povo nas ruas exigindo liberdade de expressão, com os dizeres “Je suis Charlie”.
Se eu, por conta das minhas declarações, quase fui praticamente “crucificada” (numa roda de amigos e num país como o nosso Brasil, que convive razoavelmente bem com o sincretismo religioso), imagina o que o jornal “Charlie Hebdo” disseminou, com suas charges provocativas, desrespeitosas e polêmicas, na reclusa cultura islâmica.
Sei que, com esse meu texto, assim como gerou polêmica entre amigos, posso provocar reações e indignações da parte de adeptos das mais diversas religiões (e isto considerando o nosso país praticamente laico), mas mesmo assim, vou escrever o que penso, a partir da minha “peregrinação” pela Medicina (na teoria e na prática, médica que sou), pela Ciência (lendo Einstein, Carl Sagan, Stephen Hawking), pela Filosofia (lendo de Platão e Sócrates, passando por Nietzsche chegando a Sartre e Foucault), e claro, pelas Religiões (na teoria e, muitas delas, na prática).
Já ouvi “milagres” de pessoas que se disseram, por exemplo, livres de drogas ilícitas, por obra de “conversões” religiosas, ministrada tanto por católicos, protestantes, umbandistas, etc; mas também como médica, já ouvi relatos emocionados de ex-drogados que hoje estão “limpos”, graças a promessas que fizeram “a beira do leito de morte de algum ente querido”; outros decidiram largar o vício ao se depararem com “a beleza e a responsabilidade do nascimento de um filho”; outros conseguiram através de “simpatias”; outros foi a acupuntura; para outros veio com a terapia com profissionais psicólogos e psiquiatras; e por aí vai...
Enfim, o que posso concluir é que o movimento que o indivíduo faz para melhorar sua vida (seja ela profissional, mental, espiritual, etc) é o que realmente importa, e não o método (seja religioso, científico, médico, psicológico ou emocional) que o levou àquela busca pelo seu bem-estar.
E afinal, quem está com a “Verdade”? Os judeus que consideram Cristo um bom judeu, mas o “Salvador” ainda está por vir? Ou serão os católicos com sua Santíssima Trindade e os seus santos? Ou serão os evangélicos neo-pentecostais com a cobrança de seus dízimos como “prova de fé” e suas orações, “exorcizando demônios” dos seus fiéis? Ou será o Candomblé com suas rezas, “curas e despachos” nas encruzilhadas? Ou serão os Espíritas, que acreditam na “reencarnação” até chegar à purificação?
E o que será dos pobres dos índios? Serão banidos do “Paraíso” e condenados ao “Inferno”, por adorarem seu deus Tupã, e desconhecerem as diversas “Verdades” dos homens brancos? Nesta hora me lembro de uma sátira divertida do seriado humorístico “South Park”, quando quase todos se encontram no inferno, pois descobrem que a “Verdade” estava com os Mórmons, uma pequena comunidade religiosa com um número ínfimo de fiéis em todo o mundo (kkk).
Todos dizem agir “em nome de Deus, Criador do Universo”, e muitos se julgam “os donos da Verdade” e que as demais religiões (que não as deles) estão todas “condenadas ao inferno”. Mas como explicar “a Verdade” do presente que foi a “inverdade” do passado? Como explicar, por exemplo, as “Verdades” do passado daquele padre que largou a batina para assumir as “Verdades” dos batuques do Candomblé?
E o que dizer das “Verdades” do passado daquele pastor que largou seu rebanho, com seus dízimos e suas orações de excomungar demônios, para assumir a “Verdade” de uma paróquia católica com suas imagens de santos? (o bispo Edir Macedo é um deles, conheceu várias “Verdades” que passaram a “inverdades”... e alguém acredita na honestidade e integridade desse ser como religioso?)
