"Dois Brasis": "rebobinando" a história recente do país



A intolerância que aflorou entre os “dois Brasis” nesta disputa eleitoral, e os últimos acontecimentos pós-eleição, com passeatas pelas ruas (principalmente na Avenida Paulista) com um escasso (mas suficiente para fazer barulho) número de insatisfeitos (com faixas com dizeres “eles sabiam” e “impeachment já” e, pior, pedindo a “volta dos militares”) me deixaram consternada e perplexa, ao mesmo tempo.

Assim, eu clamo a todos, que se consideram brasileiros e estejam contra tais barbáries, que proclamem seus vizinhos, amigos e parentes, para que todos “rebobinem”, e voltem atrás no tempo, na história recente do país. E, óbvio, o cinema vai me acompanhar nessa minha imensa reflexão (tão grande quanto o meu sentimento diante destas desconcertantes notícias, um misto de tristeza, preocupação e indignação ao mesmo tempo).

No palanque da tal manifestação na Avenida Paulista, o filho do Bolsonaro (aquele do discurso homofóbico), vestido “a rigor” com uma arma “no coldre”, num discurso “inflamado” (de fazer inveja ao fascista morto Francisco Franco), explicitamente a favor da truculência da PM, fazia coro com o cantor Lobão que, sem sucesso e esquecido há décadas, tenta através da política, tal qual um zumbi, sucumbir das cinzas. Hilário e trágico ao mesmo tempo.

Como “adorável anarquista” (o movimento anarquista visava extinguir as leis, mas não a ordem, mas se esqueceu que tinha o ser humano no meio disto, daí a utopia do movimento) aprendi que o ser humano, por sua natureza, é por si só “corruptível pelo poder e/ou pelo dinheiro”, qualquer que seja o lado (à direita ou esquerda, partidariamente falando), qualquer que seja o país, qualquer que seja a raça, sexo, etc. Bakunin, anarquista político russo do século XIX, já dizia naquela época: “quem duvida disso, não conhece a natureza humana”.

A relação doentia do homem com o poder foi confirmada no experimento de aprisionamento da Universidade de Stanford, nos EUA, realizado na década de 70, que recrutou indivíduos para interpretarem papéis distintos de carcereiros e prisioneiros, e o experimento teve que ser suspenso na metade do prazo estabelecido, tal a crueldade que tomou conta dos participantes que receberam a função de poder sobre os demais.

A prova cabal da bestialidade e da insanidade humanas, quando se trata de poder, foi parar na vida real no tal experimento, e voltou para a ficção ao ser retratado no ótimo mas aterrorizante filme alemão “Das experiment” (e, do jeito que as coisas “andam feias” entre os dois Brasis, o Nordeste e o Sudeste, não estamos muito longe disso, em matéria de agressões xenófobas e racistas, de um povo que se acha superior ao outro).



Seria cômico não fosse trágico – as faixas na Avenida Paulista pediam “Imprensa livre” e “intervenção militar”, enquanto o barulhento público gritava “Viva a PM”.  What????!!! Querem militares no poder (intervenção para ditadura é um pulo) e liberdade de expressão ao mesmo tempo???!!! Haja incoerência!!! 

“Perdoe, Pai, eles não sabem o que fazem” (para quem não sabe, na época da ditadura militar, o então conceituado “Jornal do Brasil”, chegou a publicar, pasmem, “receitas de bolo como manchete” na sua primeira página – confirmem nos arquivos do histórico jornal – numa clara alusão do tamanho da censura de imprensa da época. 

E Collor sofreu “impeachment” não porque sabia, mas sim porque pagava suas contas particulares e comprava jóias para a primeira dama com o dinheiro que sabia que era da corrupção. E se, hoje, o povo grita nas ruas que “os dois últimos presidentes sabiam” é porque agora estamos sendo informados disso, em primeira mão, pela mídia golpista, a mesma mídia que fingiu que não sabia que FHC também sabia da mesmíssima corrupção que já rolava desde aquela época, nos 08 anos do PSDB no governo federal . 

FHC sabia (nós é que não ficamos sabendo pela mídia impressa e televisiva) que o seu “Engavetador Geral da República” (apelido do procurador Geraldo Brindeiro que toda a blogosfera já estava a par) arquivou mais de 600 processos de corrupção no seu governo PSDBista e aliados, mas que a grande mídia partidária calou-se e escondeu da população (o próprio FHC “não me deixa mentir” – mesmo que, no vídeo abaixo, FHC tente, sem êxito, desmentir o jornalista britânico que o interpela, no melhor estilo “eu sei o que vocês fizeram no governo passado”, na entrevista concedida ao programa “Hard Talk”, de Londres, quando já ex-presidente).




