Todos nós temos nossos monstros... monstros interiores que nos aterrorizam, a maioria deles escondidos e muito bem camuflados no nosso íntimo.
Na infância, no auge dos nossos temores pueris, em vão procuramos por eles, debaixo da cama, por baixo dos lençóis, dentro dos armários, atrás da porta. E, no entanto, já adultos, eles retornam, e quando menos esperamos, lá estão eles, chafurdados na nossa mente, prontos para nos assombrar e puxar pelos nossos pés.
Medo, inveja, raiva, ciúmes, mágoas, ressentimentos... “monstros” que vivem e convivem conosco, escondidos no fundo de nossa alma, mesmo que, por vergonha, tendemos a não admitir sua existência (nem sempre pacífica) dentro de nós.
Às vezes, eles nos assombram nas madrugadas insones, em pesadelos, e pela manhã, de novo varremos essas monstruosidades “prá baixo do tapete” de nossa consciência e, aparentemente “seguros”, seguimos em frente pela vida afora.
Conseguir controlar essas feras dentro de nós, às vezes, é impossível, e esses monstros, sob a forma de sentimentos insolentes, afloram do nosso íntimo, e nos transfiguramos, nos transformamos em monstros inimagináveis, capazes de males como ódio, inveja e outros sentimentos não lá muito nobres.
Mas nem sempre deixar vir à tona essas nossas criaturas é assim tão ruim; às vezes é necessário, eu diria que, em certos momentos, é até vital, pois há “monstros” que, na verdade, nos protegem.
A sociedade nos domestica, nos impõe regras de comportamento e muitas vezes “engolimos sapos” muitas vezes indigestos demais, mas o fazemos para parecermos “politicamente corretos”.
Assim, de vez em quando, “abro a jaula e solto meus bichos” e percebo, impressionada (eu diria até orgulhosa), como eles são poderosos, e que, felizmente, meus monstros não são assim tão “feios”, ao contrário, graças a eles, adquiro forças para enfrentar os muitos percalços e obstáculos da vida.
Porque há muito mais monstros por aí, à espreita, no meu caminho, bem mais tenebrosos que os meus (os psicopatas sociais cultivam os mais pavorosos, porque fingem-se de cordatos para, em seguida, com a vítima dominada, atacar impunemente), e para enfrentá-los só mesmo um outro monstro à altura, e é nessa hora que eu solto os meus.
E, para provar que esses monstros existem, “taí o mundo” que não me deixa mentir, com sua maldade explícita, nas guerras “justificadas” por intolerância racial, religiosa, etc.
Falta amor ao próximo, sobra intolerância; falta altruísmo, sobra mau-caratismo; falta comiseração, sobra ganância; falta humildade, sobra inveja.
“Onde vivem os monstros” (título original “Where the wild things are?”) é o título do filme do diretor americano Spike Jonze (já conhecido pelos ótimos e também surrealistas “Quero ser John Malkovich” e “Adaptação”) lançado em 2009, que mostra, metaforicamente, numa abordagem aparentemente infantil, todos esses nossos “monstros” interiores.
Um menino rebelde e imaginativo que, após se desentender com sua família, se embrenha numa floresta cheia de monstros, cujas personalidades diversas refletem as emoções e aflições do ser humano, tais como raiva, isolamento, carência, mas também sentimentos nobres como amizade, esperança, arrependimento e tantos outros mais.
O filme, que mistura “live-action” com animação (atores contracenando com desenhos), infelizmente, foi (mal) divulgado como “infantil” (por ter sido adaptado de um livro homônimo infantil), mas na verdade trata-se de um drama que “assombra” mais adultos que crianças, ao mostrar, mesmo fantasiosamente, que nossos monstros estão aí, soltos, à espreita, prontos “para atacar”.
Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")