O cérebro reptílico: mau gosto se discute sim (e se lamenta)




Já não é a primeira vez que insistem (e tentam me convencer) que eu tenho que ouvir a “boa” música sertaneja brasileira, ou melhor, as famigeradas “duplas sertanejas”, aliás, a nossa atual pseudo música sertaneja. Já me disseram que era “má vontade minha, que eu não me dava a chance” de tentar ouvir (e gostar) desse tipo de música.

Juro que eu já tentei, e não foi só uma vez, juro, não é má vontade, até fiz um esforço sobrenatural, mas... simplesmente não dá. Falta qualidade nas letras, são versos muito simplórios, rimas sofríveis, e as tais “duplas sertanejas” são muuuuuito chatas, muuuuuito bregas, eles não cantam, apenas gritam, com uma voz esganiçada, estridente, e extremamente irritante (e olha que me indicaram os melhores... fico a imaginar os piores do ramo).

O comediante canadense Joe Lajoie não deixa por menos, na (hilária) denúncia a essas pseudo-canções, no seu vídeo “Pop song”, cuja letra é um deboche mordaz a esses pseudo-músicos “bonitinhos, mas ordinários” (leia-se Justin Bieber, Victor e Léo, e tantos outros), que grandes empresários da indústria fonográfica lançam essas “belezuras” no mercado, para impressionar adolescentes carentes, com suas “musiquinhas” pseudo-românticas. Imperdível (uahuahuah).




Essa cultura de massa foi inventada para pura exploração comercial (não é novidade que, muitos cantores sem sucesso, iniciantes na MPB, são convencidos pelos seus empresários, para entrarem nesse filão do mercado, pois é retorno financeiro garantido”), visando um público aculturado, nada exigente, com cantores “chulés” (que gritam, ao invés de cantarem), com letrinhas “chinfrim” que qualquer caminhoneiro escreveria  e até cantaria melhor (talvez até com mais sentimento e mais poesia).

Um exemplo típico disso no Brasil: alguém realmente consegue acreditar que Victor e Léo, dois marmanjos almofadinhas, realmente cantam com convicção, “de coração e peito aberto”, a tal musiquinha brega, intitulada “Fada” (que não convence nem pré-adolescentes histéricas em profusão hormonal) – “vejo minha fada, e sua vara de condão tocando meu coração...” –  aff, socorro, eu teria ânsia de vômitos se alguém ousasse se declarar para mim com essa frase ridícula, no mínimo eu ia achar que o fulano está zoando com a minha cara).

E, como no vídeo do La Joie, dou minha “cara a tapa” se, nos bastidores, eles não debochem da tal musiquinha, mas aceitaram o teatro” para fazer sucesso fácil, ganhando uma grana preta em showzinhos para adolescentes carentes e sedentas por romantismo barato.

A concepção científica da neurofisiologia moderna divide o nosso cérebro em três partes: o cérebro central reptílico (o nosso lado primitivo), o cérebro direito (o nosso lado sensitivo) e o cérebro esquerdo (o nosso lado analítico).

O cérebro reptílico ganhou este nome por estar associado à primitividade, ou seja, é a parte do nosso cérebro semelhante à dos répteis e outros animais menos favorecidos de sentimentos e discernimento.

O cérebro reptílico está localizado na parte central do nosso encéfalo e está associado às nossas mais rudimentares necessidades como instinto de sobrevivência, acasalamento e preservação da espécie, e é predominante ao nascimento, daí o bebê humano se identificar com sons, toques e ritmos repetitivos, quase tribais, incentivados pelas mães que então se comunicam com os seus rebentos por onomatopeias.

Com o crescimento e a evolução do homo sapiens, passamos a depender menos desta parte do cérebro (pelo menos, até o século passado, assim acontecia) e quanto mais educados e civilizados mais deixamos de lado o cérebro primitivo e passamos a priorizar os outros dois cérebros, que envolvem sensibilidade e sentimentos (cérebro direito) e poder analítico e contestador (cérebro esquerdo).

Sigmund Freud denominou os três processos cerebrais em “id, ego e superego”. O “id” corresponderia ao lado reptílico, seria o inconsciente coletivo, a natureza humana; o “ego” seria o nosso lado direito, as aspirações pessoais, os sentimentos; e o “superego” seria a formação educacional e cultural do nosso lado esquerdo, que é analítico e censor.

