Homem comprometido é como gay... não rola





Depois do meu texto “Procura-se o homem perfeito ideal” (**link no final do texto), recebi uma enxurrada de “declarações” (a maioria, de brincadeirinha) de homens se intitulando a “perfeição em pessoa” (uahuahuah). O problema é que, a grande maioria deles, são (quase) todos eles comprometidos. E, para mim, homem comprometido é como gay... não rola.

Nada contra os gays, é óbvio, mas a comparação é pertinente (explico melhor adiante). Muitos dirão, e insistirão: “não digas desta água não bebereis...” Mas eu me garanto, não por preconceitos ou por falsa moral, não é isso, não se trata disso, mas é porque homem comprometido me é anti-tesão pois, na verdade, o que me estimula numa relação é saber que sou exclusiva, que sou especial para “um certo alguém, também especial e exclusivo para mim.



Mulheres com autoestima elevada, independentes e bem resolvidas (e eu me incluo nessa rara categoria, das chamadas “mulheres alfa”) já descartam de antemão, da sua “lista de pretendentes”, os homens comprometidos, sejam eles oficialmente casados ou com qualquer outro envolvimento, se público mesmo que legalmente não oficializado.

Um adendo: infelizmente, por já os descartarmos de antemão, muitos deles perdem (e nós também, mas...paciência) a chance de um novo relacionamento por estarem comprometidos, e literalmente “enrolados”, em relações que não mais o satisfazem.

Pode parecer estranho esse “descarte de antemão” por parte das mulheres bem resolvidas, mas é uma questão de autopreservação (temos esse código entre as mulheres “alfa”, uma alerta a outra para cair fora quando o fulano é comprometido) pois homens mal resolvidos e enrolados em seus atuais relacionamentos é sinal de sofrimento à vista (como diz um amigo meu, gayzíssimo: “Darling, desapega, desapega, o bofe é comprometido”).

Porque acreditamos que, se esses homens não estão satisfeitos com seus pares, deveriam antes resolver essas “pendências” com as suas atuais, antes de tentarem se envolver conosco (até porque não queremos ser a “próxima da lista” a ser traída, pois se se trai a atual, há grande chance de repetir a dose conosco a qualquer momento).

Meu entusiasmo por alguém depende de eu me sentir o objeto de desejo do outro, e para isso (e por isso) não dá para dividir com ninguém; minha autoestima e meu amor-próprio me impulsionam para a soberania, tenho que me sentir única, exclusiva, senão... simplesmente não rola.

Se eu descobrir que fui preterida, meu entusiasmo vai a zero, minha libido desaparece, eu fico literalmente “assexuada” em relação ao meu parceiro (daí a comparação, com todo o respeito, com a minha falta de atração por um homossexual) só de imaginar que deixei de ser, mesmo que por instantes, o centro da atenção do outro (e ninguém consegue esconder uma traição por muito tempo, só não enxerga quem não quer) – para mim, “qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d'água”.



Tenho a mesma dificuldade que , em geral , impede um homem de perdoar traição da parceira, acho humilhante para o homem quanto para a mulher (por isso não gosto de sofrência, leia-se música de corno). A sociedade aceita que a mulher perdoe a traição masculina como se fosse natural, biológica (muito conveniente para os homens, diga-se de passagem), mas dificilmente aceita o contrário, que o homem perdoe a mulher traidora, pois ele logo é rotulado como corno manso e estigmatizado pela nossa sociedade machista.
A mulher ao contrário, aceita o traidor de volta ao lar como um “prêmio de consolação” afinal ela “venceu” a rival (será? ou é melhor fechar os olhos e não enxergar?). A mulher ainda é muito submissa e subjugada ao homem. Em geral, a mulher “perdoa” o traidor (eu não, estou fora dessa) mas a humilhação interior, a “navalha na carne” do seu íntimo no seu amor-próprio é a mesma para ambos os sexos porque zera a autoestima e a autoconfiança, faz o traído se sentir menosprezado, menos amado e menos merecedor.  
Mas, ao contrário do que muitas mulheres vêm pregando nos dias de hoje (“traição se paga com traição”) eu não concordo em “pagar na mesma moeda”. Ao contrário, meu “lema anarquista” sempre foi “não faça com os outros o que não deseje para si próprio”, assim minha esperança é que, um dia, todas as mulheres traídas e humilhadas não mais aceitarão de volta o traidor, e só assim seremos respeitadas não apenas como mulheres mas como seres humanos que somos todos, em igualdade e dignidade, pois a dor da traição é a mesma independente de raça, sexo ou cor.
Assim, diante de qualquer sinal de traição, por menor que seja, eu prefiro sair da relação (e jamais vou tirar “satisfação”, como muitas mulheres fazem, transformando o fulano em “vítima” eximindo sua culpa na traição e transferindo-a para a outra mulher que, muitas vezes, se envolve com homens que escondem sua situação conjugal), simplesmente eu me retiro porque, se a felicidade é pontual, acho que o sofrimento também deve ser pontual e, para mim, continuar numa relação baseada em traição é sofrimento eterno e não mais pontual.
E como costumo dizer (e sempre hei de repetir), para mim, homem cafajeste (predador e traidor) pertence ao período mais arcaico e inferior da escala evolutiva da espécie humana, portanto “não serve nem mesmo para limpar o cocô do meu cachorro” (que eu nem tenho, uahuahuah).