Como cinéfila, por muito tempo, fui assinante da revista “Veja” (principalmente por conta das páginas relacionadas à sétima arte), mas desde a era Collor, com a escandalosa mídia tradicional da época revelando apenas meias-verdades sobre o “caçador de marajás” (mais “marajá” que ele impossível), eu passei a ler com certa (para não dizer total) desconfiança os editoriais políticos da mesma, e nunca mais ousei confiar num só semanário quando diante de notícias denunciatórias, porque infelizmente grande parte da nossa mídia impressa e televisiva (muito bem apelidada de PIG, partido da imprensa golpista) sempre esteve mais para “Cidadão Kane” do que para “Todos os homens do presidente” (“Caso Watergate”).

Pausa para “os eternos ensinamentos da sétima arte” – “Cidadão Kane” foi um filme da década de 40, que ficou “engavetado” durante anos, pelo furor causado na época, tudo porque o cineasta Orson Welles desafiou, com o seu filme, um dos homens mais ricos dos EUA, de nome W.R.Hearst, dono de vários meios de comunicação da época, principalmente jornais de grande circulação, além de revistas, rádios e estúdios de Hollywood (qualquer semelhança, com os nossos “mandachuvas” daqui, não são meras coincidências). E como todos os que desejam manter o seu status quo no poder, o magnata tentou destruir tanto o filme como o próprio cineasta, como assim o fazia com quem atrapalhasse o seu caminho.



A história de Hearst/Kane (quem viveu naquela época imediatamente associou o personagem ao magnata) permanece bem atual, quando nos vemos, ainda nos dias de hoje, a mercê dessas corporações e monopólios – qualquer semelhança com a lavagem cerebral que a rede “Plim-plim” (leia-se rede Globo) exerce sobre o nosso povo alienado “não é mera coincidência”.

É só relembrar o apoio explícito à ditadura militar como a bomba no Riocentro, plantada pelos militares nos anos 60 e distorcida pela Globo como “obra da esquerda comunista” (eu não duvidaria se o recente incêndio, nas dependências da revista Veja, fosse obra do próprio dono, afinal, Civita é milionário e nada tem a perder, ao contrário, e inclusive o prédio deve ter seguro), a manipulação dos números do Ibope e a tentativa de fraude nas urnas (na época do Brizola), e bem recentemente a manipulação e edição do debate do Lula e do Collor que, escandalosamente, acabou beneficiando o Collor (o documentário da BBC de Londres, intitulado “Muito além do Cidadão Kane” sobre este período negro da imprensa brasileira, não me deixa mentir).


Mas, apesar dos pesares, eu ainda continuava assinando a tal revista, até que, no final de 2011, eis que surge o livro “best seller” do jornalista Amaury Ribeiro Jr, intitulado “A Privataria Tucana” (um neologismo com as palavras “privatização e pirataria”) quando a grande mídia (a revista Veja e outros PIGs da vida) foi longe demais, porque antes divulgava-se meias-verdades, mas agora vergonhosamente omitia-se do leitor a existência do livro, pois para a grande mídia golpista, esse livro “jamais existiu”, pelo menos nas primeiras semanas do estrondoso e ruidoso sucesso do mesmo nas redes sociais e na blogosfera via web.

Felizmente quem tem acesso à internet não ficou sem esta informação e pôde ir atrás do best-seller (afinal, quem não iria querer saber o conteúdo de um livro censurado pela grande mídia?), já os leitores da velha mídia (que ainda, infelizmente, são muitos os que só lêem notícia impressa por esses barões jurássicos ou só assistem, no máximo, à rede “Plim-plim” do falecido Roberto Marinho) não tiveram a mesma sorte (e em tempos de Roberto Civita e de Rupert Murdoch, todo o cuidado é pouco).

Eu fiz questão na época de acompanhar várias mídias (televisivas, impressas e pela web) e infelizmente “o livro” só apareceu, na grande mídia, semanas depois do estrondoso sucesso nas livrarias e via blogosfera, e foi apenas para o José Serra criticá-lo como “puro lixo” (óbvio, pois como “o cabeça” de todo o esquema da privataria tucana, era de se esperar a reação tempestuosa do político do PSDB) e semanas e semanas depois, “de repente” aparece do nada como “o mais vendido” no caderno “Prosa e verso” (que ninguém quase lê) do jornal “O Globo”. Óbvio que, em outras épocas (antes da internet e dos internautas em ação), o livro estaria esquecido nas prateleiras (sem jamais ter alcançado a mídia, que dirá sucesso de vendas).