Piaget, na Psicologia da Aprendizagem, chamou os três processos de: pensamento concreto ou reptílico (do cérebro central), pensamento imaginário ou sonhador criativo (do cérebro direito) e o pensamento lógico abstrato (do cérebro esquerdo).

Diz o provérbio que “gosto não se discute”. Sim, concordo, mas em parte, pois eu acrescentaria um adendo ao provérbio que, a meu ver, ficaria melhor assim: “bom gosto não se discute, mas mau gosto, este sim, se discute e se lamenta”.

Discute-se sim o mau gosto a partir do momento que passamos a usar o cérebro esquerdo analítico e contestador, e lamenta-se porque o nosso cérebro direito sensitivo não é capaz de tolerar mau gosto extremo (só quem o suporta é o cérebro primitivo, o reptílico).

Não se discute o bom gosto musical, entre preferências como a música clássica, a bossa nova, a nossa real e boa MPB, o jazz, o blues, o rock, o tango, o reggae. Não há cérebro direito sensitivo que não se delicie com a cena dos majestosos passos de dança do personagem cego de Al Pacino no filme “Perfume de mulher”, ao som do belo tango “Por una cabeza”, do argentino Carlos Gardel.




Quanto à boa melodia folclórica e a do sertão (que enaltecem os valores, os sentimentos e sofrimentos do homem do campo), estas não deveriam jamais ser confundidas com a pobreza sonora e linguística das, assim chamadas pela mídia fonográfica, “duplas sertanejas” e “sertanejas universitárias” da atualidade, pois o sertão nada tem a ver com guitarra e muito menos com universidade e letras pseudo românticas ou de baixaria explícita.

Uma coisa é música de roça, interiorana, de raiz, isso sim, é legal. Na roça, “sertãozão” mesmo, não tem guitarra, os instrumentos que acompanham os cantores (em geral com vozes de lamento) são a gaita, o violão e o acordeom. E o maior representante dessa verdadeira música de sertão foi o Luís Gonzaga (com o clássico “Asa Branca”); e Gilberto Gil “arrasa” cantando “Esperando na janela”, uma autêntica música sertaneja, no ótimo filme “Eu, tu e eles”.



Assim como dizem que o blues é “a dor sofrida  transformada em dor cantada” pelos negros escravos americanos catadores de algodão, saudosos de sua terra natal, a legítima música do sertão brasileiro é também sofrida, pois canta a dor do sertão, da seca, da pobreza infinita. Ao contrário, ouvir essas pseudo duplas “sertanejas”  é sofrimento sim, mas para os ouvidos, é pobreza sim, mas de espírito.

É preciso discutir sim o quão lamentável é o mau gosto musical desta novíssima geração do século XXI, pois trata-se de esperteza midiática da indústria fonográfica para vender lixo para uma juventude imbecilizada que sofre de inanição cultural (só de vez em quando, surge uma ou outra novidade (mal divulgada) que se salva da pobreza musical da nossa atualidade brasileira, como é o caso por exemplo da Vanessa da Mata (abaixo, com o cantor americano Ben Harper), mas no geral é puro “trash”.



Muitos dos antigos e atuais expoentes da boa música (tais como Bob Marley, Bob Dylan, Eddie Vedder do Pearl Jam, Raul Seixas, Cazuza e outros) usaram suas melodias para mostrar seus cérebros evoluídos (o direito sensitivo e o esquerdo analítico contrapondo ao cérebro primitivo reptílico) denunciando as atrocidades do mundo “sin perder la ternura jamás” (muitos indivíduos “sem noção” criticam estes gênios por se drogarem, mas não é fácil manter a sensibilidade e ficar “limpo” e sóbrio neste mundo cada vez mais primitivo e insensato).

Abaixo, uma mistura internacional de muito bom gosto, com os nossos eternos “Titãs” e o músico argentino Fito Paez cantando “Go back”, na versão hispânica, e emendando com “Stir it up”, do Bob Marley.




