▕ Wagner Williams Ávlis*
─── Um Morcego Diante de um Faraó ───
Recentemente fui chamado pelo presidente deste espaço – e não é o sr. F., que é somente um CEO –, o sr. Adrian Veidt, para dar uma entrevista a ele sobre quem sou e o que faço aqui, um assunto tardio, protelado há tempos devido ao inacesso a sua autarquia, sempre com a agenda cheia, cercado de gente importante. Sua Exª., diante do seu trono, inclinou-se para mim, voltou seu olhar para este indigente e me intimou à acareação. O rol de suas perguntas se justifica em vista de saber quem trabalha para ele, do que estão a fazer com seu nome web afora, poder-se-ia resumir-se em duas grandes questões ontológicas: "quem é você e o que fará para os outros?". Aproveitei a oportunidade para expor meu pensamento sobre como encaro a nona arte, como lido com ela, qual o meu objetivo aqui no blog, como a vejo para um Brasil no futuro, e aqui deixo a transliteração de quase uma hora de perguntas e respostas, que totalizou 15 questões, as quais mais pareciam um desafio do que uma enquete. Apesar disso, foi um momento humanístico, com alguma descontração e muita provocação inteligente. No final das contas, gostei. Confiram, então, como sobrevivi ao faraônico sr. Adrian Veidt, o Ozymandias de Watchmen.
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► Essa entrevista é uma peça de ficção minha feita como uma oportunidade a que me dou para que os colegas de equipe e os seguidores deste blog Ozymandias Realista possam, enfim, me conhecer, se inteirar da minha forma de pensar os quadrinhos, sobre meu trabalho com a crítica quadrinística, o que é ela, e sairmos um pouco do distanciamento do anonimato.
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Entrevista com o presidente da holding Ozymandias Realista℠, Sua Exª, o sr. Adrian Veidt
(4ª feira, 23 de agosto de 2017, às 07h. Duração: 15 perguntas, 00:50min.)
Adrian Veidt: 1. “Certo, seja bem-vindo. Comecemos... Quem você é, o que veio fazer aqui e o que pretende?”
Wagner Williams: Um zé-ninguém dos subúrbios. Um ser recessivo, um macho gama, lançado no meio da rascante disputa por sobrevivência em meio ao darwinismo social das metrópoles. Um iludido pelo afeto à língua portuguesa, que acha que é “escritor” e que nessa ilusão se jubila. Na vera, não sei o que vim fazer aqui, me chamaram pra cá – e nem mais lembro como! – e eu vim; sei que curto estar aqui. O que vim fazer aqui, se merda nenhuma, se pouca bosta ou “grandes coisa”, é coisa que o povo haverá de responder, não eu. É. No final das contas, a resposta é sempre dos leitores mesmo. O que pretendo? Deixe-me pensar... O que pretendo... Hum! Que tal: dar alguma utilidade menos egoísta ao que leio nos gibis e nos livros?
AV: 2. “Razoável. Agora me diga: para quê o sr. traz consigo toda essa ênfase em gibis? Consta que o sr. é professor de gramática, de literaturas, nada mais lógico, portanto, esperar que promovesse a erudição das letras, aspirar a seu romance autoral, como tantos pretendentes a escritores fazem nisso a que chamam de Youtube e Blogger. Mas, gibis? Por que acha que o mundo globalizatório quer saber sobre Maurício de Souza e Jack Kirby quando poderia estar aprendendo sobre William Faulkner, James Joice e Virginia Woolf?”
WW: Porque, em sentido técnico, Maurício de Souza/Jack Kirby possuem a mesma importância que William Faulkner, James Joice e Virginia Woolf; os 5 são artistas da comunicação ficcional, suas obras são imorredouras, ultracriativas, influenciam costumes, gerações, diversos públicos. A diferença entre suas produções é que um segmento (a Literatura) tem mais prestígio do que o outro (os quadrinhos) porque bem mais antigo e por ter nascido entre os nobres. Mas, grosso modo, Literatura e quadrinhos são expressões artísticas de mesma monta. Eu levanto a bandeira pros gibis porque acho que “o mundo globalizatório” já privilegia demais a arte literária, e acresço que sabe melhor sobre os nobéis da Literatura do que qualquer obra quadrinística, para isso existem as faculdades de letras, as academias de letras, um sem número de jornais e revistas que trazem a crítica livresca, a TV, os sites. O indivíduo mais leigo já ouviu falar em Romeu & Julieta e de seu Shakespeare, de Camões ou Vinícius de Moraes, além das variadas fábulas de cor e salteado, porém o mais leigo dos brasileiros não faz ideia do que seja Maus, Ao Coração da Tempestade, quem foi Will Eisner, Jack Kirby, o que é nanquim ou enquadramento. Pros nossos conterrâneos, gibi é, no mínimo, coisa de criança, no máximo, um passatempo fútil de quem não tem o que fazer. Ponho minha experiência de leitura, colecionismo, formação acadêmica em prol de uma educação artística dos quadrinhos por estar ciente de tal carência, não estou nem aí pra ocupar fileiras de amadores querendo publicar romances; de romances amadores o mercado está saturado, de trabalhos e pesquisas que esclareçam o que é gibi, o que há é escassez, fazendo com que a arte quadrinística permaneça refém do obscurantismo preconceituoso. Parece que pretender hoje ser escritor é querer fazer romance ou poesia, enquanto o trabalho teórico, de pesquisa, de análise não pertence mais ao ser escritor, e esse senso desencoraja a termos escritores teóricos ou críticos. Vendo tudo isso, no meu entender, o mundo precisa mais de Maurício e Kirby do que dos nobéis literatos.
