"Ageless": naturalmente de corpo e alma






Quantos anos você tem? E quantos anos você aparenta ter? Há pouco tempo ganhei um novo apelido (mais um para a minha coleção, que inclui “mulher alfa”, “fashion e “adorável anarquista”).

Ageless”. Já acostumada a questionarem a minha verdadeira idade (porque sempre ganho, no mínimo, uma década a menos do que tenho realmente), mas desta vez, uma amiga (não a via há muito tempo, mas ela me segue” virtualmente pelo blog) me rotulou recentemente como sendo uma pessoa ageless (pessoa que não se consegue definir a idade).

Como me pegou de surpresa, devo ter feito uma cara questionadora (esse é o problema do corpo, que nos denuncia, mesmo quando tentamos disfarçar um sentimento, é o “corpo que fala o que a alma tenta esconder), talvez eu tenha feito uma cara de dúvida” (seja lá o que significa isso), pois eu ainda estava “digerindo” a frase, sem saber se a considerava um elogio ou não.

Ao perceber minha provável oscilação facial, a amiga explicou: “Você continua a mesma de sempre, é uma pessoa naturalmente ageless de corpo e alma. E continuou: Você se mantém naturalmente jovem por dentro e por fora”.

E minha amiga discursou sobre a minha pouca mudança física, desde que me conheceu na adolescência (hum, nem tanto, pois disfarço bem as madeixas brancas que cismam em aparecer ano após ano), minha eterna disposição e meu vigor físico (nem tanto assim, preciso urgentemente fazer ginástica  haja saco, que o diga o humorista Leandro Hassun – enquanto não tenho as fatídicas dores articulares que tanto ouço reclamarem ao meu redor, pois sou do tipo mignon, adoro comer e tenho tendência a ligeiro sobrepeso).




E a minha amiga então falou sobre minha desenvoltura e meu trânsito fácil tanto pelo universo da tchurma dos 16-20 aninhos como dos “jovens” senhores de 70-80 anos, percebido por ela no evidente agrado pela leitura dos meus textos por essas tão variadas faixas etárias (mas aí tem explicação, argumentei, cinema é universal não tem idade).

Apesar de lisonjeada com a conclusão final da amiga, fiquei por um bom tempo “matutando” o tema. “Ageless”. Minha primeira reação foi defensiva porque frequentemente vemos na mídia pessoas que querem, na marra, a todo (e qualquer) custo, parecer mais jovens, e para tal investem artificialmente em plásticas, silicones, botox e mil exageros que mais deformam que rejuvenescem.

Daí minha dúvida inicial se era ou não um elogio, apesar de eu investir com muita parcimônia nesse universo fake” (sorte minha, pois mesmo não sendo nenhuma beldade, tenho pele firme sem estrias mesmo depois de duas gestações, boca e seios fartos, cintura fina, quadris largos, pernas grossas, tudo genética familiar) mas, se assim não o fosse, jamais investiria em silicone e outras artificialidades, pois sou a favor da naturalidade genética (se, em geral, aceitamos os homens como vêm ao mundo, avantajados ou não, porque nós mulheres temos que nos mutilar para agradar ao sexo oposto?).

O termo “ageless” surgiu com a contemporaneidade e a longevidade que hoje está ao alcance de todos. A curta expectativa de vida na metade do século XX fazia com que um indivíduo de 40-50 anos fosse visto (e se sentisse) como um senhor de idade, prestes a se aposentar, com seus chinelos e pijama em frente à TV, apenas aguardando a hora de ser “ceifado” pela gadanha implacável da “dona Morte”. Ou seja, até a década de 50, não havia mais tempo para se questionar relacionamento ou profissão, muito menos sentimentos e desejos.

Mas hoje tudo mudou. O mercado da moda, dos cosméticos e consumos em geral, teve que ser reestruturado para entender (e atender) esse novo mercado de velhos jovens de 40-50-60 anos. Daí surgiu o termo “ageless”, que inicialmente denominava os “baby boomers”, os nascidos no pós-guerra (quando aconteceu uma “explosão de bebês” na 2ª guerra mundial). 

Eu pertenço à geração pós baby-boomers, a chamada geração X (ou também conhecida como geração coca-cola, assim nomeada pelo nosso eterno poeta Renato Russo, da banda Legião Urbana).



O mercado foi atrás do “ageless style” para angariar esse novo grupo de consumidores, que resolveram aposentar apenas o pijama e os chinelos, e adiaram (e muito) o encontro com a “ceifadora”. Descobriu-se que essa geração possui renda mais consolidada, tem um padrão de vida estável, prefere qualidade a quantidade, sofre pouca influência de marcas, não vê o preço como obstáculo para perseguir um desejo, é firme e maduro nas suas decisões e não se influencia facilmente por outras pessoas.

E a famosa balzaquiana de 30 anos de idade (por conta do nome e do livro do escritor francês Honoré de Balzac) já não existe mais, nem mesmo as mulheres de 40-50-60 anos podem (nem querem) hoje ocupar o lugar das antigas balzaquianas, pois até elas estão refazendo suas vidas, amorosas e profissionais, e o termo ficou obsoleto, podendo mesmo ser extinto nos dias de hoje.

