Neste "Dia dos Namorados", principalmente para aqueles que estão sozinhos, mas não solitários (como eu no momento), uma inusitada e descontraída história sobre o amor, seja ele correspondido ou não (cansam de me dizer que eu preciso "parar de fantasiar a vida" e que "a vida não é um filme", mas quem profere uma frase dessas para mim, desconhece o que vai na minh'alma e no meu íntimo, em matéria de vida).
Certa vez, num simpósio médico, ouvi uma frase proferida por um palestrante que comparava a dor da angina (que é semelhante a dor do infarto) com a dor do amor não correspondido: "a angina é como o amor, dói muito, e eu odeio sentir dor"... e, segundo o tal palestrante, a frase era de "autor desconhecido".
Podemos não saber quem é o autor da frase, mas podemos deduzir como é este autor, ou seja, quem profere uma frase dessas (e quem a repete) tem medo do amor e consequentemente da vida, portanto não vive, apenas vegeta, e nunca verá "o sol brilhar", pois vive das sombras e não se aventura, por medo da queda, sem nem ter sentido a adrenalina do pulo.
Todos nós já juramos um dia "não mais nos apaixonarmos" toda vez que nos desencantamos com a paixão e o amor, mas essas juras são passageiras (ainda bem), pois quando menos se espera, lá está o cupido de novo a nos flechar, e "lá vamos nós de novo".
O filme "(500) dias com ela" ("500 days of summer") fala do amor, correspondido ou não. A história parece a de sempre, das "velhas" comédias românticas e/ou dramáticas, do tipo "rapaz conhece garota e...", o que esperaremos então? Um final feliz depois de muitos desencontros? Ou cada um vai para o seu lado e viverão "infelizes para sempre"?
É, em geral não sai muito disso, mas esse em especial é um romance não hollywoodiano, nada novelesco, pior (ou melhor ?), é real, muito real, pois é a velha história do amor não correspondido, que todos já viram e ouviram uma história como essa (alguém que você conhece já passou por isso, ou quem sabe, você mesmo), mas a linguagem desse filme com suas saídas estratégicas tornam o filme divertido e "prá lá" de inusitado.
Já nos créditos iniciais, a velha e batida frase "qualquer semelhança com pessoas do mundo real é mera coincidência", o filme abandona o velho clichê e provoca terminando a frase com um "especialmente você, Jenny Beckman", e a seguir ataca com "bitch" ("vagabunda", ou mais chulo ainda, "vadia, vaca, piranha" em inglês).
Minha curiosidade de cinéfila me fez "ir atrás dessa tal Jenny". Claro que a intenção do diretor é essa (no caso, o até então desconhecido Marc Webb, com apenas alguns curta-metragens na sua ficha técnica), afinal a pergunta que não quer calar: quem é essa tal "bitch” Jenny Beckman?? Com certeza alguém que deu um chute na bunda de outro alguém (mesmo fictício) só para atiçar a curiosidade do espectador e deixá-lo "vidrado" no filme.
Uma tirada inteligente e espetacular do cineasta...descobri nos "bastidores" que a tal Jenny deu um chute na bunda do produtor do filme e ele a "homenageou" nos créditos (o nome real deve ter sido alterado pois, como eu faço nos meus textos, "contamos os milagres mas preservamos os nomes do santos", rsrsrs, e é certo que, muitas vezes, "a carapuça cai como uma luva", uahuahuah) ou então ela nunca existiu e é mais uma jogada de marketing bem bolada que funcionou maravilhosamente.
Porque qualquer que seja a verdade por trás dessa tal tirada, ela dá a dica da temática do filme, ou seja, o filme não é portanto uma história de amor. Enfim, o filme trata do amor em si, de como nós nos comportamos antes, durante e depois de uma paixão avassaladora, e qual o aprendizado final do amor, seja ele correspondido ou não, e nossas expectativas quanto ao relacionamento em si (que nem sempre é a realidade do outro).
Porque qualquer que seja a verdade por trás dessa tal tirada, ela dá a dica da temática do filme, ou seja, o filme não é portanto uma história de amor. Enfim, o filme trata do amor em si, de como nós nos comportamos antes, durante e depois de uma paixão avassaladora, e qual o aprendizado final do amor, seja ele correspondido ou não, e nossas expectativas quanto ao relacionamento em si (que nem sempre é a realidade do outro).
Outra jogada sensacional do diretor, que faz com que o filme se torne inusitado, na sua forma de contar uma história simples e banal que todo mundo já viu, é a cronologia aleatória, são "flashbacks" não lineares, um vai e volta frenético no passado e no presente, para contar os tais 500 dias na vida e romance de um casal com seus altos e baixos, tendo como marcador do tempo vinhetas animadas mostrando os dias avançando e voltando, e com a pintura de uma árvore marcando dias felizes com folhagens verdes, e dias conturbados do relacionamento com as folhagens amareladas e ressecadas, quando o rapaz está "no fundo do poço".
E a grande "vedete" do filme é a trilha sonora, que conta com "Simon and Garfunkel" cantando "Bookends", com direito a karaokês com o protagonista, um romântico incorrigível que cresceu ouvindo "The Smiths" (tem várias músicas do grupo como "There is a light that never goes out" e "Please, please, let me get what I want").
O ator quase um desconhecido do grande público (ele era o jovem alienígena da extinta série americana "3rd rock from the sun" com o veterano John Gleese, e agora em 2013 dirigiu e protagonizou a comédia "Don Jon"), improvisa num karaokê, numa cena do filme, cantando “Here comes your man” do grupo Pixies.