E para ser jovem nos dias de hoje necessariamente tem-se que ser um descerebrado? Pois apenas cérebros reptílicos podem gostar de ouvir “músicas” monossilábicas, repletas de onomatopéias do tipo “eu quero tchú tchú tchá tchãn”, “e vai rolar o tchê tchererê tchê tchê”, “eu sei fazer o lê lê lê lê”, “ela gosta do meu rá rá rá rá, do lepo lepo”, e por aí vai a pobreza linguística. “Aff”... mais primitivo que isso, impossível. E o sempre hilário e contestador “Porta dos fundos” tem um esquete imperdível ("Sucesso") sobre isso (uahuahuah).




E para ser “cool” é preciso ouvir música sertaneja “universitária”? Os tais “cantores universitários” têm vozes estridentes, cantam musiquinhas com letras chinfrins repletas de gente bêbada, de traição escancarada, de desrespeito ao sexo feminino e estímulos a azaração despudorada e sexo sem compromisso (quase sempre conta a história de algum imbecil que está numa balada, contando vantagens machistas ou, em outro extremo, narrando a chifrada homérica que tomou pelos cornos).

A baixíssima qualidade da música produzida, na década atual, associa a ideia de que para ser jovem é preciso ser, antes de tudo, um imbecil, e estimula o modelo atual de uma juventude irresponsável, mediocrizada e de baixíssimo nível cultural.

Tanto que a década está sendo considerada “a era da imbecilidade monossilábica”, tal a hecatombe cerebral que assola a atual juventude brasileira. Nesta hora é bom não ser mais tão jovem (graças a Deus, sou da contestadora “geração coca-cola”), pois eu teria vergonha de pertencer a uma juventude tão mal afamada e infantilizada.

Os fervorosos defensores desse “pseudo gênero musical”  dirão que “o estilo é romântico, e que se não fosse bom, não lotaria os estádios e casas noturnas”... discordo totalmente... esses “argumentos” eu coloco abaixo em questão de minutos...

Em primeiro lugar, esse tipo de música peca pelo excesso de cafonice, porque convenhamos, para ser romântico não precisa ser brega, há músicas excelentes da nossa MPB que são românticas (e até falam de traições, mas não são nada bregas ou apelativas), muito bem representadas por excelentes bandas, como por exemplo, Titãs e Paralamas do sucesso, e interpretações divinas na voz, por exemplo, da Marisa Monte, da Adriana Calcanhoto, Vanessa da Mata, e por aí vai... e que, infelizmente, não têm muito espaço na mídia fonográfica atual.




Em segundo lugar, lotar um show não quer dizer nada, sempre haverá público lotando estádio em qualquer tipo de show. E lá vêm os defensores dizendo que “faz sucesso até nos EUA”... pode até fazer algum sucesso “nos rincões da vida”, mas o público que lota esse tipo de show, tem o Bush como líder, um “letrado” que não sabe se expressar nem na sua própria língua, um aculturado e representante da pobreza intelectual daquele país, que mal consegue achar o próprio país no mapa...

E se lá, no primeiro mundo, existe isso, imagine por aqui com os “novos ricos” (o protótipo deles são os jogadores de futebol)... ter dinheiro não significa ter cultura, muitos abastados são analfabetos culturais, daí vemos até a zona sul render-se ao ridículo funk com suas letras de baixo calão e sua dança vulgar de cunho sexual, nada sensual (mulher nenhuma fica sensual numa dança que prima por movimentos simiescos e frenéticos, com celulites tremulando em roupas apertadas de gosto duvidoso – “calça da gang” vestindo as “cachorras” é o “ó do borogodó”).

Pois pode apostar... a maioria das garotas da zona sul que curtem esse tipo de dança são, na sua grande maioria, pertencentes a classe social dos “novos ricos”, e são aculturadas e de cabeça oca, como qualquer excluído da zona norte, apesar de frequentarem faculdade paga pelo papai “novo rico”, isso vale também pela preferência por essas músicas bregas sertanejas, de letrinhas imbecilizadas de cantores de voz esganiçada.

E se é para lotar, temos os programas de gosto duvidoso que são campeões em audiência, os do tipo Silvio Santos, Faustão, e as baixarias explícitas como Big Brother, além das novelas com temas que giram em torno de traições e mau-caratismo, todos sem exceção, têm audiência garantida, porque não fazem pensar, é só mediocridade explícita.