E em nome da “Verdade” (que muitos “vomitam” estarem escritas em seus livros ditos “sagrados”), praticam-se barbaridades, como castração sexual em mulheres, apedrejamentos em praças públicas, guerras seculares entre judeus e palestinos, criam-se homens-bomba com “promessas do Paraíso” (o filme europeu “Paradise now” retrata a difícil escolha e o destino desses suicidas), poluem-se rios (ditos “sagrados”) na Índia, sem falar nas falcatruas como desvios de dinheiro de doação de fiéis e simulação de “curas” ludibriando pessoas humildes (eu já vivenciei vários casos de abandono de tratamento médico/psiquiátrico/psicológico por uma “cura” espiritual, com consequências dramáticas para os pacientes).
Não se rotula alemão como nazista, nem russo como comunista, nem italiano como fascista, mas judeus sempre são rotulados como sórdidos, muquiranas e indignos de confiança e muçulmanos sempre serão rotulados como extremistas e terroristas.
Ninguém barra um alemão na fronteira como nazista, nem um russo como comunista, muito menos um italiano como fascista, mas até o cantor americano Cat Stevens foi barrado, ao tentar entrar em seu próprio país, em 2004, apenas por ter se convertido em muçulmano (mudou o nome para Yusuf Islam), e foi incluído na “lista de vigilância” (sem constar nenhuma denúncia formal contra ele) do Departamento de Segurança Interna dos EUA.
Se você declara seu time ou não torce para nenhum, ninguém vai contra; se você não tem partido político, ninguém o condena; mas se você declara sua religião, dependendo do local e do preconceito vigente naquele contexto e, pior, se ao contrário, você se declara ateu, você pode perder um cargo político, uma eleição, e pode até ser linchado moralmente pela mídia, principalmente se for alguém de renome.
Assim, hoje acredito que o mundo estaria melhor se não houvesse religiões, toda a espécie de religião deveria ser “banida” da sociedade, pois considero um atraso da humanidade, pois acaba sempre levando a uma forma de dominação política, econômica, social e/ou cultural. Digo “banida” (entre aspas) não no sentido autoritário da palavra, mas a partir da conscientização (sei que ainda que utópica) da “apartheid” que ela provoca, segregando a humanidade.
Não sou contra a espiritualidade do ser humano, mas acho que a usamos mal nas religiões, com suas “pseudo verdades” que se proliferam pelo mundo. Poderíamos usar essa espiritualidade para cuidarmos melhor uns dos outros (e não só dos “irmãos da igreja”), cuidar melhor do planeta, das florestas, do meio-ambiente, como uma dádiva divina que recebemos e esquecemos de cuidar, pois estamos mais preocupados em nos trancafiar em templos, seguindo dogmas e supostas escrituras sagradas.
Hoje, depois de vagar por templos e leituras diversas, cheguei a compreensão (principalmente libertadora) de que podemos sim ser espiritualistas sem pertencer a nenhuma religião, e que a espiritualidade genuína não tem suas raízes assentadas na religião, mas na natureza humana em si mesma.
Deveríamos deixar os chamados “livros sagrados” no âmbito da literatura, como um relato da história de um povo. O afro-americano trouxe sua cultura para a música, e temos hoje o belo blues (o documentário de Martin Scorsese, intitulado “The Blues”, traz toda a história da origem africana desse belo gênero musical).
E os gregos trouxeram para a atualidade a história dos seus mitos e lendas (como por exemplo, a deusa do amor Afrodite e o deus Baco do vinho), que até hoje rendem belas histórias, em vários segmentos das diversas artes, inclusive no cinema (“Poderosa Afrodite” do renomado diretor Woody Allen é uma delas, com o inusitado coro de “tragédia grega”, tirando as dúvidas de “vida e morte” do abismado protagonista).
Assim, esqueceríamos o equivocado lado religioso desses livros, e então a Torah e o Talmude fariam parte da história e da cultura do povo judeu, a Bíblia seria a história do povo cristão, o Alcorão do povo árabe; e a mitologia Iorubá representaria o povo afro-brasileiro, trazendo o belo som contagiante dos tambores do Olodum, com o charme do balanço e da “performance” das mulheres na percussão, apenas para enriquecer a nossa música brasileira (assim como o “blues” enriqueceu a música americana).
