Psicopatas no cinema: A vida imita a arte (ou é o contrário)?



Dizem que “a vida imita a arte”, mas eu, particularmente, acho que, na verdade, a arte é que imita a vida real. Pelo menos, assim o é na sétima arte (o cinema e outras artes afins, como as séries, os curta-metragens, etc).

O cinema pode, muitas vezes, romanticamente, florear a realidade, mas na maioria das vezes retrata fielmente as relações humanas. E os meus textos refletem isso, pois tudo o que acontece no meu cotidiano me remete sempre ao mundo do cinema, porque, de algum modo, algum cineasta já vivenciou e/ou cinematografou algo parecido.

No meu dia a dia (sou médica e, nas poucas horas vagas, cinéfila e “aprendiz de escritora”) entro em contato com todo o tipo de gente, desde “gente de fina estampa até gentinha” e, inclusive, “gentalha” (“gentalha, gentalha, gentalha”, como diria o personagem Kiko, da extinta série mexicana “Chaves”).



E dentro deste imenso universo de “personas gratas e non gratas”, eu lido inclusive com psicopatas em variados cargos, pois no mundo real eles subsistem sob a pele de maridos e pais brutamontes e machistas, chefes assediadores morais, diretores tiranos de grandes corporações, etc.

Psicopatas são, na verdade, verdadeiros vampiros emocionais, sugam a energia das suas vítimas até destruí-las, e o fazem sem nenhum remorso ou compaixão. E a dica para lidar com eles é o contato zero, ou seja, nenhum contato é o único jeito de lidar com os malévolos, pois toda e qualquer relação com os tais é, no mínimo, doentia e destrutiva.

O cinema não cansa de mostrar os tais sujeitinhos macabros, mas se detém nos mais malévolos, os famosos “serial killers”. Assim, deixo dicas de cinema (e séries) para nos inteirarmos de que eles existem sim, pois os psicopatas são os piores inimigos da sociedade contemporânea e temos que aprender a lidar com eles (ou melhor, aprender a reconhecê-los e nos afastar deles, porque infelizmente não há cura para os tais).

Os “serial killers” e demais psicopatas sociais vivem “tão à solta” no cinema que não dá para citar todos (na vida real, muitos estão em presídios de alta periculosidade): os mais famosos estão em “O silêncio dos inocentes” (o eterno “Hannibal”  Anthony Hopkins), “Taxi Driver” e “Cabo do medo” contam com um Robert de Niro prá lá de doentio,  “O psicopata americano” Cristian Bale chega a ser hilário de tão surtado, em “Seven” de David Fincher, em “Psicose” de Alfred Hitchcock , e por aí vai...

Mas, no nosso dia a dia, eles podem se apresentar como um perfeito “príncipe encantado” como aconteceu com a personagem da atriz Julia Roberts que passou “o pão que o diabo amassou” com um deles como marido, no filme “Dormindo com o inimigo”.



De vez em quando, os tabloides noticiam casos esdrúxulos de sequestros de bebês em maternidades, e no cinema a “babá” Rebecca de Mornay mostra traços evidentes de psicopatia social no suspense “A mão que balança o berço”.



Na vida real, todos nós já nos deparamos com notícias medonhas de pais que assassinam friamente seus rebentos e vice versa, e no terror “A órfã”, a personagem do título também “passeia” pelo universo da psicopatia, não há remorso por trás da crueldade com que se livra de suas vítimas.




Em “Precisamos falar sobre kevin” (baseado, infelizmente, em uma história real) o filme aborda exatamente como um psicopata manipula e domina a sua vítima. A pobre mãe (Tilda Swinton, excelente como sempre) se acha culpada por não ter desejado a gravidez do tal Kevin do título. Mas, com a vinda da segunda filha, que deveria então deixá-la ainda mais hostil (depois de lidar com a hostilidade gratuita do primogênito), ao contrário, a docilidade espontânea da filha a faz perceber que algo de muito cruel havia no comportamento do filho.

E isso deveria fazer com que ela (a mãe do tal Kevin) se livrasse do sentimento de culpa em relação ao primogênito, mas o filho psicopata sabendo da fraqueza da mãe (sempre achamos que falhamos em algo) usa isto para mantê-la sob seu domínio e colocar inclusive o casal um contra o outro. A única coisa amena no filme é a singela música “Everyday”, dos anos 50, de Buddy Holly.




Saindo do âmbito da psicopatia, às vezes o inimigo e predador infelizmente pode ser o próprio ser humano, como no antigo mas belo e singelo filme “Inimigo meu”, no qual a amizade com um extra-terrestre parece algo inverossímil, quase improvável, mas a necessidade de sobrevivência pode fazer (ou não) tudo mudar.



E na elogiadíssima série americana intitulada “The walking deads”, mais do que temer os morto-vivos, a série confirma que o grande predador do ser humano pode, na verdade, ser ele mesmo.

Num mundo tomado por zumbis (em que a maioria da população por uma razão desconhecida se transformou em mortos-vivos), os poucos humanos sobreviventes, apesar do mundo hostil que restou, ainda agem como predadores de si mesmos, não confiam na própria raça humana, muitos deles continuam mesquinhos, pervertidos e desumanos, eternos inimigos de si mesmos (e como não podia deixar de ser, um psicopata aproveitador entra em ação, na emblemática figura do “carismático” governador).

A música de abertura da série é do compositor Bear McCreary e vai num crescendo de sons de violinos que, por si só, já é um chamariz, dá vontade de ver a série só pela abertura empolgante.


Baseada em uma história produzida inicialmente em quadrinhos, a série tem como principal protagonista o ótimo ator Andrew Lincoln (em “Simplesmente amor” ele era aquele tímido personagem apaixonado pela mulher do seu melhor amigo recém-casado).

Vale a pena assistir, a 5ª temporada vai ser lançada no terceiro trimestre deste ano. Por trás da aparente e única necessidade básica que é sobreviver num mundo de “walkers” (zumbis), a série mostra que, no meio do caos que assola todo o planeta, o que ainda importa são as relações humanas, pois são elas é que farão a diferença na luta pela sobrevivência.



Num mundo desesperançoso, a série aborda os eternos conflitos das relações entre os seres humanos, tais como fidelidade, amizade, traição, inveja, lealdade, confiança, companheirismo e tantos outros sentimentos nem sempre lá muito nobres, mas genuinamente humanos. “Demasiadamente humanos”  (parafraseando Nietzsche).

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