O livro “A Privataria Tucana” existe sim (mas, até hoje, quando pergunto às pessoas, muitos nunca ouviram falar dele) e faz parte de um jornalismo investigativo extremamente sério, com documentos contundentes, e a mídia deveria ter dado o mínimo de crédito ao jornalista em questão que o revelou – “todos os homens do presidente” americano Nixon que o digam” – até para contestá-lo, mas jamais omiti-lo do leitor.

Pausa para novo ensinamento verídico, registrado eternamente pela sétima arte – o “caso Watergate”, nos anos 70, foi desvendado por dois jornalistas americanos, quando então a cobertura do maior escândalo político dos EUA tornou-se “um emblema da imprensa investigativa, em seu papel crítico de fiscalizar o poder” (e não deveria ser diferente aqui no Brasil, enfim... mas a ótima montagem “abrasileirada”, do filme em questão, sobre a nossa mídia em relação ao livro “A Privataria Tucana” – vídeo abaixo – fala por si só).

O filme original, intitulado “Todos os homens do presidente”, conta a história verídica, desvendada por dois jornalistas investigativos (vividos na tela por Dustin Hoffman e Robert Redford), de um dos mais importantes jornais dos EUA, o “Washington Post” que escancara as falcatruas do então presidente Richard Nixon para se reeleger (com escuta telefônica plantada na sede do partido rival e associação dos envolvidos com o presidente, com o objetivo de encontrar algo desfavorável aos adversários para ser usado como arma de campanha). Apesar de ter vencido as eleições, a revelação bombástica levou a um processo judicial que culminou na renúncia de Nixon, dois anos depois.


Assim, nunca mais assinei nenhum destes semanários, pois quem tem que julgar a notícia sou eu, e não a mídia partidária e covarde decide o que eu devo ou não ler ou ter acesso ou não. Que mídia escrota é essa que me abstém do meu direito de ter acesso a uma notícia? Pois sou eu, como leitora, que devo decidir se a notícia é ou não politicamente relevante.

Desisti de assinar essas falcatruas políticas tendenciosas e visivelmente partidárias (porque a imprensa não deveria ser nem pró-direita nem pró esquerda, o papel da imprensa é apenas informar, doa a quem doer) e resolvi seguir sites e blogs políticos (de preferência, o mais apartidário possível), e assim quando é deflagrado uma notícia bombástica nesses sites, eu então compro um número infinito desses periódicos impressos e os comparo confrontando com o que sai na web, e só então eu tiro as minhas conclusões políticas diante destes viciados semanários impressos. 

Quanto à parte televisiva, sempre assisto (gravo) jornais em vários canais e em turnos diferentes num mesmo dia, e assim fica mais fácil aprimorar a minha percepção como espectador em relação a uma mesmíssima notícia, confrontando-os.

E procuro sempre conhecer a “fonte oficial”, e qual a corrente filosófica do então “formador de opinião”, pois a opinião de um “neonazista” é totalmente diferente de um “marxista” sobre um mesmo assunto (exagero na comparação com o intuito de mostrar como uma mesma notícia pode ser interpretada de ângulos diferentes, de acordo com o ponto de vista de cada um). 

E vou atrás de dados estatísticos internacionais (principalmente da ONU) sobre o nosso país, quanto ao desenvolvimento econômico e social, numa tentativa de não ser ludibriada por este ou aquele partido, com seus “números e feitos maravilhosos”, pois em tempos de “photoshops” da vida, facilmente se manipulam dados, fotos e vídeos (alguns de maneira tão toscas que me envergonham como cinéfila), principalmente em épocas de eleições.

Interessante é que parece que o nosso macabro (meu não, cruzes, “vade retro”) José Serra não tem muita imaginação, pois usa o mesmo velho truque de Nixon (para destruir quem atravessa o seu caminho), porque segundo o jornalista Amaury Ribeiro Jr, em seu livro “A Privataria Tucana”, durante as prévias do PSDB (na escolha do candidato que iria enfrentar o PT, mais uma vez, nas eleições de 2012), o Serra ameaçou jogar na mídia um “dossiê sobre Aécio”, para que este desistisse, e conseguiu que o tucano, neto de Tancredo Neves, se retirasse da corrida presidencial (o jornalista só não conseguiu descobrir o conteúdo do dossiê, mas boa coisa não deve ser, pois a ameaça funcionou, e o mineiro “deu para trás”, e imediatamente saiu do páreo, pois quem disputou as eleições naquele ano de 2012 foi o “vampiro” Serra e não o Aécio).

O jornalista, ao tentar descobrir o que havia por trás do “ninho – de cobras – tucano” (tendo sido inclusive indiciado pela PF, sob acusação levantada pelo “vampiro” Serra de tê-lo espionado e a seus familiares em meio a disputa eleitoral, quando na verdade o jornalista tentava descobrir o que havia entre Aécio X Serra) sem querer acabou por descobrir uma monte de tramóias e maracutaias de banditismo de Estado a envolver o ex-governador de São Paulo, José Serra, além de sócios e parentes do tucano (sua filha e seu genro) por ocasião do processo de privatização de estatais durante o governo FHC entre 1998 e 2002, que resultou no livro A Privataria Tucana.



Na web, blogueiros políticos e o público internauta alardeavam cobrando da mídia tradicional a mesma virulência com que se dedicava às denúncias plantadas contra governos do PT, só que isso não aconteceu. A grande mídia calou ensurdecedoramente diante do livro. Pelo menos deveria registrá-lo como um fenômeno de vendas que foi, ou para contestá-lo, já que se tratava de um “best-seller” esgotado logo no primeiro dia (se o livro não fosse relevante não teria feito o sucesso estrondoso na internet e inclusive de vendas nas livrarias) com cerca de 15 mil exemplares vendidos, e com pedidos de mais 50 mil para os dias seguintes ao seu lançamento (eu só consegui o livro depois de uma fila de espera que durou mais de um mês).

Ao fingir que o livro não existia, tentando esconder as graves denúncias contra Serra, a mídia partidária pró-PSDB com o seu silêncio ensurdecedor deu um “tiro no próprio pé” (típica cumplicidade de quem não quer ver revelada os “podres poderes” do Serra e do FHC) e se meteu numa estratégia risível, patética e vexatória em tempos de liberdade de expressão na era internet (e o sucesso do livro se tornou “viral” na web, pois quem é que não quer saber o conteúdo de um livro censurado pela mídia ???).Total de vendas do livro chegou em torno de 100 a 120 mil exemplares.

Tenho pena de muitos amigos meus, que continuam assinando a famigerada revista (e acreditam fielmente no conteúdo dela e não aceitam ouvir outra opinião) e só conhecem meias-verdades, e agora nem isso, pois não lhes dão o direito nem de decidir opinar sobre um fato político, e pior, escondem que possam inclusive existir, me fazendo lembrar o filme “Matrix” e a divertida montagem da “Midiatrix revelations”, com o personagem Homer Simpson, só nos dando o direito de engolir “a pílula azul”, deixando-nos incrédulos de que pode haver uma outra pílula, a vermelha, a da verdade, mas enfim, fazer o quê... às vezes, é mais cômodo viver sob ilusão (tipo mulher traída que diz que “só vai sofrer ou fazer algo quando souber da traição”, mas não se empenha em descobrir a traição, que está, o tempo todo, debaixo do seu próprio nariz).



Pelo menos, nós cumpridores dos nossos deveres como cidadãos, deveríamos dar o bom exemplo para os nossos filhos, gerações que crescem desacreditadas com tamanha corrupção, como se esta praga não tivesse solução, a ponto de um dos meus filhos, então pré-adolescente, me dizer num passado recente: “Mãe, não fica triste não, ninguém se importa com isso, é normal, brasileiro já nasce corrupto (na época, eu estava indignada com o “Engavetador Geral da República” que a grande mídia escondia – a manchete “FHC sabia” nunca existiu, como agora existe contra o governo atual).

E assim, de posse do conhecimento destes ensinamentos de Bakunin e também do anarquista francês Proudhon sobre como “o poder e o dinheiro corrompem”, que me fizeram mudar minha filosofia de vida, eu então decidi me empenhar em mostrar ao meu filho o quanto ele estava errado, que “ninguém nasce corrupto” e nem todos se corrompem, e que os que se corrompem devem ser devidamente punidos.

