Efeitos especiais: "making of" no cinema (e afins)




Quem é cinéfilo, não se contenta apenas em assistir a um filme. Cinéfilo que se preza, quer saber tudo o que rolou por trás dos bastidores das gravações e como foi montada esta ou aquela cena – se câmera na mão ou gruas, os efeitos especiais (os sonoros se por mixagem de som ou produzidos digitalmente, os visuais se por computação gráfica, os mecânicos ou físicos como maquiagens e outros), os jogos de câmera ou de luzes e sombras, e muito mais.

A fotografia, os enquadramentos, a câmera em "zoom", em "close", em "slow-motion", em "stop-motion", e as técnicas cinematográficas mais modernas como "time-lapse" e "bullet-time", "chrome key", todos os mínimos detalhes que fazem toda a diferença numa produção cinematográfica. Também a trilha sonora escolhida para criar toda a atmosfera do filme faz parte do foco de um cinéfilo. Para tanto, pouco importa se grandes produções hollywoodianas ou curtas-metragens ou mesmo vídeos promocionais de propaganda.

Assim, mesmo para quem não é cinéfilo, vai se interessar por esta pequena "aula" de efeitos especiais, com as diversas técnicas de fotografia e movimento, que tornam um filme uma verdadeira obra de arte:

"Stop motion" é a técnica usada para animação de objetos inanimados, técnica esta muito utilizada em desenhos animados com massinhas.




A câmera em "Slow motion" é a técnica que "desdobra", em câmera lentíssima, os mínimos detalhes de uma cena rápida que normalmente não pode ser bem detalhada a olho nu.




"Time lapse" é uma técnica cinematográfica em que a câmera registra uma imagem numa velocidade lentíssima, num período bem maior do que o que será mostrado na tela, fazendo parecer que o tempo "passou depressa", dando a impressão de "saltos" no tempo (lapsing).




No belo e tocante filme, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original de 2005, "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" ("Eternal sunshine of the spotless mind"), além de vários efeitos de câmera, a técnica de "time lapse" foi também largamente utilizada, por conta dos inúmeros "flashbacks" e reviravoltas do casal em crise (Kate Winslet e Jim Carrey), ao som da bela música "Everybody's gotta learn sometime". 

Quem é que, ao sair de um relacionamento doloroso e sem futuro, não gostaria de poder apagá-lo para sempre da mente, poupando-se de tanto sofrimento? Mas também nos questionamos se vale a pena "apagar" nossas experiências, mesmo as mais dolorosas (como faz o protagonista, na pele de Jim Carrey, num filme com uma grande carga dramática, completamente diferente dos demais papéis do ator em outras películas), pois o aprendizado para uma nova relação talvez venha exatamente de uma destas experiências não tão bem sucedidas. 

O filme é um verdadeiro "quebra-cabeças" a ser montado, num mirabolante truque de imagens e efeitos de câmera, simulando a complexidade das relações e das nossas mentes (e claro, de nossos corações). Imperdível (o filme, como um todo, principalmente). 




Já na técnica "Bullet-time" acrescenta-se um efeito especial à câmera lenta, em que a cena é registrada, inicialmente, em movimento ultra-lento, e ao mesmo tempo várias câmeras, ao redor do objeto focado, registram a cena em vários ângulos, numa espiral de até 360º. 

Este efeito especial ficou famoso no filme “Matrix”, na cena em que a personagem Trinity (da atriz Carrie-Anne Moss) fica "congelada" no ar, quando perseguida por dois policiais. 




O efeito "bullet-time" também foi usado na famosa cena em que Neo (personagem de Keannu Reeves) escapa de uma rajada de tiros, também quase totalmente "congelado", numa cena de 360º.




Já a técnica em "Chroma key" é filmada uma cena com um fundo em azul ou verde para posterior processamento da imagem com o objetivo de se combinar os personagens com uma outra imagem de fundo diferente da que existe na cena em questão. 

É uma técnica largamente utilizada na telinha (muito mal utilizada, diga-se de passagem, naqueles quadros de meteorologia, em que "a garota do tempo" parece perdida na frente do mapa, porque na verdade o tal mapa é colocado só depois de gravada a cena com um fundo falso em verde ou azul) e principalmente na telona (para simular uma cena que deveria ser externa mas que, na verdade, foi realizada muitas vezes dentro de um estúdio de cinema).




E como já disse, como cinéfila, não me contento só em assistir. O vídeo "Sunscreen", por exemplo, foi divulgado "via internet" alguns anos atrás e, sob a forma de um discurso, é composto de vários "conselhos úteis", que "caem como uma luva", como uma lição de vida, nos dias de hoje. 

Curiosa, "fui atrás" da produção do mesmo. O tal discurso acabou ficando famoso nas mãos do diretor australiano Baz Luhrmann (o mesmo do ótimo musical “Moulin Rouge”) que o transformou no famoso vídeo.

A parte musical do vídeo é composta pela música "Everybody’s free" (música original de uma cantora africana chamada Rozalla), que Luhrmann já havia incluído em seu filme "Romeo+Juliet", com a voz potente de um jovem cantor afro-americano (uma voz maravilhosa, diga-se de passagem) chamado Quindom Tarver, e o diretor aproveitou e colocou-a também no vídeo. 