Desvincularíamos assim todos esses tratados históricos (os ditos “livros sagrados”) dos rituais religiosos, pois infelizmente todos eles, sem exceção, têm separado os homens numa “apartheid” de crenças que só geraram guerras e inimizades, sem pé nem cabeça, de geração em geração.
No Brasil, a coisa ainda é considerada “light”, mas em nome da religião, guerras atravessam séculos, cristãos católicos versus protestantes, judeus versus palestinos muçulmanos, e agora o massacre dos chargistas franceses por radicais islâmicos.
Ou seja, para mim, o que fazem é uma lavagem cerebral incutindo-nos a idéia do pecado, do malévolo, do inferno, e vamos crescendo, sem pensar, como numa fila de “bois mandados”, cheios de medos e receios, conceitos e preconceitos deturpados (e os livros "sagrados" são recheados de preconceitos).
E muitos dos conceitos machistas, que perduram até os dias de hoje, têm origem e suporte nesses chamados “livros sagrados”, em que a mulher é sempre vista como um ser inferior, incompleto e incapaz, que deve ser sempre submissa ao homem (já que foi “gerada de uma parte do homem”).
O filme “Yentl” dirigido e estrelado por Barbra Streisand, escancara essa desigualdade e submissão no início do século XX, que infelizmente perdura em muitas culturas, até os dias de hoje, em pleno século XXI, apoiadas nos arcaicos livros sagrados (e, ao escrever esse texto, com muito orgulho, eu me sinto um pouco a Yentl – “rebelde, revolucionária e à frente do seu tempo” (como muitas vezes sou vista por amigos) – porque, tal qual a personagem, eu jamais abro mão dos meus sonhos, por nada e nem por ninguém.
O filme “Yentl” dirigido e estrelado por Barbra Streisand, escancara essa desigualdade e submissão no início do século XX, que infelizmente perdura em muitas culturas, até os dias de hoje, em pleno século XXI, apoiadas nos arcaicos livros sagrados (e, ao escrever esse texto, com muito orgulho, eu me sinto um pouco a Yentl – “rebelde, revolucionária e à frente do seu tempo” (como muitas vezes sou vista por amigos) – porque, tal qual a personagem, eu jamais abro mão dos meus sonhos, por nada e nem por ninguém.
E isso é visto em praticamente todas as religiões que, com seus rituais criam temores nos seus seguidores, cobrando dízimos como ato de fé e reconhecimento da devolução do que “pertence a Deus”, incutindo idéias de “céu e inferno” e de uma “Terra prometida” (que, no Torah judaico pertence aos judeus, mas no Corão de Maomé pertence ao povo árabe muçulmano) e por conta disso, até os dias de hoje, netos, bisnetos e tataranetos de famílias judaicas da atual Israel não conseguem entender por que têm que odiar os meninos refugiados islâmicos que vivem a menos de quinze minutos de suas casas, e vice-versa.
O belo e comovente documentário israelense “Promessas de um novo mundo” (título original “Promises”), dirigido por um judeu não ortodoxo, vai a fundo nessa “lavagem cerebral” de sete crianças judias e palestinas, que contam suas experiências (e desesperanças) numa guerra eterna pela famigerada “Terra prometida”, nos arredores de Israel.
Spinoza (antes Baruch e posteriormente Bento, ou Benedito de Spinoza) foi um dos grandes racionalistas da chamada Filosofia Moderna, que viveu no século XVII, um judeu nascido em Amsterdã, considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
O filósofo conhecia a fundo os escritos da Bíblia, do Talmude e de vários escritos judeus, além de ter dedicado parte da sua vida aos estudos de grandes filósofos como Platão, Sócrates, Aristóteles e outros grandes sábios da Antiguidade.
Como todos os que se opõem aos chamados “livros sagrados”, Spinoza foi excomungado da Sinagoga como herege, por causa dos seus postulados a respeito de Deus, pois defendia que Deus e a Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, e que “a Bíblia nada mais era que uma obra metafórico-alegórica que não se prestava a uma leitura racional e que não exprimia a verdade sobre Deus”.