Mas... por mais que a gente tente, não adianta, gerações após gerações, revoluções sexuais e queima de soutiens, e continuamos toda(o)s à procura do “romance ideal”.

O filme do Woody Allen, o alegre e aparentemente descompromissado Wicky Cristina Barcelona é o exemplo fiel dessa procura. A personagem Cristina (papel de Scarlett Johansson), teoricamente livre para experimentações sexuais e relacionamentos abertos, inicialmente se deixa levar e aceita participar de um triângulo amoroso (com o libertário e sedutor Javier Bardem e a ciumenta, possessiva e tempestiva Penélope Cruz) mas percebe que, apesar de sua natureza inconstante, acaba voltando para o individualismo numa busca solitária por um romance ideal e exclusivo. No fundo, ninguém quer ser a segunda opção num relacionamento.

Em “Vicky Cristina Barcelona”, Woody Allen, mesmo despretensioso, continua (como nós) intrigado com relacionamentos, já na abertura com a letra da música “Barcelona”, que diz: “Por que tanto perder-se/tanto buscar-se/sem encontrar-se?... não encontro a razão, porque me dói tanto o coração?”...tentando compreender porque insistimos nesses “irracionais, malucos e absurdos relacionamentos dolorosos e sem futuro”. 



Quando a autoestima é saudável, ela é baseada no bom senso em que a pessoa sabe reconhecer e aceitar seu próprio valor. Quando não se tem consciência do próprio valor, a pessoa fica dependente da valoração dada por outrem, e isso num relacionamento é muito desgastante para todos os envolvidos porque o que rola são sentimentos de ciúme e posse e, por medo de ficar só, aceita-se imposição e submissão do outro, além da auto sabotagem de um e vitimização do outro.

O ótimo filme Closer, perto demais fala desses relacionamentos cheios de desencontros, de humilhações e traições, de almas solitárias, de ciúmes e posses doentios e principalmente da superficialidade e do hedonismo dos relacionamentos de hoje em dia.

O filme conta com Julia Roberts, Jude Law, Natalie Portman e Clive Owen envolvidos num quarteto amoroso, num troca-troca nada convencional, e a película inicia os créditos ao som da bela melodia “ The blower's daughter do irlandês Damien Rice, música que foi literalmente detonada na letra chata e brega da versão da Ana Carolina: é isso aí (what??!!) eu não consigo parar de te olhar”(Aff!!!!). 


Mas, voltando ao tema sobre como encontrar um homem ideal, e como tudo na minha vida me leva ao mundo do cinema, me lembrei da personagem da atriz Uma Thurmam, no filme  Brincando de seduzir (Beautiful girls) quando diz: tudo que eu preciso é de um cara que me chame de docinho na hora de dormir ou tudo que eu preciso à noite é de um Dry martini e Van Morrisson.



Ao som da famosa música “Sweet Caroline”, de Neil Diamond, que faz parte da bela trilha sonora deste filme dos anos 90, temos também o belo e charmoso Matt Dillon e a (ainda menina) Natalie Portman, personagens envolvidos em relacionamentos sem futuro, repensando seus passos e suas vidas.



Mas voltando às declarações do início do texto, eu disse que quase todos são comprometidos, quase, nem todos, e se você se acha a “perfeição em pessoa” e está descompromissado, então aproveita, ouça “Paralamas do sucesso” com Herbert Vianna cantando (e) “me liga” (rsrsrs).



Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")

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