AV: 3. “Então posso deduzir que o cavalheiro defende que as revistas em quadrinhos têm o mesmo valor artístico que as demais estéticas: a música, a dança, a pintura, a escultura, a arquitetura, a literatura, o cinema e a fotografia? Pode explicar isso melhor?”
WW: Sim. Tanto é que os quadrinhos – a arte sequencial – são chamados de “nona arte”, justamente por vir depois da fotografia naquela lista, têm o mesmo valor, nível de laboração, arsenal técnico, arcabouço teórico, inventividade e raio de influência; só não têm a mesma utilidade porque cada expressão atende a diferentes fins. Destaco mais. Os quadrinhos são uma fusão de técnicas tomadas de empréstimo das demais artes que lidam com imagem e texto, razão por que são classificados como uma linguagem mista – união entre linguagem verbal e não verbal. Essas artes emprestadas são: da imagem = a pintura, a arquitetura, a fotografia, o cinema, e servem como corpus para o exame dos desenhos e da colorização; do texto = a literatura, que serve como corpus para o exame do roteiro. Isso significa que para se analisar em formal uma história em quadrinho qualquer pessoa versada em alguma daquelas artes pode debruçar-se sobre a obra; inversamente, se alguém nada sabe acerca daquelas artes e aprendeu a analisar quadrinhos, de modo inconsciente, aprendeu diversos conceitos das artes que nunca tivera contato. Os quadrinhos são assim, em nível técnico, um hipertexto transdisciplinar, uma arte que encaminha para outras artes e outros saberes, razão por que é possível, inclusive, aprender lendo gibis História, Física, Filosofia, Sociologia, religião, ciências, política, ética. Sendo assim, como qualquer objeto artístico na cultura humana, o quadrinho possui dois valores intrínsecos, um interno e outro externo, e pode ser criticado (no sentido de análise) através de qualquer deles ou de ambos. O valor interno é o valor imanente da obra, diz respeito a sua estrutura de elaboração técnica, composicional, que se dará com o auxílio daquelas artes clássicas que mencionamos (pintura, fotografia, literatura...); o valor externo é o valor transcendente da obra, que tem a ver com o que ela discute e provoca na sociedade, no público, nos sistemas de valor, que se dará pelo auxílio daqueles mencionados conhecimentos de mundo (política, ciências, ética). Mesmo os quadrinhos tomando de empréstimos corpus outros, eles constituem uma arte autônoma, independente, com recursos, técnicas e saberes próprios que também cabe ao crítico identificar, mas que, nem com toda essa sua autonomia, a obra em quadrinhos, como todas as outras obras de arte, não ganha sentido por si só, mas é construída e significada pelo artista e pelo público, cada qual com seu conhecimento prévio, visão de mundo, experiência de vida, saber acumulado; é que uma história em quadrinhos não é feita por um indivíduo, é feita pela cultura que antecede e forma os indivíduos. O que me proponho a fazer é fazer com que a nona arte seja reconhecida como arte que é, intelectiva, criativa, de prestígio, respeitável, formadora, que proporciona a contemplação da estética, do belo, do justo, do bem, da verdade, da reflexão, que provoca o êxtase, o sublime, o bem-estar, a catarse, como todas as outras artes são e fazem.
AV: 4. “Esclareça para mim e para quem lhe lê: você é o quê, finalmente, nessa relação com as HQs? Um poser, admirador, fã, consumidor, colecionador, leitor, quadrinista, resenhista, historiador, pesquisador, teórico, crítico? Eu estaria errado se dissesse que o sr. reprova a condição dos quadrinhos como produto de consumo de massa?”