Na verdade, o "discurso" (que se acreditava pertencer a um orador direcionado a uma turma de formandos) era um ensaio de uma escritora para uma coluna de um jornal de Chicago (apenas foi escrito na forma de um discurso para chamar a atenção dos leitores) – o título original do texto era "Advice, like youth, probably just wasted on the young" ("Conselhos, assim como a juventude, desperdiçados pelos jovens"). Instigante, não? Abaixo, alguns dos trechos, que mais gosto, dos tais "conselhos":

"Don't be reckless with other people's hearts; don't put up with people who are reckless with you" (que pode ser traduzido como: "Não trate os sentimentos alheios de forma irresponsável; não tolere aqueles que agem de forma irresponsável em relação a você") – esses eu sigo à risca, é o meu lema atualmente.

"Remember the compliments you receive, forget the insults; if you succeed in doing this, tell me how" ("Lembre-se dos elogios que recebe, esqueça os insultos; se conseguir fazer isso, diga-me como") – eu também gostaria de aprender como fazer para esquecer os insultos, pois atualmente reajo tratando meus desafetos com indiferença, mas esquecer, ainda me é impossível.

"Dance...even if you have nowhere to do it but in your own living room" ("Dance...mesmo que o único lugar que você tenha para dançar seja sua sala de estar") – isso eu sempre fiz desde a adolescência (e continuo fazendo até hoje).

"Do not read beauty magazines, they will only make you feel ugly" ("Não leia revistas de beleza, elas só farão você se sentir feio") – essa é realmente uma verdade absoluta. 

"Do one thing every day that scare you" ("Todos os dias faça alguma coisa que seja assustadora") – acho que foi por isso que eu escolhi me tornar uma cardiologista/ecocardiografista/emergencista, pois meu dia a dia no trabalho é sempre desafiador, estou sempre no limite entre a vida e a morte (e no lazer também, de vez em quando estou em pleno ar, saltando de pára-quedas). 

Abaixo, o vídeo original "Sunscreen", com a voz envolvente e extremamente convincente de um ator australiano (chamado Lee Perry) que o diretor Luhrmann chamou para ler "o discurso". 




Em tempo: a versão tupiniquim do Pedro Bial, intitulado "Use filtro solar", ao contrário do original "Sunscreen", chega a ser esdrúxula, pois (o mala do) Bial literalmente “detonou” o vídeo – a fala do apresentador brasileiro soa em tom debochado em vários trechos, querendo parecer “meio malandro” (que nada tem a ver com a temática do texto). E a tradução é péssima, por exemplo, a palavra "floss", que no discurso tem sentido de "relaxe", o (retardado do) Pedro Bial traduz como "use fio dental"!!! What??!! Totalmente sem noção (Aff... também, o que esperar de um apresentador de um programa intragável como o "Big Brother"?).

Para compensar a pobreza de espírito do nosso "detonador de vídeo alheio", um outro brasileiro, o gaúcho Rodrigo Teixeira, um "expert" em efeitos especiais, depois de muita batalha e persistência na "terra do tio Sam", se tornou um dos diretores técnicos de efeitos especiais mais requisitados por lá, tendo participado diretamente dos efeitos de diversos filmes famosos, como "Alice" de Tim Burton, "Sin City, a cidade do pecado", "Superman", "O dia depois de amanhã", e em "2012" ficou para ele a incumbência da "destruição" de Los Angeles e de Las Vegas no filme (se "inocentando", ao revelar não ter sido ele a "destruir" o Rio de Janeiro). 




A série televisiva "The Walking Dead" (baseada numa série em quadrinhos, de mesmo nome) conquistou um enorme sucesso, por conta inclusive dos inúmeros efeitos especiais de maquiagem, com uma profusão de zumbis em cena, que fazem a "alegria" dos amantes do "horror show". 

A série é envolvente, deixando um gostinho de "quero mais" no espectador, mesmo naqueles que não curtem muito esse tipo de história surreal (uma misteriosa doença transforma a maior parte da população do planeta em zumbis, restando aos poucos sobreviventes lutar por suas próprias vidas, fugindo dos ataques dos mortos-vivos, e ainda ter que lidar com o egoísmo e a falta de alteridade da raça humana, mesmo em um ambiente tão inóspito).



E para fechar este texto, deixo a jogada de marketing ("prá lá" de original) do canal de televisão TCM que, lançando mão de efeitos especiais e de câmera, usou e abusou destes artifícios para atrair o espectador e divulgar os filmes da sua programação. 

Na propaganda, o "espectador" passa a figurar entre o elenco da película em questão, estimulando o público a participar ativamente dos filmes. As cenas foram montadas com as partes mais famosas e marcantes dos filmes, especialmente daqueles que "não se deve deixar de ver antes de morrer": 

Como em "Poltergeist", o terror de Steven Spielberg.





Também na eletrizante cena da escadaria de "Os intocáveis", sobre os federais que prenderam Al Capone nos anos 30/40 (Tom Cruise? Kevin...Kevin Bacon?? Roger Moore??? Haja paciência, hein, Kevin Costner !!! kkk).




E também em "Máquina mortífera" ("Lethal Wepon").



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