O humor irreverente das "sitcoms"



Sitcom” é uma abreviatura da expressão inglesa “situation comedy”, um estrangeirismo usado mundialmente, inclusive no Brasil. As primeiras séries, no formato “sitcom”, surgiram no Reino Unido, ainda na era pré-televisiva, na chamada “época de ouro“ do rádio.

A expressão hoje é usada para designar séries de televisão que abordam a vida de personagens comuns (do cotidiano das cidades grandes, principalmente), encenadas em ambientes usuais, tais como o âmbito familiar, o dia a dia nas ruas e no trabalho, e em geral, são repletos de um humor ácido ou, no mínimo, muito, mas muito, irreverente.

Habitualmente, os realizadores usam o recurso das claques (aquelas sequências de risadas previamente gravadas) nestas séries cômicas, mas não é uma regra, muitas vezes os programas são, inclusive, gravados ao vivo, com platéia e tudo.

Diferente das séries tradicionais, o interessante de um “sitcom” é que não há necessidade de assistir episódios sequenciais para se compreender o mesmo, pois apenas os personagens são os mesmos, mas as histórias, em geral, independem umas das outras pois têm começo, meio e fim (para mim, que sou médica com uma vida atribulada, e metida a “aprendiz de escritora” nas poucas horas vagas, este tipo de formato de série cabe mais facilmente no meu dia a dia).

Os primórdios destas séries tiveram início com a famosa e antiga série cômica “I love Lucy” dos anos 50 (ainda em preto e branco, reprisada exaustivamente por décadas na TV), que tinha a tresloucada Lucille Ball como protagonista (que era, por si só, uma comédia à parte), sempre envolta em confusões que ela mesma se metia. 


O sitcom americano “Seinfeld” (na verdade reprises, pois a série já está extinta há mais de 15 anos, mas ainda é sucesso absoluto) é uma série sobre o “nada”. Isso mesmo, sobre “absolutamente nada” – quatro amigos começam sempre o dia sem exatamente nada inusitado para fazer, e simplesmente do nada surgem as mais impressionantes histórias do dia a dia, com quatro amigos “topando” com os mais diversos tipos, transeuntes de uma cidade totalmente cosmopolita como é Nova York.



Jerry Seinfeld é um conhecido comediante nova-iorquino que, na série, faz o papel dele mesmo (mas a fama veio, na verdade, com o sucesso da série). George Constanza (papel do ator Jason Alexander) é o amigo mal resolvido, algo depressivo, gordinho, que odeia ser careca, sem uma profissão definida (queria ser arquiteto) e um mentiroso contumaz. Kramer (Michael Richards) é o amigo e vizinho algo desequilibrado, com um parafuso a menos, e que (não tão) inocentemente sempre se mete em algum pequeno negócio escuso. Elaine (Julia Louis-Dreyfus) é a única mulher do grupo de amigos, é descolada e acaba sempre se envolvendo com as aventuras inicialmente não programadas dos seus amigos.
Uma curiosidade para os aficionados em séries: no vídeo acima, quem faz o papel do dentista (que Seinfeld reclama com o padre no confessionário, e que no episódio faz o papel do namorado de Julia Louis-Dreyfus, a Elaine) é o ator convidado Bryan Cranston (o Walter White, do recente seriado Breaking bad”). Quem viu o recente Emmy Awards 2014 (o prêmio anual da categoria) pode não ter entendido o porquê do beijo cinematográfico dos dois atores em plena premiação (taí a explicação para a brincadeira on the air live).

Na extinta série, estavam também, como convidados em Seinfeld”, a Anna Gunn e Bob Odenkirk (a esposa e o advogado de Walter Heisenberg” Whyte) entre outros, que também deixaram a comédia para se aventurarem no drama.




E a irreverência do grupo era tanta, que eles fizeram um episódio como se estivessem criando o próprio sitcom sobre o nada” dentro do mesmo, numa metalinguagem prá lá de divertida (abaixo).


O grupo britânico “Monty Python” , da irreverente série “Monty Phytons Flying Circus” tinha o ótimo John Cleese como “um dos cabeças” do grupo (no ar, na década de 60-70, foram parar no cinema com vários filmes, todos sucessos de bilheteria). 

O grupo (os que ainda estão vivos estão com cerca de 70 anos de idade e são John Cleese, Terry Guillian, Eric Idle, Terry Jones e o engraçadíssimo Michael Palin), que não se apresentava há mais de 30 anos (se desfez na década de 80), acaba de realizar em Londres uma única apresentação dos integrantes, e o espetáculo foi gravado ao vivo e vai ser exibido nos cinemas em breve, inclusive no Brasil.




Como curiosidade, o famoso grupo britânico foi, indiretamente, o criador do termo SPAM que hoje é largamente usado na internet, tamanha a influência do grupo até os dias de hoje –  a palavra SPAM”, que aparece num dos esquetes (totalmente non-sense) do grupo, é a contração do vocábulo spice ham (presunto temperado), e no tal episódio (dos anos 70), vikings repetem exaustivamente a palavra que, por analogia, passou a ser usada na web, significando qualquer coisa chata que é literalmente empurrada para o internauta”.




