BEST-SELLERS ENQUANTO GÊNERO LITERÁRIO I


Na verdade, o título que dei ao artigo (ainda pensando em Simenon, que muito sucesso fez em sua época) é uma contradição. A variedade de obras, e falo apenas no terreno da ficção, que, por uma razão ou outra, foram um grande sucesso de vendas é grande demais para que seja possível falar em gênero. Em compensação, pode se chegar não digo a algumas respostas, mas a algumas perguntas interessantes. E quantas vezes as perguntas não são mais interessantes do que respostas prontas? – 42 – vai me responder algum engraçadinho antenado. E eu digo: pode ser.
Falar nisso, ainda escrevo um artigo sobre o [excelente] Guia do mochileiro das galáxias.  Talvez isso demore, mas, bem, “não entre em pânico”.
Estou aumentando minha lista de artigos por fazer. Antes que essa lista se torne monstruosa, vamos ao que interessa por enquanto…
Livros que vendem de forma estupenda existem desde que os livros começaram a ser publicados e vendidos. Quando eu falo livro me refiro à concepção moderna de livro, ou seja, desde o desenvolvimento da imprensa por Gutenberg. Naquela época, era comum que um livro vendesse bastante e que seu autor ficasse na miséria ou tivesse que viver não das vendas mas, de alguma forma, da fama que o livro trazia. Isso quando o livro, mesmo bem vendido, trazia alguma fama ao autor. As peças de Shakespeare, por exemplo, publicadas, não traziam o nome do autor na capa, apenas o do editor (daí alguns estudiosos teimosos duvidarem que tenha sido realmente Shakespeare o seu autor). Para o editor antigo, do século XVI, os livros eram seus porque era seu o investimento em máquinas, papel e tinta. Algumas obras, na época, chegaram mesmo a ser traduzidas e reeditadas sem que os seus autores originais sequer tivessem notícia.
O mecenato – o patrocínio de artistas e intelectuais por parte de nobres – ainda era a principal fonte de renda de quem produzisse livros. Mas o início de um mercado, mesmo este tendo nascido sem beneficiar os autores, punha essa prática em risco. Cervantes, o famoso autor do Dom Quixote, foi um que sofreu com a transformação. Sua obra revolucionária, embora não agradasse os defensores da tradição, caiu num certo gosto popular. E uma segunda parte falsa do livro foi publicada por um outro autor, o qual visava lucrar a partir do sucesso do livro original. Consta que esse autor, Alonso Fernández de Avellaneda, foi processado pelo plágio e que Cervantes ganhou a disputa. O livro de Avellaneda tem o valor histórico, naturalmente, mas não se atribui a ele maior valor literário. Porém, isso não livrou Cervantes de uma vida difícil, economicamente falando.
[Continua…]

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem