O termo “inconsciente coletivo”, apesar das diversas teorias para explicá-lo (seja de cunho científico, psicológico, filosófico ou espiritual), pode ser interpretado como fazendo “parte do inconsciente individual”, mas que, no entanto, resulta da experiência “ancestral” da espécie, ou seja, contém material psíquico que não provém de uma experiência pessoal.
Por exemplo, como explicar que, uma criança de pouca idade que não tenha noção ou mesmo medo de altura, no entanto, experimente pavor diante da famosa “cara feia” ou do “bicho papão”?
Por que, quando ainda adolescentes, sentimos, ao mesmo tempo, atração e repulsa por filmes sobre criaturas vampirescas??? É um medo aparentemente infundado, visto que jamais tivemos experiência prévia com tais “criaturas do mal” e bem sabemos que elas sequer existem.
É bem verdade que o cinema anda desconstruindo essas criaturas malévolas e assustadoras do imaginário infanto-juvenil, como acontece no divertido longa-metragem de animação “Monstros S.A.”, em que a personagem, com o sugestivo nome “Boo”, uma menininha que, literalmente, resolve “dar um basta” no assustador “bicho-papão” de nome Randall, um réptil camaleônico, camuflado de maldade, que insiste em assombrar suas pueris noites de sono.
O psiquiatra suíço Carl Gustav Jung comparava o inconsciente coletivo ao ar, que “é o mesmo em todo o lugar, é respirado por todos e não pertence a ninguém”. Jung chamou de “arquétipos” o conteúdo psíquico do inconsciente coletivo.
Arquétipos seriam tendências “herdadas” que levariam o indivíduo a comportar-se de forma semelhante aos seus ancestrais que passaram por situações similares. Eles dão origem às fantasias individuais, e estão relacionadas também às mitologias de todas as épocas.
Podemos citar a imagem de Afrodite/Vênus como o arquétipo de mulher bonita, o Príncipe Encantado como o arquétipo do homem perfeito, e Cinderela como arquétipo da mulher à procura de alguém que a ame verdadeiramente, o seu príncipe encantado.
Em todo o indivíduo sempre haverá arquétipos operantes, e todo arquétipo traz características positivas e negativas; por exemplo, você pode querer o príncipe da Branca de Neve (com direito a cavalo branco e tudo), mas também existe um medo de que este vire um sapo, ou que o romance acabe tragicamente, como o de Romeu e Julieta.
E, novamente aqui, o cinema tem desconstruído também estes arquétipos da beleza perfeita, do príncipe encantado e do casal perfeito, como em outro longa de animação, o “Shrek”, ao som de “Hallelujah”.
Todo mundo quer encontrar seu “par perfeito” ou sua “alma gêmea”, pode-se então dizer que isto provém de um arquétipo, da figura de Adão e Eva (ou de outra similar, pois em todas as religiões existe uma história que ilustra a união entre “as polaridades”). Existe, em todos nós, o desejo de encontrar alguém que seja o mais próximo possível da perfeição... (mas, pergunto eu, o que é ser “perfeito”???)
Já o termo “protótipo” é, por definição, “um exemplar”. Serve de padrão estabelecido. O protótipo faz parte do nosso “consciente coletivo”. A sociedade nomeia os seus protótipos, que mudam de tempos em tempos. Por exemplo, a boneca Barbie foi criada em 1960, e tornou-se, na época, o protótipo da mulher perfeita; se bem que a Barbie é “perfeita” para o padrão e (mau) gosto americano, diga-se de passagem, ou seja, “loira, perna fina, muito peito siliconado e pouca bunda” (as Barbies humanas que o digam).
A mídia e os meios de comunicação, como a TV com suas novelas e séries, assim como o cinema, se encarregam de nos mostrar arquétipos e protótipos de todos os tipos. Os vampiros estão entre os arquétipos mais famosos da lista dos seres mitológicos. Criaturas vampirescas são entidades fascinantes e misteriosas, que atiçam o inconsciente coletivo, pois simbolizam, entre muitas outras coisas, a vida eterna, um dos sonhos inalcançáveis do ser humano.
O cinema sempre explorou estes seres maléficos, desde “Nosferatu”, um clássico do cinema alemão (da década de 20, ainda nos primórdios da sétima arte), e “Drácula”, dos anos 30, com o ator Bela Lugosi, como seu representante “imortal e eterno”, dirigido pelo excêntrico Ed Wood.
O cineasta Tim Burton filmou recentemente, “inovando” em preto e branco, a história da polêmica vida do “pior cineasta do mundo”, com o “camaleão” (aqui no bom sentido) mais charmoso e versátil do cinema, o ator Johnny Depp, no papel do excêntrico “Ed Wood” e o veterano ator Martin Landau no papel do falecido Bela Lugosi. Imperdível.
Já o gótico “Fome de viver” (“The hunger”) dos anos 80, com o andrógino cantor David Bowie (e também Catherine Deneuve e Susan Sarandon) é sensual ao extremo. Divino e maravilhoso.
E o que dizer dos modernos e charmosos vampiros Tom Cruise, Antônio Bandeiras e Brad Pitt, em "Entrevista com o vampiro"? Quem não gostaria de ser mordida por um deles? Eu entregaria sem nenhuma resistência a minha jugular para eles. (kkk)
E que tal relembrar o psicodélico “A hora do espanto” (“Fright night”), dos anos 80 (muito melhor que o refilmado em 2011)?
Quanto às séries televisivas, a americana “Angel” deu continuidade à fama de “Bufy, a caça -vampiros” (ambas já finalizaram as temporadas), enquanto as séries “The Vampire diaries”, “True Blood” e “Supernatural” ainda povoam o imaginário dos telespectadores da telinha, desde que estrearam.
E temos o novo “Drácula, de Bram Stoker”, dirigido por Francis Ford Coppola, com Winona Ryder, Anthony Hopkins, Gary Oldman e Keanu Reeves. O escritor Bram Stoker foi reconhecido como o autor pioneiro da principal obra literária sobre o mito (na verdade “Nosferatu” foi o primeiro filme baseado no conto de Bram Stoker).
Com “Um drink no inferno” (“From Dusk till Dawn”), o alternativo Quentim Tarantino se consagrou, para sempre, como um grande roteirista/cineasta/ator no mundo da telona.
Como a fórmula nunca se esgota, o ótimo filme sueco “Deixa ela entrar”, de 2008, mistura sangue e dentes afiados a adolescentes solitários, e o americano “Let me in” (no Brasil, “Deixe-me entrar”), de 2010, foi baseado na mesma história (particularmente gosto mais do sueco, que é mais psicológico, enquanto o americano é mais estilo “blockbuster”, cheio de efeitos especiais mas pouco conteúdo psicológico). E agora a famosa saga “Crepúsculo” (que, para mim, mais parece uma novela adolescente, tipo “Malhação”, só que com vampiros adolescentes) ainda é o mais novo “queridinho da América”.
Em tempos de “Halloween” (“Dia das Bruxas”), exatamente hoje, dia 31 de outubro (“gostosuras ou travessuras?”), fica a dica do “inconsciente coletivo” no cinema, pois sempre haverá espaço, na sétima arte, para novas tendências e para novos e alternativos arquétipos, principalmente os vampiros, pois o mito sempre sobreviverá, pois é imortal, assim como o próprio cinema.
Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")
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