WW: Estaria. Pra mim, quanto mais os gibis se massificarem melhor; quanto mais consumidos, melhor! Espero ao chegar em meus 88 anos os quadrinhos sejam tão populares quanto à telenovela, o futebol, com preços e canais de obtenção acessíveis, pois o viés educativo que eles possuem é algo de que nosso país muito necessita. Já é mais do que sabido que toda massificação acarreta problemas de outras ordens, um deles é a idiotização (a queda da qualidade do público e do artista), só que em matéria de prática de leitura, creio ser um risco que vale a pena correr. Melhor menos pior é ter uma margem de idiotas, como os haters, de tanto ler coisas rasas do que ter idiotas que nada leem, mas se comportam como se lessem, se bem que não sei qual das duas categorias idiotas é a mais perigosa para a ordem social. O meu grande incômodo é, em verdade, não os quadrinhos terem se tornado produtos de consumo de massa, e sim a sensação de que muitos dos que os consomem olham para eles somente como produtos de consumo de massa e não como obra de arte; consomem pelo prazer de dizer que comprou e ter (mas não lê, apenas acumula), pra enfeitar a estante com lombadas ilustradas, pra exibi-los no Youtube ao estilo unboxing, para fazer pretensas “críticas” que são, na realidade, resumos do que já está posto, do que se pode constatar ao ler, o que redunda, no fim das contas, no reforço da ideia de gibi como coisa fútil. É como se uma dondoca, querendo chamar a atenção pra si, comprasse um punhado de jóias por modismo e fosse exibi-las na sua festa particular; em vez de destrinchar pros seus convidados o tipo de pedraria, a composição química dos minerais, o trabalho artesanal do ourives, a procedência das pedras, sua importância para a cultura mundial, a dondoca somente descreve o óbvio, aquilo que todo mundo pode ver, a beleza das pedras, ficando no puro exibicionismo ou na superficialidade, aí as joias perdem seu status de obra de arte pra se reduzir a acessório. Têm-se aí dois desencontros: 1) a dondoca não faz questão de aprender conceitos de mineração e ourivesaria, 2) a jóia não é um mero acessório, é um trabalho artístico o qual a dondoca ignora. É dessa forma que vejo essa nova leva de compradores de encadernados de luxo. Mas o problema não é do gibi e da sua massificação, é do leitor e da sua formação.
Bom..., eu me considero tudo isso aí (exceto “poser”, rsrs!) – “admirador, fã, consumidor, colecionador, leitor, quadrinista, resenhista, historiador, pesquisador, teórico, crítico” ainda em fase púbere. Será que afirmar isso é tão megalômano quanto suas ambições, sr. Adrian? Hahahaha!! Mas, sério... Arrisco até dizer que essa é a tendência e algo para o qual todo leitor apaixonado está inclinado. Ninguém precisa ter especialização em crítica de arte para fazer suas ponderações mais profundas sobre o objeto lido, basta ler com amor e amar ler, o resto vem por acréscimo.
AV: 5. “Rsrs! [...] Acredite, minhas ambições são muito maiores do que tudo isso aí que listou. Na realidade não é que elas sejam ‘maiores’, é que o senso comum de vocês é que é raso demais para alcançá-las, por isso precisam recorrer ao termo ‘megalômano’ para tudo o que é grande demais para um entendimento pequeno. Mas, voltando à entrevista, para ti, existe diferença entre consumidor e colecionador de quadrinhos, sr.W?”
WW: Existe. Pra mim, comprar revistas mensais em banca ou tudo o que for novidade que o mercado editorial lança não é colecionismo, é consumo. Adquirir também apenas o que está na moda não é colecionar, é consumir. Entretanto, adquirir somente material antigo está mais pruma nostalgia, um saudosismo que venera o passado em detrimento do presente e do futuro, e isso, pra mim, não é colecionismo também. Colecionar tem a ver com garimpo e pesquisa, suor, gasto direcionado e trabalho; é traçar planos de busca por edição perdida, faltante, rara, histórica, não perder de vista algo que é novidade e que vale a pena acompanhar, é ser seletivo com o que está sendo publicado, é completar a coleção desfalcada sem prejudicar o que já esteja acompanhando de atual; colecionar é fazer o registro físico ou digital, é ler e arquivar pra futuras consultas, é frequentar sebos, e-commerce, trocar informações com grupos de colecionadores, aprender sobre o passado e não ficar bitolado ou endeusando o contemporâneo sob o pretexto de que “os gibis antigos eram bestas, os atuais são realistas, mais sofisticados” – e vice-versa, isto é, o endeusamento do passado. Por fim, colecionar é, acima de tudo, conhecer o objeto colecionado e dar uma finalidade útil a ele. Um colecionador que não se presta a isso não é um colecionador, é um acumulador de objetos com um fim em si mesmo, um “cara” ou uma “mina” com TOC. Há quem goste de colecionar só o que é antigo de um personagem, desprezando o contemporâneo, isso é uma questão de gosto; se essa pessoa privilegia o antigo sem preconceitos com o atual (mesmo não o colecionando), se presta ao garimpo – afinal achar o que é antigo é incomparavelmente mais trabalhoso do que acompanhar o recente – e à pesquisa, essa pessoa é sim uma colecionadora, saudosista, mas colecionadora.
Para o nosso entrevistado, o conceito de colecionismo está para além da acumulação de itens ou do seu exibicionismo. |
AV: 6. “‘Os gibis antigos eram bestas, os atuais são realistas, mais sofisticados’. Li que, certa feita, o sr. tentou esclarecer a diferença entre realidade e realismo na cultura pop, e explicar por que essa obsessão de muitos leitores pelo que é ‘realista’ nos quadrinhos. Perdão a franqueza, mas não entendi nada daquela sua explicação”.
WW: Tudo bem. Só fiquei preocupado porque, se eu não fui compreendido por uma das melhores inteligências do Ocidente, a sua, significa que não fui entendido por nenhuma outra inteligência... (<Risos conjuntos>). Mas tudo bem, rsrs! Que o Fábio lá, o CEO do blog Ozymandias Realista, onde publiquei a explicação, me perdoe. Vejamos. Realidade, o real, é essa nossa condição física limitada de estar no mundo, onde as coisas tendem a dar errado, a falhar, onde o acaso possui mais força do que o plano, o sofrimento e o mal são mais constantes do que a alegria e o bem, em que a lógica impõe regras de casualidade. Já realismo é uma estética artística, uma forma de se fazer arte com uma vaga simulação do real, um real construído pra dentro da ficção onde as coisas acontecem com algum desígnio (o do autor); é um real que se pretende ser como a realidade é, mas que nunca será, pois é, essencialmente, uma ficção que quer aparentar não ser ficção. As coisas no realismo são todas plausíveis de acontecer no mundo real – chama-se essa plausibilidade de “verossimilhança”–, mas que, em condições reais/normais são improváveis de acontecer, como uma família ser molecularmente modificada por radiação cósmica; entretanto os conflitos que essa super família venha a ter são plausíveis, porque podem ser conflitos que muitas famílias no mundo real vivem. Quando o artista funde a ficção com essa plausibilidade do real (verossimilhança), a gente denomina isso de algo “realista” (ou verossímil), pois ele torna aquela ficção mais convincente (ou menos fantasiosa). Só que, no uso popular, o termo “realista” passou a ser usado indiscriminadamente para designar algo ou alguém que se foca na dura realidade que o cerca, numa espécie de contraste entre idealista (sonhador) e realista (“pés no chão”). A partir disso, as novas gerações de público que desconhecem o realismo artístico, supondo que o termo “realista” é o que designa o real, a realidade que nos ronda, começaram a perseguir esse cobiçado real nas peças de ficção, fazendo desse conceito um termômetro de medição do que é bom ou ruim em arte: quanto mais “real” melhor; quanto menos real, pior. Todavia, isso está resultando num efeito negativo na literariedade de um super-herói, por exemplo. No afã de diminuir cada vez mais o elemento mágico-fantasioso do super-herói pra adequá-lo aos padrões “reais” do exigido “realismo” da moda, o super-herói está deixando de ser super, tomando formas de um herói genérico como um policial, um bombeiro ou um justiceiro. Essa constatação é visível desde a tácita perda de uniformes, passando pela redução de habilidades, a uma dualidade em seu sistema ético de fazer acontecer a justiça. Será que agora me fiz entender ou só compliquei mais? Hahahaha!!
(<Risos conjuntos>).
AV: 7. “Rsrs! Creio que melhorou. Com o perdão da franqueza ainda, sua fala ficou mais clara do que seu artigo... Quero ainda lhe provocar. Se é leitor de quadrinhos há tanto tempo – e daí suponho que seu arco de leituras é vasto –, por que só falar de Batman quando mais de mil personagens de HQs estão vindo à tona na assim alcunhada ‘apoteótica moda nerd’? Porventura o sr. é um fanático alienado por um personagem ou reconhece que não tem gabarito para deambular por outras editoras, gêneros, super-heróis?”
WW: Aprecio essa sua sinceridade no perguntar, sr. Adri...
AV: (<Interrompendo>) “E eu a sua em responder. Prossiga”.
WW: [...] Ok. Lisonjeado. Não, não me vejo como um alienado, mas também não sou eclético. Nem todos os gêneros quadrinísticos me capturam a atenção, como é o caso do mangá, visto por mim como simplista no enredo e no traço, com peripécias infantis; conto nos dedos as pouquíssimas HQs nipônicas de que gostei. Dois gêneros que aprecio bastante e que gostaria de ter mais acesso são o fummeti e o cartum; ao primeiro tive acesso pela Bonelli, ao segundo tive acesso por uma sorte de títulos, de Mafalda a Peanuts, Calvin e Haroldo, etc. Sobre enfocar meus apontamentos somente no Batman, é que é o seguinte: primeiro, eu não disponho de tempo pra me dar ao luxo de discorrer sobre tudo o que leio, sobre os super-heróis que ocupam minha estante, e olhe que, trabalhisticamente falando, já tenho de dar conta de uma massa de textos inacabável ano a ano. Segundo, como sou fã do Homem-Morcego e o tenho por predileto entre todos os heróis de nanquim, quis rendê-lo um tributo por tudo o que minha experiência de leitura com ele me rendeu, dando-o uma fortuna crítica à altura, não de tudo o que saiu dele, mas de tudo o que dele tenho. Terceiro, não só de morcego vive esse quiroptólogo. Muitas vezes eu uso a figura do Batman como um pretexto, como uma isca, para discutir assuntos teóricos sobre arte sequencial. Esta entrevista é mais uma dessas iscas.
AV: “Não há novidade alguma em dizer que muito do Batman se identifica comigo, não é? Nutro uma especial empatia por ele e o acho, sobremodo, mais parecido comigo do que com o Dreiberg – ora, só por causa daquele estrambótico traje coruja?...”
WW: (<Interrompendo>) Não só por isso, né?! Faltou mencionar a inteligência, a tecnologia...
AV: 8. (<Interrompendo>) “Sim, sim... Mas isso eu tenho de sobra e posso bem mais, muito mais do que ele, presumo que saiba, sim? Bem, não vamos ficar aqui trocando o óbvio pelo absurdo, não é? A pergunta que não quer calar é: o sr. não acha que já se tem por aí, aos montes, muita coisa dita sobre o Batman? Para quê falar mais, para quê só mais um dentre tantos outros dizeres, e o que você tem a dizer a respeito que já não tenham dito?”
Wagner Wiliams: "Uso a figura do Batman como pretexto, como 'isca', para discutir assuntos teóricos sobre arte sequencial". |
WW: Ótima pergunta. A abundância de dizeres segue o encalço de todo tema rico em discussão, Batman é só mais um deles devido a sua forte popularidade e pelo que ele inspira. Desde tempos remotos, no campo das ideias, muito se fala sobre Deus, o amor, a verdade, a igualdade, e no entanto esses temas não se saturam nem se exaurem, estão sempre em alta, cada vez mais interessantes, tudo depende da abordagem. É assim que encaro falar sobre meu personagem favorito. Agora, cumpre ressalvar que não é um falar por falar, como falam os fanboys nos fóruns e a imprensa “especializada” nos sites. O meu falar é um falar problematizador, abstraente e estético, que não vê o Batman propriamente dito, vê o procedimento técnico-artístico que as equipes criativas dispuseram pra dar vida ao Batman. Em breves termos, eu falo sobre o fazer artístico com o Batman e não sobre o Batman, creio ser esse o meu diferencial.
WW: Entra desempenhando duas funções: um catalisador de informações que obtive lendo o Detetive Mascarado, com minha formação acadêmica, e como um canal de difusão dessas informações. Começou bem despretensioso – e no fundo, por enquanto, permanece despretensioso – dentro de uma comunidade sobre quadrinhos, depois foi consignado numa coleção do Google+, a partir daí se distendeu por blogs e ensaios no prelo. O objetivo inicial era somente comentar minhas impressões de leitura sobre meu acervo do Vigilante de Gotham. Foi aí, vi que praticamente todo mundo fazia isso desde os tempos do Orkut, agora no Youtube, então mudei o direcionamento a fim de me distinguir da massa, fazendo, a um só tempo, o enaltecimento da nona arte como arte de respeito, e uma séria fortuna crítica do Batman no nível da crítica literária acadêmica. Portanto, a Batman Antologias não é uma galeria de fotos do Batman ou um tipo de depósito de diário de leitura, é, com efeito, um arquivo historiográfico e de análises críticas da biografia do personagem através de suas HQs – as antologias. Deixo pro amanhã dizer se tudo isso se transformará num tipo de tomo, inédito nas editoras nacionais, de teoria sobre quadrinhos e de ensaios analíticos do Cavaleiro das Trevas.
AV: 10. “Com intenções dessa escala, é natural que estivesse em mídias de maior evidência, como o Facebook e o Youtube, por exemplo, e isso favoreceria, e muito!, seu objetivo de difusão do conteúdo. Mas já deduzi que, se até hoje o sr. não está lá, é porque é averso a elas... É o vício de não se diluir na massa, estou certo? ”
WW: Rsrsr! Certíssimo. Não vi ainda um motivo convincente pra me manter lá. O que tem de populoso tem de mediocridade.
AV: 11. “Você já ouviu ou leu de alguém que a linguagem que utiliza em suas críticas é rebuscada e que não combina com o linguajar ‘cool’ da cultura pop? A meu ver, seus trabalhos realmente parecem deslocados desse universo mais despojado, beirando o academicismo. Se há um público leitor que, como o sr. dissera, é mais superficial na apreciação das HQs, como supõe que esse mesmo público se atraia por uma exposição sobre HQs com rebuscamento, rodapés de página? Isso mais parece um enxugar gelo de sua parte...”
WW: É a parte mais delicada desse meu empreendimento, porque, de fato, corro o risco de ficar no ostracismo devido à linguagem adotada que nada combina com a linguagem da antiga Wizmania, dos youtubers, do Omelete, dos Melhores do Mundo. Contudo, entre o cool e o kitsch, eu fico com o cult. Eu acredito que uma forma de arte – como as histórias em quadrinhos – só recebe respeito quando é objeto de estudo e não só de comentários, foi assim no Ocidente com todas as formas consagradas de arte. Até metade do séc. XX a fotografia era vista como um hobby ou uma profissão, não uma arte, ainda que muita gente no mundo estivesse com ela fazendo arte. Não foram meros comentários ou a apreciação que alocaram o retrato para a oitava arte, foram os estudos formais que vieram desde os pictóricos impressionistas aos modernistas concretos. Sonho com os quadrinhos sendo estudados nas faculdades de artes, publicidade, comunicação, tendo uma disciplina exclusiva para os estudos literários e de semiótica; a questão é como levá-los à universidade, aos grupos de pesquisa, às revistas especializadas. Pra mim, estou certo de que não será com essa linguagem cool. Nós vivemos no Ocidente, onde tudo o que almeja respeito e prestígio mundial passa pelo crivo da razão – talvez isso possa ajudar a entender por que nunca engatamos um Nobel de Literatura, mesmo tendo uma longa e vasta tradição literária; nossa literatura há muito deixou de passar pelo crivo da razão, muito dela é feito nas coxas e sob o crivo da emoção carnavalesca – e com as HQs não há de ser diferente. Tendo isso em vista, não quero nem saber se vou ter boa aceitação entre a galera cool e a galera kitsch; enquanto elas não estiverem nem aí pra mim, não estarei nem aí pra elas: meto a fole rodapés, tabelas, gráficos, rebuscamento, comparativos analíticos, intertextualidades. Escrevo como quem escreve para os grandes, pesquiso para os interessados, em suma, levo muito a sério o trabalho que faço com os quadrinhos porque quero que os quadrinhos sejam levados a sério. Eu critico um conto do Batman com o mesmo entusiasmo, nível e rigor que um crítico de literatura mundial critica Stendhal ou Dostoiévski, pois vejo e entendo os três com o mesmo valor artístico e, de mesma sorte, desejo que Batman (na verdade, qualquer personagem quadrinístico) seja visto com igual valor entre os outros dois. Creio que não estou sozinho nisso. Vez outra recebo notícias de que algumas universidades no Brasil afora estão abrindo minicursos ou matérias eletivas sobre quadrinhos, e, melhor, de quadrinhos de super-heróis, como é o caso da Universidade Federal do Rio Grande do Norte com a disciplina de introdução às histórias em quadrinhos, de 60h, as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos da Escola de Comunicações e Artes da USP, e um sem número de TCCs, monografias, sobre super-heróis que surgem aos borbotões no Google. Esse labor embrionário já é um olhar mais apurado sobre o que, até agora, é visto como um entretenimento infanto-juvenil, os quadrinhos.
AV: 12. “É provável o que eu vá perguntar agora seja a pergunta de muita gente que não teve a coragem de lhe perguntar na cara. Então, servindo-me de porta-voz dos seguidores do Ozymandias Realista – e dos outros blogs onde colabora – lhe pergunto: ‘por que o sr. não se preocupa com spoilers em suas críticas?’ ”
WW: Simples. Porque não há crítica literária sem spoiler. Pra se tecer uma crítica analítica se parte de dois pressupostos: a leitura integral da obra pelo crítico e o perscrutar de sua estrutura composicional. É impossível analisar essa estrutura sem revelar partes significativas do enredo, já que, invariavelmente, essas partes significativas estão imbricadas na estrutura, e, portanto, são indispensáveis para o entendimento da funcionalidade da obra como um todo. O trabalho crítico é uma metonímia: do todo se toma uma parte para da parte compreender o todo, e essa parte – crucial, muitas vezes sendo spoiler – não pode deixar de ser exposta. Uma crítica profissional que não tenha spoilers não é uma crítica, é outro gênero textual, menos crítica. Com o advento das mídias digitais, pra se evitar o temido spoiler, muita gente tem optado por duas alternativas: classificar sua crítica como “sem spoiler” ou só ler uma crítica depois que assistir ao filme ou ler a HQ. Mas esclareço que “uma crítica sem spoiler” é, na prática, uma resenha, e não uma crítica; e, da mesma sorte, uma crítica não é feita somente pros que já apreciaram a obra; a crítica também é pros que nada viram a respeito, e, nesse caso, ela servirá pra provocá-los a admiração, a curiosidade, por fim levá-los a consumir a obra. Seja como for, a crítica é sempre o exercício da promoção da obra, do artista e do público.
AV: 13. “Interessante... Deixe-me lhe encurralar mais ainda sob as garras de minha esfinge. Se ‘uma crítica profissional que não tenha spoilers não é uma crítica, é outro gênero textual, menos crítica’, então nos defina o que é uma crítica e como diferenciá-la do que se diz ou se pretende ser crítica”.