Rubens Alves, professor, escritor  e  psicanalista, morto recentemente, escreveu sobre o “vício que as pessoas adquiriram de não pensar”, e dá “dicas” de como embotar mais e mais a mente, afirmando que há “leituras especializadas em impedir o pensamento”, como os jornais e revistas que publicam sempre os mesmos casos com caras e nomes diferentes (“O Globo” de domingo, revista “Caras”).

Assim “fica garantido que só se pensará sempre as mesmas coisas”, e o escritor dá a dica para “não se esquecer de ver o Silvio Santos e o Faustão para mais alienado ainda ficar”, pois assim “terás uma vida tranquila embora banal, mas você não perceberá o quanto banal ela é”, termina o escritor.

O lamentável problema é que as novas gerações já nascem “pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré” em matéria de sonoridade musical, pois não estão tendo nenhuma oportunidade de aprimorar os ouvidos e perceber a pobreza musical da nossa famigerada (e antes bela) MPB atual.

Funciona como lavagem cerebral, ou seja, a falta de acesso a outros estilos musicais e a massificação da mídia tornam mais fácil a aceitação pelo público classe C, D e E que lota esses shows, pois as letras dessas músicas são precárias, não precisa usar massa cinzenta para entendê-las.

Quer um exemplo? Músicas horrendas de propaganda eleitoral e “jingles chatérrimos” de propaganda comercial ficam impregnadas no nosso subconsciente pela repetição em demasia, e sem percebermos, e apesar de muitas vezes detestarmos as  tais “musiquinhas”, acabamos por decorá-las e sem querer nos vemos cantarolando tais músicas.

Tal é o poder da mídia – é assim que funciona, lavagem cerebral total – com as músicas das aberturas de novelas então nem se fala... eu, por ex, detesto a música “Como uma deusa” (sei lá se esse é o título) da tal cantora brega Rosana, mas sei “de cor” quase toda a letra da música, tal a lavagem cerebral da época, de tanto que se ouvia essa musiquinha brega...

Portanto, não é má vontade, acontece que, depois que se tem acesso a estilos musicais como o blues e os jazzistas americanos, a um bom rock, a talentos como Tom Jobim, Chico Buarque, aos mineiros do “Clube de esquina” e seus seguidores da atualidade, fica difícil gostar dessa falsa versão eletrônica camuflada de “música do sertão”, pois a diferença na qualidade sonora é gritante.

Quando insisto em me recusar veementemente a dançar essas coreografias ridículas, muitos me criticam dizendo também não gostarem, mas que eu “deveria entrar no clima”, que eu “não deveria levar tão a sério”, que eu deveria “entrar na brincadeira”, mas o que essas pessoas não percebem é que a indústria fonográfica só veicula o que o povo consome, e se continuarmos a consumir esse lixo, mesmo não gostando, mesmo “de brincadeirinha”, o que vai acontecer é a proliferação de mais e mais deste tipo de lixo no cenário musical, e as novas gerações só terão acesso a esses trastes para se espelharem.

Até os idos anos 80, minha então geração, a chamada geração “Coca-Cola”(apelidada pelo Renato Russo, do “Legião urbana”), havia o “joio e o trigo” na MPB. Na época, podia-se escolher entre um ou outro. De um lado, havia “o trigo” representado por bandas revolucionárias como “Titãs”, “Paralamas do sucesso”, “Legião Urbana” e outras, e ainda tinha o legado das gerações anteriores, como a bossa nova de Vinícius de Moraes, Tom Jobim e João Gilberto, os antigos mas ainda “novos baianos”, e também os mineiros do “Clube de esquina” marcavam presença nas festas...



E assim podíamos viver ao largo dos “joios” da época, representados pelo monte de lixo que aparecia também como agora em profusão na música brasileira, tais como Gretchen (com a sua melô do “piri piri”), Odair José com suas letras de empregada doméstica (sem preconceitos contra a classe em si, mas culturalmente...), Reginaldo Rossi com seu pseudo-romantismo (brega até não poder mais) e tantos outros mais, agora esquecidos no limbo das músicas descartáveis (como acontecerá com esses lixos “sertanejos”). 

E mesmo músicas bregas quando repaginadas por grandes talentos podem mudar totalmente, como por exemplo, a antes brega música Você não me ensinou a te esquecer ganhou nova roupagem na voz de Caetano Veloso, que caiu como uma luva no filme Lisbela e o prisioneiro”, cuja divertida e romântica história se passa no sertão do Brasil.