A geração “ageless” se comporta tanto física como mentalmente com mais jovialidade e, independentes, têm o pensamento jovem e atual, chamado “fora da caixa”, ou seja, não é possível enquadrá-los na “caixa dos 30 anos”, nem na “caixa dos 40 ou 50 ou 60 anos”.

A nova forma de ver (e viver) a vida fez com que essa geração “ageless” não mais se importasse com a contagem do seu aniversário, pouco importando (e não mais escondendo) o número de velas que vão acima do bolo.

Ser ageless fisicamente é manter a vitalidade dos 20-30 anos mesmo num corpo de 40-50-60 anos (respeitando, é claro, a evidente limitação do organismo), mantendo uma alimentação saudável, mas ainda prazerosa e atividades físicas regulares, mas sem exageros.

Ser ageless mentalmente é transitar com a mesma leveza pelo universo dos 16 aos 80 anos  questionando os próprios relacionamentos, a profissão, o papel da família, da sociedade.

Talvez o meu blog seja a prova mais contundente da conclusão da minha amiga, pois os meus filhos, meus sobrinhos e respectivos amigos de 16-25 anos curtem, meus residentes e pós graduandos da UFF de 25-30 anos e meus amigos quarentões e cinquentões também, e tenho seguidores de 70-80 anos (internautas, mais ageless que isso, impossível) que inclusive me apelidaram de mestra” (pois dou dicas de películas filmadas inclusive nos primórdios da sétima arte, no início do século XX).

O verdadeiro “estilo ageless de ser” é vestir-se com modernidade, respeitando-se os limites do próprio corpo, sem exageros. É saber envelhecer dignamente, sem perder o estilo e a beleza que cabem na própria idade cronológica, sem exageros, pois cada idade tem sua própria beleza.

Eu, particularmente, acho que cada um deveria aprender a aceitar e respeitar sua genética, pois o que vemos atualmente são mulheres fotocópias umas das outras, todas iguais, com os mesmos cabelos louros de farmácia, alisados artificialmente na tal da chapinha (por isso mesmo, para me diferenciar, faço questão de manter meus eternos cachos naturais que sempre tive desde a adolescência).

Recorrer a plásticas excessivas, bocas e caras botocadas” ao extremo, silicones e preenchimentos em demasia, para parecer eternamente jovem, é simplesmente “over”E, pior que isso... sabe aquele grupo de pessoas que, ao contrário, aparentam física e mentalmente uma idade ainda maior que a da carteira de identidade? São os out of date” (fora da validade). 

Com visual ultrapassado, os out of date” são pessoas que não sonham mais, que vivem se lamuriando pelos cantos com dores na coluna (que mais refletem as dores da alma, pois chafurdaram em relacionamentos e casamentos falidos), sem entusiasmo no trabalho e sem paixão pela vida, são exatamente o oposto dos ageless”.

E, para ilustrar esse texto, como sempre, eu não poderia deixar de me lembrar do cinema. Assim, recomendo o filme “O curioso caso de Benjamin Button”, baseado num conto de um livro homônimo, em que o belo ator Brad Pitt vive o fascinante personagem do bebê que nasce no corpo de um velho e que, com o passar dos anos, adquire a sabedoria de um velho num corpo de menino.

É a inversão do ciclo da vida que todos nós um dia já sonhamos (ter a sabedoria dos 50 num corpinho de 20), mas... adiantaria se isso acontecesse apenas com você e não com aqueles ao seu redor, como vemos acontecer no filme? (enquanto Benjamin rejuvenesce, os demais personagens do filme vão naturalmente envelhecendo).




A graça da vida é o ciclo em que todos seguimos juntos, vamos envelhecer junto com nosso companheiro (ou mesmo sem ele, ou com um segundo ou um terceiro), com nossos amigos, com nossos colegas de trabalho, e a sabedoria vai nos mostrar que o ciclo da vida se repete sim, nos nossos filhos, nos nossos netos e bisnetos.

E como minha vida, além do cinema, gira também em torno da (boa) música, deixo também, como ilustração, as músicas “Não vou me adaptar” e “Epitáfio” dos Titãs. Aliás, o grupo também é totalmente “ageless” (fui há pouco tempo a um show deles, e do meu lado, curtindo o som da banda, estavam jovens dos 15 aos 60 anos, repetindo em coro as letras, e todos vibrando e dançando com o mesmo vigor e óbvio que eu era um deles).

É certo que ainda não aprendi totalmente, pois quando me olho no espelho, minhas ruguinhas aparecendo mais e mais a cada primavera, surge um misto de aceitação e negação ao mesmo tempo (“eu não caibo mais nas roupas que eu cabia...no espelho, essa cara já não é minha ... não vou me adaptar”, com o “ex-Titã Nando Reis).



Mas dizem (as más línguas) que, quando eu chegar aos 60-70 anos, a sabedoria nos ensinará a aceitar tudo e a todos, inclusive as marcas do tempo e as mazelas da vida (“queria ter aceitado as pessoas como elas são, cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”). Eternamente (ageless) Titãs.



Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")

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