WW: Fique à vontade. Vou definir o que é crítica distinguindo os gêneros de texto de mesmo viés, certo? Os gêneros que trabalham com a apreciação de uma obra artística e/ou científica são a sinopse, o resumo, o comentário, a resenha, a resenha crítica e a crítica. A sinopse é o mais curto e o mais superficial de todos; é um breve relato que reúne os aspectos essenciais da obra, como a gente vê no cartaz do filme ou no verso dum livro. O resumo é uma síntese impessoal e imparcial da obra pra se transmitir as informações importantes dela, com poder de síntese, objetividade e clareza; geralmente é o que os professores colegiais exigem dos alunos. O comentário são apontamentos de um interlocutor da obra (assistida, lida, ouvida), deixando aí suas impressões, compreensões, opiniões; Averróis, o famoso filósofo árabe, foi o grande comentarista das obras de Aristóteles, e St° Agostinho de Hipona o mais célebre comentador da Bíblia. A resenha é uma exposição descritiva; ela descreve a obra de modo imparcial e mais aprofundado, fazendo correlações entre o seu conteúdo e um outro, fora dele, mas que tem afinidade; em geral é o que se pede nas faculdades. A resenha crítica só tem a diferença de permitir o juízo de valor, a opinião, as ideias fundamentadas do resenhista, podendo até refutar/reprovar a obra, e é isso que mais se tem em blogs, sites, no Youtube, com o pseudônimo de “crítica sem spoiler”. A crítica, o gênero textual mais extenso e profundo, reúne todos os gêneros anteriores de modo distribuído, só que seu objetivo não é só a indicação, a descrição e as impressões da obra; acima de todos esses objetivos está o de decompor a estrutura técnica de composição da obra, analisar a forma e o conteúdo, e o de problematizar e abstrair seus significados diante do tecido social. Por isso, muitas vezes, a crítica é chamada de “crítica analítica”, porquanto a análise e a reflexão são suas predominantes características. Só que, pra isso, é indispensável conhecer mais do que o objeto em foco; antes de conhecer o objeto é indispensável conhecer a teoria, o escopo teórico sobre como fazer uma crítica, e isso não se obtém por intuição, inspiração, senão pelo estudo específico sobre o procedimento nas artes. Nesse sentido, uma amiga que pode ser exemplificada como crítica de cinema na blogosfera é a Daniele Costa, a “Dany” do Vamos Falar Sobre...
Admiro muito a turma na internet que, ciente de que não tem a bagagem suficiente pra se elaborar uma crítica analítica, intitula sua exposição acertadamente de “resenha” ou de “comentário”, um exemplo de instrução, humildade e honestidade intelectual. Enquadrados nesse belo exemplo, cito aqui os amigos Eudes Ailson, o “Calango Doido do Cerrado” do Toca do Calango, a Cecília Costa do Mundo Literário da Cecy, Victor Hugo Carballo do Comentários de Gibis. E aí, "sra. Esfinge", consegui me sair do peso das suas garras?
(<Risos conjuntos>).
AV: 14. “[...] Astutamente, como o voo rasante de um morcego, sr. W. Mas ainda lhe proponho, nesse quesito, um último desafio, digno do enigma da Esfinge de Édipo – o rei trágico de Tebas – do Sófocles. ‘Decifra-me ou te devoro!’: supondo aqui uma imagem duma fonte d’água que corre livre e límpida, pode empregar nela os exemplos práticos do que acabara de explicar acima sobre os gêneros textuais de apreciação das obras?”
WW: “Sásinhora”, sr. Adrian! Não era pra ser uma entrevista? Sinto que estou frente a frente com o Oráculo de Delfos, num odisseico desafio.
AV: “Nana-nina-não! O Oráculo de Delfos é muito terno. Você está diante dum leão com asas! Vamos lá, respondendo”.
WW: Vixe! Valei-me Deus de Sansão!, Zeus de Hércules! “Xôver”... “Dexô” pensar aqui... Hum... Vejamos... “Uma fonte d’água que corre livre e límpida”... Bora lá! A sinopse seria alguém que viu a fonte e deu a notícia, com hora e lugar, pra alguém que ainda não viu a fonte. O resumo seria um andarilho que se deparou com a fonte, abasteceu sua moringa, e foi contar aos outros sua jornada até antes de encontrar a fonte d’água. Beber a água da fonte, dizer a si mesmo e aos outros o quanto ela é refrescante, saborosa, bonita, divulgá-la e indicá-la aos demais é o papel do comentário. As resenha e resenha crítica são quando, ao falar pra alguém sobre a experiência com a fonte d’água, se compara com outras fontes de água e se tece juízos de valor, como, se é boa ou ruim, salobra ou doce, clara ou turva, qual a melhor de se consumir. Já a crítica analítica é isso tudo dito antes, com o vital acréscimo de que não basta apreciar a água da fonte e comentar sobre sua localização e a experiência com ela. A crítica acontece quando quem bebeu foi lá pesquisar a procedência da fonte e da água: há quanto tempo está ali, por que está ali e não noutro local, o que a provocou, qual a composição química da água, sua temperatura externa/interna, seu teor de impureza, quantos metros cúbicos escorre por tempo, a aferição da capacidade do volume interior da fonte, quais consequências isso traz pra hidrografia regional e pra população. Ufa! Sobrevivo ou serei espedaçado?
(<Risos conjuntos>).
AV: “Sobreviveu. Decifrado. Muito bem”.
WW: Yes! Aê!! Uhú!
(<Risos conjuntos>).
AV: 15. “Tenho uma pergunta pós-créditos ainda. Qual o cenário e o papel da crítica quadrinística hoje?”
