Se isso não te lembra Clube dos Cincos, eu não sei o que irá lembrar. |
Acredito que todos já assistiram algum filme do John Hughes, certo? O Clube dos Cinco, Gatinhas e Gatões, Curtindo a Vida Adoidado, Mulher Nota 1000, Garota Rosa Shocking... Arghh! São muitos!
Mas, se você ainda não assistiu nenhum, primeiro leia essa matéria e depois, vá assistir.
Os filmes de Hughes foram um estouro na década de 80 tendo se tornado clássicos do cinema adolescente americano, e tendo referências que vão até hoje. E uma dessas, é Deadly Class.
Deadly Class acontece em São Francisco em 1987. Na história, acompanhamos Marcus, um garoto orfão que perdeu os pais em um horrível acidente e foi posto em um internato. Algo terrível acontece no internato e agora, ele sai por aí, dormindo em ruas, roubando e vivendo como mendigo. Até um dia em que ele decide se matar. E é salvo por uma garota, Saya, e descobre que ela estuda em uma escola de assassinos. O que tem haver com John Hughes? Vou chegar lá.
Muito dessa história, de acordo com o roteirista, Rick Remender, vem das próprias experiências que ele teve nesse mesmo ano, tendo que se mudar de casas, chegar em um novo local, encontrar novos amigos, se juntar em uma gangue e viver altos perigos. Há também o contexto histórico apresentado onde os personagens se situam no governo do presidente Ronald Reagan, como muito se fala, um governo onde o medo e o ódio se alastravam por entre a sociedade nos EUA. E todos esses fatores são apresentados e refletidos em Marcus, no momento em que ele conhece Saya & Cia, e somos apresentados a Kings Dominion School of Deadly Arts, ministrada pelo Mestre Lin.
Na Kings Dominion estudam filhos de agentes do FBI e da CIA, agentes da KGB, de grandes traficantes, donos de cartéis, neo-nazis, assassinos de aluguel, etc... Todos estão lá porque seus pais querem ensinar uma lição ou querem que sigam os seus passos. E nós, juntos com o Marcus vivemos o primeiro dia numa escola de assassinos. Se primeiros dias não são fáceis, imagine aqui.
Primeiros dias são difíceis, hein, Allison? |
John Hughes apresentou um novo tipo de história em filme adolescente que antes não era explorada: as dos grupos em que cada um de nós nos inserímos. Em Garota Rosa Shocking, existe uma sequência em que a personagem principal conhece todos os grupos da escola: as patricinhas, os esportistas, os nerds, os estranhos, etc. E por não se encaixar acaba ficando sozinha com um amigo socialmente estranho. Marcus tem um amigo socialmente estranho: Shabnam, o típico gordinho nerd que sofre bullying. Shabnam apresenta Marcus as "classes sociais" da escola, e elas são:
The Preps: Também conhecidos como riquinhos ou mauricinhos, filhos da galera do FBI e CIA
Dixie Mob: A galera sulista, caipira que fala errado e escuta country. São filhos de neo-nazis.
Soto Vatos: Os latinos, filhos de donos de cartéis.
Jersey Kings: São o equivalente dos filhos de Tony Soprano.
Final World Order: Os manos de Los Angeles. Algo como se o Dr. Dre, Ice Cube e Snoop Dogg fossem adolescentes.
Kuroki Syndicate: Os asiáticos da Yakuza.
Existem também os punks, os rebeldes, os russos, mas nessas edições #1 e #2, esses são os destacados.
Depois de apresentados ao corpo discente, somos apresentados ao corpo docente e suas aulas como: "Métodos Simples de Finalização", "Venenos I", "Assassinatos Avançados I", etc. Sabem, matérias básicas para quando você tem que aprender a matar alguém, mas durante essas 6 edições, o quadrinho está mais focado nos seus alunos do que na escola.
Com as edições seguindo, sabemos que Marcus encontrou uma galera formado por gente de todos os grupos, quando ele fica de detenção, os mesmos aparecessem e decidem viajar pra Las Vegas de carro. E então, você imagine o que um monte de adolescente pertubados podem fazer em Las Vegas. Um pequeno parêntese para uma sequência fantástica feita pelo desenhista, Wes Craig, quando eles vão comprar drogas de uns hippies em um show do Grateful Dead.
Em apenas seis edições, Remender e Craig conseguiram criar personagens reais, com que você pode ter um ligação. Toda a teoria de assassinos e tal, é apenas uma fachada pra mostrar o quão humano são esses personagens e o quando o "mal da adolescência" influenciam eles. Acredito que todos fomos/somos adolescentes e já fizemos besteiras. Remender acentua isso colocando uma playlist com músicas que cada um dos personagens principais ouvem, pra mim, isso foi essencial para estabelecer uma conexão/identificação com alguns personagens.
Tendo uma narrativa fluída, magistralmente desenhada pro Craig, eu acredito que Deadly Class é um dos melhores quadrinhos de 2014, pra mim, o melhor. Infelizmente, uma série que não tem previsão nenhuma de aparecer pelo Brasil, pode ser acompanhada por inomináveis ou pelo seu encadernado, já a venda, que se parece muito com isso:
Se vocês comprarem, eu posso pedir pro Remender meus 5% por conta do merchan. |
A edição #7 de Deadly Class chega nessa quarta-feira (e foi por isso que publiquei isso hoje), e muito provável que irei fazer review. Próxima segunda, eu trago pra vocês: Sex Criminals de Matt Fraction e Chip Zdarsky.
Agora vão ler, crianças! (E não matem ninguém no processo, please).
por Tatiana Ferreira