Mas, e agora? Qual a alternativa diante dessa “onomatopéia musical acultural” que lidera atualmente o ranking das músicas (música? E lá isso é música???) mais tocadas e dançadas da atualidade? O “Lepo lepo” compete com o quê? Com Valeska Popozuda (a nova Gretchen do século XXI) com o seu desprezível “Beijinho no ombro”. E, parafraseando Arthur Xexéo, “O que é” Anita e o decadente “show das poderosas”? (Aff... eu quero a morte).

Ou então temos “um, dois, três, alto, em cima”, cada vez eu quero mais”... te enfiar a porrada, Naldo. E, “pelo amor de Deus, sai da minha vida”, Bruno e Marrone, porque não dá para aguentar tanta dor de corno assim. E você, Michel Teló, “ai, se eu te pego”, juro que te dou um chute bem no meio do seu saco. E, “ai, ai, ai... eu não aguento mais”, cala a boca, Luan Santana, porque meu ouvido não é pinico não.

E agora tem o também sofrível “Jorge e Matheus” (eu achava que era um só, mas dois é demais...) – “eu sosseguei” – dá para acreditar num cara que diz que “sossegou”,  mas precisa antes de uma “despedida de três dias para sossegar de vez ??? Parece a velha história da mulher otária que acredita piamente que o cara galinha vai deixar de ciscar depois do casório... Aff, como tem gente imbecil nesse mundo...

Só tem “joio” nos dias de hoje, falta o “trigo”, não se tem escolha. E como dói meus sensíveis ouvidos com a pobreza de acordes dessas musiquinhas ditas “sertanejas universitárias“ (se é que isso significa alguma coisa). Isso quando não é baixaria implícita (ou explícita, como no caso do funk). E as vozes desses pseudo artistas são sofríveis, cantor de banheiro é tenor perto deles.

A novíssima geração está herdando uma safra de pobreza musical sem limite, é muito lixo para uma única geração, simplesmente insuportável, e não tem nada pra contrabalancear.

Só tem isso, a qualidade instrumental é nula, as letras não tem nada de romantismo, é breguice pura, e giram em torno do universo do “corno manso ou corno infeliz” (no caso das duplas sertanejas), ou do galinha convicto no caso dos sertanejos universitários (“vou esperar minha mulher ir no banheiro, e ganho cinco minutinhos de solteiro, ela nem vai desconfiar”) ou da baixaria explícita do funk com letras de cunho sexual (impublicáveis, diga-se de passagem), todos incentivando, sem exceção, traição e azaração promíscua e sem compromisso.

Em tempo: para escrever este texto, tive que escutar (aff, tarefa árdua para meus sensíveis ouvidos) as músicas citadas no texto, com suas letras apelativas e seus cantores chinfrins, cantores de latrina, de vozes sofríveis, mas me recuso veementemente a manchar meu blog postando exemplos desses lixos, ao vivo, através dos vídeos destas pobrezas musicais.

E juro que tentei seguir a última dica de uma amiga porque, segundo ela, eu não estava ouvindo “os melhores” : um tal de Gustavo Lima e, por fim, uma tal dupla João Bosco e Vinícius, mas... (aff, só posso lamentar, é tudo muito ruim, é brega demais para o meu gosto apurado, é tortura demais para os meus ouvidos). Diante de tanto pseudo-romantismo, parece que Lulu Santos foi mesmo “O último romântico” da nossa música brasileira.




E a “Sociedade dos poetas mortos” da nossa música brasileira (Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Celso Blues Boy) devem estar se contorcendo nos seus jazigos, diante de tanto lixo fonográfico. É, Renato Russo, você achava que não, mas parece que foi “Tempo perdido” sim.



Bem, sei que o tema gera polêmica (a novíssima geração não consegue captar tamanho retrocesso da nossa MPB, mas não consigo conceber pessoas da minha geração Coca-Cola acatarem essas pobrezas musicais), mas afinal, anarquista que sou (“Thank, God”), só posso finalizar assim – gosto é gosto, não se discute, mas mau gosto, esse sim, se discute e se lamenta.  


Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")


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