Quando vou ao cinema (desde a minha infância e ainda nos dias de hoje) me sinto tal qual a protagonista do filme "A rosa púrpura do Cairo", de Woody Allen – quase que "literalmente" passo a fazer parte da história, "adentrando" através da telona, vivenciando e "convivendo" com os personagens...
E quando as luzes se acendem e acaba a "magia", tenho sempre que me perguntar "quem sou eu?" e "onde estou?", para só então me "situar" e voltar à realidade do mundo lá fora.
E faço minhas as palavras do grande cineasta François Truffaut, que dizia: "prefiro ver a vida através dos livros e do cinema". E sempre que vejo um belo filme, tenho ímpetos de compartilhar minha emoção com o maior número possível de pessoas, tal meu fascínio pela sétima arte.
"Cinema Paradiso" foi, e continua sendo, uma dessas emoções, que continua a me encantar, não importa quantas vezes eu o reveja (perdi a conta, depois da vigésima vez).
Enquanto escrevo, me inspiro ouvindo as músicas magistrais do filme, magníficas melodias instrumentais do compositor italiano Ênio Morricone, e relembro a cena final antológica, do protagonista hipnotizado (e nós, espectadores, também) pelas belas cenas "emendadas" pelo projecionista Alfredo (personagem do talentoso ator Philippe Noiret) como um presente eterno para o menino Totó e, invariavelmente, assim como o pequeno cinéfilo, agora adulto e cineasta, eu também me pego com os olhos marejados, não importa quantas vezes eu reveja a cena.
E a trilha sonora é tão envolvente que sempre que a ouço, fico literalmente extasiada, tal a emoção que me remete cada música à lembrança das belas cenas do filme.
Também na minha cidade, no interior, o cinema era o grande protagonista das nossas vidas (já existia a telinha na minha adolescência, mas ainda o cinema não tinha sido "engolido" por ela, isso só aconteceu depois, com a chegada dos vídeo-cassetes, DVDs e agora da internet) e era ali o ponto de encontro das turminhas da escola e, assim como no filme, nos reuníamos para "guerrinhas" (de pipoca doce), enquanto aguardávamos o apagar das luzes, e enfim... a emoção, os risos e os aplausos de toda a platéia diante daquela impressionante telona.
Como no filme, senti a mesma tristeza e dor quando da demolição do "cinema paradiso" da minha então cidadezinha do interior (um lindo prédio de estilo colonial, cujo cinema chamava-se "Trianon"), que foi posto abaixo para dar lugar a um "muderno" banco, uma "caixa retangular" de concreto, totalmente sem glamour (era a "chegada do progresso" na minha cidadezinha do interior).
Apesar da dor, mas diferente dos personagens do filme (que estão envelhecidos e "desencantados"), eu tinha ainda a juventude e a esperança que impulsiona a adolescência, mas mesmo assim aquilo me marcou para todo o sempre.
"Cinema Paradiso" é um filme que encanta e que todo mundo se identifica um pouco, seja pela inocência da infância, seja pelos anseios e paixões da adolescência, seja pelos desafios e amarguras da vida adulta e, claro, pela mais bela homenagem ao cinema. É um filme para toda a vida. Para ver e rever mil vezes. Magistral. Inesquecível.
Postado por *Rosemery Nunes ("Adorável anarquista")
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