E, de novo, a sétima arte vem me ajudar, exemplificando o egoísmo e a falta de alteridade da raça humana, na excelente série The Walking Dead”, onde uma misteriosa doença transforma a maior parte da população do planeta em zumbis, restando aos poucos sobreviventes lutar por suas próprias vidas, fugindo dos ataques dos mortos-vivos e, mesmo em um ambiente tão inóspito, muitos ainda assim se mostram mesquinhos, competitivos e se julgam mais superiores que os outros, e assim afloram sentimentos de vingança e poder uns sobre os outros (mas, Thank God, alguns permanecem dignos e jamais se corrompem).



Nós temos que ser mais participantes da vida política (não dá para discutir religião e futebol mas discutir política é saudável e extremamente importante) porque política muda uma sociedade, e o único jeito de não sermos ludibriados é trocando informações entre nós mas deveríamos nos preocupar em divulgar só fontes seguras pois até a mídia impressa já jogou muita notícia falsa como foi o caso da Folha de são Paulo que publicou uma ficha policial falsa sobre a presidenta” (neologismo que veio a calhar, reforçando a presença de uma mulher no poder no Brasil) – e depois “inocentemente” se desculpou, alegando “não ter conferido a fonte”.

Eu espero que a CPI da Privataria Tucana aconteça ainda no governo do PT (pois jamais sairia num governo do PSDBista Aécio Neves, já que este se calou diante do tal dossiê, e ainda aceita o Serra no seu palanque num cala-boca mútuo, e provavelmente conveniente para os dois lados) e que o Serra faça companhia aos corruptos do PT (que a imprensa jamais aliviou, nem mesmo no seu pré-julgamento judicial) porque com o PSDB no governo está mais do que provado que estaríamos de novo “dormindo em berço esplêndido”, sendo enganados por uma mídia sórdida que não nos revela os bastidores da corrupção da direita (se a CPI da Privataria Tucana que, depois da “CPI do mensalão” seria a “bola da vez”, foi estrategicamente substituída pela CPI da Petrobrás, no próprio governo do PT, imagina se fosse o governo fosse do PSDB??)

Mas, enfim, o povo acordou. Depois de mais de vinte anos, os políticos continuaram corruptos desde o impeachment do Collor, e o povo anestesiado passou pela roubalheira do governo Sarney, passou pelo “mensalão” que já rolava com a compra de votos para a reeleição de FHC, e só agora “caiu a ficha” no governo do PT, e já não tem mais medo da esquerda brasileira, sempre amaldiçoada por uma direita, esta sim, macabra.

O recente documentário intitulado "O dia que durou 21 anos" depõe sobre a compra dos nossos políticos, pelo governo americano, na década de 60 (ou seja, o nosso famigerado mensalão é mais antigo ainda que o que rolava no governo FHC e que continuou no do PT) para depor Jango da presidência e instalar o governo militar ditatorial de direita, sob o pretexto de evitar, à custa de delações e torturas, uma possível mas remota ditadura da esquerda comunista (e eu pergunto, mais uma vez: Irônico, não? “Torturar para evitar torturas????!!!!!).



Já o filme 1984” (do livro homônimo de George Orwell) é uma crítica das mais ácidas (e de difícil digestão e completamente desprovida de esperanças) do modo de viver e pensar do mundo capitalista, e ao mesmo tempo uma crítica feroz também do mundo totalitário da esquerda que, no fim, nada diferem um do outro, o que muda é quem comanda, mas não como comandam, ou seja, a mão-de-ferro  é a mesma, tanto à direita como à esquerda.

O livro já foi cinematografado várias vezes (Hollywood está preparando um novo remake, a ser lançado em breve) e a última versão (lançada exatamente em 1984) traz o ótimo ator John Hurt como protagonista, um indivíduo inicialmente apático que tem como função “reescrever a história” como convém para o sistema em questão (ou seja, é o que faz hoje o nosso PIG, o partido da imprensa golpista), e assim só se divulga meias-verdades para o público.

E, ao se rebelar contra o sistema, o protagonista de “1984” é visto como traidor e é torturado, sem dó nem piedade, até aceitar e idolatrar o “big brother”. Nos dias atuais, traidores do sistema continuam sendo perseguidos, como foi o caso do australiano Julian Assange, do site “Wikileaks”, e depois a “bola da vez” foi o ex-analista da agência de inteligência estadunidense, o americano Edward Snowden, e também a blogueira cubana Yoani Sanches – mas, mais uma vez, isso é bem irônico, não? Pois a gente bem sabe como funciona o regime cubano, mas não é uma incoerência num regime democrático, como o americano, ter que ficar calado para se ter o direito “à liberdade de expressão e de ir e vir”? Ninguém questiona isso??




Também em seu livro “A revolução dos bichos”, o escritor inglês (nascido indiano) já se apontava como simpatizante da proposta anarquista, mostrando-se um libertário, totalmente avesso aos regimes totalitários quaisquer que fossem eles, de direita ou de esquerda, principalmente depois da péssima experiência vivida pelo próprio Orwell durante a guerra civil espanhola, em que o autoritarismo estava polarizado, de um lado sob a forma do fascismo da direita que acabou levando o ditador Franco ao poder e do outro sob a influência do totalitarismo da esquerda do ditador Stálin da URSS.

Mas afinal, “quem vigiará os vigias que vigiam os vigias que nos vigiam?”(é a “pergunta que não quer calar” do documentário sobre o escritor e a questão do poder de uns poucos sobre muitos). São câmeras em shoppings, nos estádios, nos clubes, e a mídia com a TV dita as regras, com os seus programinhas que “emburrecem” cada vez mais a população, tornando-a cada vez mais dominada e alienada. 

E como simpatizante do movimento anarquista puro e pacifista (costumo brincar dizendo que sou guerrilheira”, mas batalho mesmo por um país justo e digno para todos), eu tento ficar à parte do sistema o máximo que posso, mas confesso que é muito difícil, mesmo como adorável anarquista, inclusive pelo apelo das ofertas de consumo à nossa volta (e tenho filhos adaptados a esse sistema de consumo, difícil reverter isso).

Tento fazer um consumismo consciente, procurando estar a par do perfil social das empresas no trato com seus funcionários (chego ao cúmulo de só tomar café apenas numa das cantinas onde trabalho, porque não gosto da relação ríspida do dono da outra cantina para com os seus funcionários), e o envolvimento delas com a preservação ambiental na fabricação de seus produtos, e evito também compras de supérfluos caros demais como, por exemplo, produtos de grifes, quando posso substituí-los por outros bem mais em conta (como as bolsas Louis Vuitton e/ou Victor Hugo, que aproveito para não consumir, já que são caras demais e não me agrada o design delas, acho-as muito senhoris). O excelente documentário The corporation” nos revela e nos ajuda neste caminho.



Assim, como “adorável anarquista”, tive que me adaptar ao “status quo” do sistema político brasileiro, e pelo menos eu votei consciente, pois além de achar que as conquistas sociais são fundamentais (e elas enfim estão lentamente acontecendo de acordo com dados oficiais da ONU dos últimos 10 anos) para caminhar para um único Brasil mais justo, também porque eu visionei que, com a continuidade do governo atual, os corruptos de todos os lados serão vigiados.

Ou seja, a grande mídia continuará denunciando impiedosamente as irregularidades do governo reeleito e de seus aliados (o que não faria se o outro candidato tivesse vencido as eleições, como bem vimos no passado com o governo FHC) e, em contrapartida, o partido do governo, junto à blogosfera, denunciarão os corruptos da oposição (se é que “Privataria Tucana” será um dia julgada, mesmo no governo atual oponente, com a grande mídia “cega, surda e muda” quando convém).

E, como disse Bakunin, ainda assim nunca estaremos livres da corrupção, nem no Brasil e nem em qualquer lugar do mundo (“quem não acredita nisso, não conhece a natureza humana”), mas só assim, ao puni-la, estaremos construindo um Brasil menos hegemônico entre nós mesmos, e mais justo e mais homogêneo, e principalmente, não mais de corruptos impunes. 

Como sou contra intolerância e principalmente contra militares no poder, caso o Brasil rache em dois (o sul há muito já tem idéias separatistas), com as passeatas de insatisfeitos com a democracia, me avisem antes, porque “atenção, Nordeste, aqui vou eu”. 

E, “para não dizer que não falei das flores”,  termino mais esse texto extremamente angustiante para mim, com cenas, do nosso sombrio passado, dos militares no poder. Não é preciso palavras, pois as cenas em preto e branco, ao som de Geraldo Vandré, dizem tudo.



Em tempo: diferente do Lobão, cumprirei minha promessa, mas é bem verdade que ele é que deveria (junto com a pequena corja que o segue, pedindo a volta dos militares ao poder) cumprir a promessa e sair, não de uma região, mas do país como prometeu (e uma boa dica de ditadura militar já prontinha aguardando por ele, é a República Centro-Africana, ou então, mais para o nível social dos filhinhos de papai insatisfeitos que fazem coro com ele, fica a dica das longínquas mas belíssimas ilhas de Fiji, na Oceania). Já vão tarde.

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