WW: No Brasil o cenário é rastejante, e o papel, irrisório. Atualmente possuem mais força a resenha, o comentário, que são mais simples de fazer acontecer, encontram largo espaço de difusão, influenciam públicos, fomentam o consumo. O cenário é rastejante, mas não é inerte, está em movimento, em seminal desenvolvimento. É fecunda a promessa de críticas analíticas, historiografia, pesquisa e teorização de impacto com o surgimento de congressos como as Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos da USP, o prêmio HQMix, que é um Eisner abrasileirado, os artigos acadêmicos que pululam na web, os dossiês arqueológicos que saem em revistas de imprensa nerd. O papel é irrisório, mas não é nulo. Cabe lembrar que esse cenário de resenhas, de comentários feitos por fãs em língua portuguesa não existia até o começo do ano 2000; nem nos tempos do fã-clube – do qual cheguei a participar – havia esse tipo de coisa. Quem formalizava a experiência com HQs eram profissionais da comunicação, da imprensa, das ciências sociais, da linguística. A produção da apreciação de obras em quadrinhos feita por não estudiosos tem apenas 17 anos de caminhada, um bebê se comparado ao tempo em que os quadrinhos são publicados no Brasil, isso significa dizer que nossos leitores não só estão crescendo em número, mas também querem crescer em qualidade, querem interagir com a obra, difundi-la, problematizá-la, estão se tornando mais críticos, estão passando a ver o gibi como obra de arte, não se prendendo a comentar a história lida em si; discutem questões sociológicas associadas, problemas corporativos das editoras e estúdios, pesquisam sobre as equipes criativas ou um dado artista, emitem juízo de valor sobre o traço, o roteiro, a artefinalização, buscam associar rankings, queda ou aumento de vendas com qualidade editorial-artística, exigem material de qualidade, avaliam preços, distribuição, tradução. A atual experiência com o quadrinho tem transcendido o próprio quadrinho. Esse diminuto tempo de produção de comentários e resenhas é um passo na escala evolutiva do progresso para a crítica e a teorização, em particular, e para o estudo da nona arte como arte de respeito, em geral. Quando o prof. Álvaro de Moya – recentemente falecido, que os deuses Marvel/DC o tenham! – iniciou seus estudos formais sobre os quadrinhos na década de 1950 por aqui, não imaginava – ou talvez já previa – que pessoas comuns, num suporte chamado internet, haveriam de fazer o que ele fazia. A ele se deve muito a acessibilidade e à inclinação de se produzir conteúdo formal sobre quadrinhos, e, acima de tudo, a ele se deve esse olhar mais sério e reflexivo sobre o gibi, ainda mais quando sabemos que sua época era a do gibi impopular, visto como “coisa de criança”. Ao prof. Álvaro de Moya minha sincera homenagem. Mas, voltando ao cerne da questão, virmos surgir uma geração de críticos, historiadores, teóricos dos quadrinhos entre os leitores comuns é uma questão de tempo! Se em 17 anos já temos resumidores, comentaristas, resenhistas, o que não teremos daqui, sei lá!, a mais 20 anos? É bem verdade que, se comparado aos EUA, nosso país sempre estará atrasado (em tudo!); lá já se tinha essas coisas desde os anos 1970, quando o principal veículo da produção dos fãs era o jornal impresso e o fanzine. Hoje os leitores quadrinísticos norte-americanos daquela década são artistas ou chefes de redação das editoras, são autores de enciclopédias de super-heróis, são historiadores da nona arte, são jurados de academias como na The Will Eisner Comic Industry Awards ou formam comissão na realização da San Diego Comic-Con. Os críticos e historiadores americanos possuem mais impacto e exercem mais influência sobre o ramo por estarem não só no país-berço dos comics, no centro da indústria, mas também por estarem melhor capacitados. Acredito muito na vocação do Brasil para isso em breve, estamos nos encaminhando para tal, somos um dos países mais apaixonados por gibis, um dos maiores consumidores do mundo, e espero que essa entrevista que estamos fazendo agora seja parte do acervo de colaborações prum futuro promissor do Brasil e sua participação não só consumidora, bem mais que isso, pruma participação teórico-crítica da nona arte.
Álvaro de Moya, o nosso ilustre homenageado com essa entrevista. Imagem de Claudio Belli – Folha de S.Paulo. |
AV: “Pois muito bem. Não posso dizer que gostei de você, mas gostei da nossa entrevista, e é isso que me interessa. Agora sim, posso dizer que está, de fato, admitido na equipe do blog Ozymandias Realista, embora lá, a mais irrelevante de minhas holdings, seja um canal que caminha no incerto e que idolatra muito mais a dúvida do que a certeza, mais a crítica do que o elogio, mais o real do que o sonho. É por isso que lá não é, nunca será, uma janela aberta para o mundo, mas será sempre um periscópio sobre o oceano do social. Agora, parafraseando Antônio Abujamra, ‘me dá cá um abraço, que a única coisa falsa aqui é o abraço’! ”
WW: Uau! Nada mais realista, não é, Ozymandias?
AV: “Exatamente. Ah!, e por favor, nada de selfies”.
(<Risos e abraços conjuntos>).
Fim.
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WAGNER WILLIAMS ÁVLIS – crítico literário da Academia Maceioense de Letras (reg. O.N.E. nº 243), professor de Língua Portuguesa, articulista, historiador do Homem-Morcego.