Einstein, o renomado cientista do século XX, quando perguntado se acreditava em Deus, disse: “Acredito no Deus descrito por Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe”. O documentário “Spinoza: o apóstolo da razão” conta a vida do filósofo renascentista que desafiou a Igreja do século XVII com suas idéias iconoclastas, propondo a separação entre religião e filosofia.
Uma das várias frases que Spinoza escreveu sobre Deus, ainda no século XVII: “Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver Comigo. Se não podes Me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de teus amigos, de teus filhos... não Me encontrarás em nenhum livro! Procura-Me dentro de ti... aí é que Eu estou”.
E, que eu saiba, Jesus Cristo não fundou nenhuma religião, nem mesmo deixou nada escrito (nem mesmo o “Novo testamento”), ao contrário, como bem disse o escritor francês Andre Malraux, “Cristo foi o único anarquista que teve êxito” (e na verdade não teve tanto êxito assim, pois foi crucificado exatamente porque era contra as barbaridades que havia no “Antigo Testamento”) e apenas deixou uma mensagem de amor, paz e fraternidade entre os seres humanos (e o mesmo fez Confúcio, Maomé e Sidarta Gautama, o Buda).
E, que eu saiba, Jesus Cristo não fundou nenhuma religião, nem mesmo deixou nada escrito (nem mesmo o “Novo testamento”), ao contrário, como bem disse o escritor francês Andre Malraux, “Cristo foi o único anarquista que teve êxito” (e na verdade não teve tanto êxito assim, pois foi crucificado exatamente porque era contra as barbaridades que havia no “Antigo Testamento”) e apenas deixou uma mensagem de amor, paz e fraternidade entre os seres humanos (e o mesmo fez Confúcio, Maomé e Sidarta Gautama, o Buda).
Enquanto acreditarmos nessas “verdades” regidas por livros históricos equivocadamente considerados “sagrados”, continuaremos a ter massacres de todos os lados, por isso “não sou Charlie”, porque enquanto isto não estiver muito bem sedimentado (como livros históricos não sagrados), mundialmente, em toda a sociedade, haverá de haver sempre graves conflitos e discórdias como há séculos nos defrontamos.
Acredito que isso pode ser conseguido paulatinamente tanto com o humor irreverente do Leandro Hassum ou o do “South Park”, como também com os documentários referidos no texto, que nos fazem refletir sobre o quanto somos “bois mandados”, sem necessidade de apelar para as ofensas e o desrespeito dos chargistas do “Charlie”.
E acredite, se Jesus Cristo estivesse ainda entre nós, e se se deparasse com os diversos conflitos e com as inúmeras intolerâncias religiosas da humanidade, repetiria a sua célebre frase: “Perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”.
Acredito que isso pode ser conseguido paulatinamente tanto com o humor irreverente do Leandro Hassum ou o do “South Park”, como também com os documentários referidos no texto, que nos fazem refletir sobre o quanto somos “bois mandados”, sem necessidade de apelar para as ofensas e o desrespeito dos chargistas do “Charlie”.
E acredite, se Jesus Cristo estivesse ainda entre nós, e se se deparasse com os diversos conflitos e com as inúmeras intolerâncias religiosas da humanidade, repetiria a sua célebre frase: “Perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”.
E termino com a escritora e filósofa Márcia Tiburi sobre como nós, seres humanos, somos efêmeros (e como detestamos ter ciência disso), texto que ela escreveu após ter assistido a peça teatral francesa “Os efêmeros”, uma colcha de retalhos sobre os pequenos momentos que podem tomar proporções gigantescas nas nossas vidas.
“Os efêmeros só esperam que os ajudemos a atravessar a Grande Vertigem, sempre à espera do grande Contentamento Invisível”: no espetáculo, todas as histórias, de alguma forma, sempre remetem a um fim – o fim de um relacionamento, de uma ilusão, de uma era – e enfim, nos remetem ao nosso fim, à fatídica finitude de todo ser humano (“os efêmeros, os efêmeros, os efêmeros... os efêmeros somos nós”).
Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")
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