E com sua comédia “non-sense”, prá lá de surreal, o grupo inglês influenciou inúmeros programas de comédias, como os americanos “South Park” e “Saturday Night Live”, o português “Gato fedorento” (abaixo kkk), e inclusive os brasileiros “Asdrúbal trouxe o trombone”, “TV pirata” e “Casseta e Planeta”.




Friends” ficou no ar durante exatamente 10 anos (de 1994 a 2004) e retratava a trajetória de seis amigos, de vinte e poucos anos, que tinham terminado a faculdade e começavam a trilhar os caminhos da vida, em relação ao futuro incerto,  numa cidade grande como Nova York, e compartilhavam, debaixo do mesmo teto, despesas, relacionamentos, alegrias e tristezas. Em tom de comédia, a série retratava a geração X (a minha geração coca-cola), a primeira geração a enfrentar a vida fora da casa dos pais, com uma nova família substituta, os famosos roommates”. 


“Saturday Night Live” no ar até hoje, completando três décadas, é um programa humorístico que conta com uma gama de comediantes que, através de esquetes, faz paródia de toda forma de cultura e também da política americana.

O programa tem como “teaser”, para chamar a atenção do público logo após o monólogo de abertura (imediatamente antes dos créditos iniciais), a frase pronunciada sempre por um dos comediantes (ou convidados), que “sai do esquete” e grita: “Live from New York, it’s Saturday night”.


Contando sempre com uma celebridade como convidado especial (além de um convidado musical), que por sua vez também participa de esquetes com o elenco e, em geral, os comediantes arranjam alguma forma de zoar alguma atuação artística famosa do convidado.

E o programa faz inclusive sátiras dos seus próprios esquetes e também de outras séries americanas, como na paródia da série “The Walking Dead”.



Absolutely Famous” era uma série britânica (foi ao ar nos anos 90 e voltou na virada do século) que retratava de forma satírica e divertida a sociedade consumista dos anos 70-80 ao contar a história de duas amigas prá lá de balzaquianas (e a filha, politicamente correta, de uma delas) e seus vícios por álcool e drogas e moda psicodélica, numa desesperada e hilária forma de se manterem jovens e eternamente hippies (a eterna geração dos baby-boomers).



M.A.S.H.” (abreviatura de “Mobile Army Surgical Hospital”) foi uma premiada série americana do gênero comédia dramática dos anos 70 (inspirada no filme homônimo do diretor Robert Altman) que fazia uma crítica bem ácida de todas as formas de poder e autoritarismo e foi um dos instrumentos anti-bélicos mais importantes veiculados pela TV. 

O ótimo ator Alan Alda, como o principal protagonista, acompanhava o cotidiano de um grupo de militares que tinham que cuidar dos feridos de guerra (o mundo vivia no auge da Guerra do Vietnã).


Married... with children”, dos anos 80-90 (no Brasil, “Um amor de família”) retratava uma problemática (mas não menos engraçada) família americana, classe média baixa, com inúmeros problemas financeiros, cujo pai de nome Al Bundy, era um fracassado vendedor de sapatos, e sua mulher, a Peggy, uma dona de casa nada interessada nos afazeres da casa, além de uma filha bonita, a Kelly, mas burra e promíscua, e um filho de nome Bud com seu jeitão nerd e nada popular, e contava também um cão, de nome Buck, que tinha o costume de “pensar alto” expressando suas tiradas sarcásticas em relação aos seus famigerados donos. 



South Park” é um irreverente sitcom de animação cuja narrativa é feita a partir de quatro meninos “bocas sujas” que contam suas aventuras prá lá de bizarras na cidade do Colorado que leva o nome da série. Em geral fazem paródias de celebridades e muitas referências pop-culturais do nosso século, além de sátira social e um certo humor escatológico. 


The Nanny”, dos anos 90, contava a história da bela babá Fran Fine que, por conta da sua voz extremamente anasalada, fazia ficar ainda mais divertida as suas tiradas irreverentes, na casa do seu patrão milionário (com seu mordomo intrometido e sua secretária ciumenta), com o aval das crianças que simplesmente a veneravam.



Como não dá para falar de todos, deixo a lembrança de CheersEverybody loves RaymondMy wife and kidsThe SimpsonsGet Smart (O agente 86), The Cosby Show30 rockAlf (O ETeimoso)That'70 show , Everybody hates ChrisWill and GraceMad about youMary Tyler Moore”, Two and a half manBig Band Theory, entre muitos outros. 

prá fechar com chave do ouro este texto, deixo uma cena do sitcom Ally McBeal (a série terminou em 2002 e tinha como protagonista Calista Flockart, e no episódio em questão teve a participação  especial de Robert Downey Jr), que contava a história de um grupo de amigos advogados que, nas horas de folga, entre os diversos casos judiciais arrolados dentro do tribunal, se reuniam num bar para um happy hour, onde sempre rolava uma canja de algum músico famoso (no caso, nada mais nada menos que o cantor Sting, ex The Police, cantando Every breath you take”).

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