E também faz um divertido número musical, nas ruas do centro de Los Angeles, com "You make my dreams come true" da dupla "Hall & Oates" (conhecidos pela famosa "Jingle bell rocks"), algo meio "clichê em tom de deboche" com direito a passarinho azul e transeuntes dançando a coreografia animadamente com o protagonista.
Já a atriz Zooey Deschanel, que faz o par romântico com ele (e diferente do velho clichê, ela é bastante prática, nada romântica), também é ainda novata na telona (tem participações em filmes independentes e fez o papel da irmã do adolescente protagonista no filme "Quase famosos" e agora é a protagonista da série americana "New girl"). A atriz participa de uma banda na vida real e também está ótima, no tal karaokê do filme, cantando "Sugar town".
Irreverente e avessa aos clichês, a personagem de Zooey ( cujo nome é Summer) é fã do Ringo Star (sua preferência entre os quatro Beatles) e a sua música favorita é "Octopu's Garden" do famoso baterista. Engraçadíssima é a sua comparação da relação do casal com o conturbado relacionamento do famoso casal Sid Vicious (da banda Sex Pistols) e a sua namorada Nancy. A personagem parece anti-romântica e avessa a compromisso sério, mas na verdade, decepcionada com a relação falida dos seus pais, ainda não tinha conhecido o verdadeiro amor...
E como todo o amor que começa e um dia pode acabar, a mesma imagem da amada que fazia o rapaz delirar de paixão, passa a ser motivo da revolta do rapaz que "jura nunca mais se apaixonar" quando descobre que não é mais correspondido na sua paixão.
Contei o filme todo? Estraguei o final ? Claro que não. O filme é genial na sua maneira de contar o que todos nós já sabemos, vale a pena assisti-lo e você vai chegar a conclusão (que todos nós já sabemos) que sim, às vezes dói, mas não dá para comparar com uma doença, como fez parecer o palestrante médico descrente de amor (e por isso mesmo infeliz por suas não escolhas).
Porque nem sempre o amor traz só dor, e mesmo a dor da paixão nos faz crescer e nos impulsiona prá frente, que é o que vamos ver acontecer com o protagonista, depois dos tais 500 dias, pois suas reflexões acabam levando-o a redescobrir suas verdadeiras paixões na vida (porque, antes de amar alguém, é preciso amar a si mesmo), reacendendo seu interesse, por exemplo, pela sua verdadeira vocação na profissão escolhida, até então abandonada. Acredito que, nesses casos, a frase mais sensata que cabe aqui é a do escritor Rubem Alves quando disse sabiamente: "Ostra feliz não faz pérola".
Um adendo: infelizmente, o filme foi mal interpretado por alguns homens que não gostaram de ver uma mulher na posição que, historicamente, sempre foi do sexo masculino (avessos a romantismos e relacionamentos sérios). E, pior ainda, algumas mulheres (eu diria, inclusive, de índole duvidosa, para não dizer "motherfuckers") gostaram "da deixa" e resolveram assumir o seu "lado macho de ser", de se envolver sem compromissos, não se importando com os sentimentos do outro (o que, na verdade, não acontece no filme). Ou seja, essas tais mulheres (do tipo da "bitch Jenny Beckman", dos créditos iniciais do filme), ao invés de lutarem para reverter o que culturalmente nunca aceitamos da parte dos homens, fazem exatamente o mesmo que muitos deles, brincam com os sentimentos alheios.
E para terminar, nesse "Dia dos Namorados", para os que se decepcionaram com relacionamentos com "bitches" e machos "motherfuckers", e indo contra a frase (descrente de amor) do palestrante médico, cito a frase do cineasta brasileiro Domingos de Oliveira que, certa vez, com extrema convicção e sabedoria, disse: “A relação e o amor entre as pessoas não existem para nos fazer felizes, mas sim para nos fazer vivos; mesmo se sofremos, o que realmente importa é estarmos vivos”. E acredite, como no filme (e como nas estações do ano), vai aparecer ainda "Autumn", "Spring" e até "Winter", e mais e mais "Summer" na sua vida.
Um adendo: infelizmente, o filme foi mal interpretado por alguns homens que não gostaram de ver uma mulher na posição que, historicamente, sempre foi do sexo masculino (avessos a romantismos e relacionamentos sérios). E, pior ainda, algumas mulheres (eu diria, inclusive, de índole duvidosa, para não dizer "motherfuckers") gostaram "da deixa" e resolveram assumir o seu "lado macho de ser", de se envolver sem compromissos, não se importando com os sentimentos do outro (o que, na verdade, não acontece no filme). Ou seja, essas tais mulheres (do tipo da "bitch Jenny Beckman", dos créditos iniciais do filme), ao invés de lutarem para reverter o que culturalmente nunca aceitamos da parte dos homens, fazem exatamente o mesmo que muitos deles, brincam com os sentimentos alheios.
E para terminar, nesse "Dia dos Namorados", para os que se decepcionaram com relacionamentos com "bitches" e machos "motherfuckers", e indo contra a frase (descrente de amor) do palestrante médico, cito a frase do cineasta brasileiro Domingos de Oliveira que, certa vez, com extrema convicção e sabedoria, disse: “A relação e o amor entre as pessoas não existem para nos fazer felizes, mas sim para nos fazer vivos; mesmo se sofremos, o que realmente importa é estarmos vivos”. E acredite, como no filme (e como nas estações do ano), vai aparecer ainda "Autumn", "Spring" e até "Winter", e mais e mais "Summer" na sua vida.
Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")
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