Saudade não tem idade: séries antigas





Saudade não tem idade. Regularmente visito meus familiares na minha cidade natal, no interior do estado do Rio de Janeiro e, por conta dos mais de vinte anos morando em outra cidade, acabo sempre revendo, nestas tais visitas, os amigos de infância, os da escola e vizinhos mais chegados. E numa destas inúmeras vezes, conversa vai, conversa vem, ao relembrarmos dos “velhos tempos” passados em comum, de repente o papo começou a girar em torno dos seriados de TV dos anos 60-70-80.

E, nem um pouco surpresa, ao mostrar um vídeo (abaixo) com dicas das músicas de abertura dessas famosas séries, eu percebi a animação e a alegre agitação dos amigos e familiares (sob os olhares curiosos dos pimpolhos que tentavam, em vão, participar), todos tentando adivinhar o nome desses tais seriados, que fizeram parte, num passado não muito distante, do cotidiano de uma legião de admiradores de várias gerações de adolescentes (por conta das reprises que duraram décadas, coincidindo com a idade da “geração X”, os nascidos entre 60 e 80).



Respostas do vídeo acima:

1-  A feiticeira; 2- Bonanza; 3- A família Adams; 4- Jeannie é um gênio; 5- Daniel Boone; 6- Agente 86;  7- Havaí 5.0;  8- Os Monkees; 9- Jornada nas Estrelas; 10- Batman; 11- Missão Impossível; 12- Perdidos no Espaço; 13- Viagem ao Fundo do Mar; 14- Túnel do Tempo; 15- A Família Buscapé; 16- Os Monstros; 17- James West; 18- Terra de Gigantes; 19- Thunderbirds; 20- Chaparral; 21- Guerra, sombra e água fresca.

Antes do advento da internet (e do, hoje obsoleto, vídeo-cassete, e também do DVD e do Blu-Ray) ficávamos todos nós, jovens da (pré e pós) “geração X” (no Brasil conhecida como a  “geração coca-cola”, os chamados “filhos da revolução”, como dizia Renato Russo, na sua famosa música), à mercê das emissoras de TV, cuja programação, em plena ditadura militar, era modulada pela censura rígida, que rotulava quase tudo ligado a arte (inclusive o cinema) como subversivo.




E a rede “plim-plim” (leia-se rede Globo) foi, aos poucos, monopolizando a agenda cultural (leia-se “o empobrecimento” cultural) do povo brasileiro, e ficávamos ao bel-prazer da programação desta emissora. A ditadura militar estimulava toda forma de autoritarismo da direita reinante na época e a Globo acatava (e, infelizmente, ainda se curva, nos dias de hoje), e nós, pobres mortais, tínhamos que nos contentar com o que era então produzido na América capitalista, em oposição a Eurásia comunista (a chamada guerra fria).

E assim os seriados americanos eram os nossos passatempos televisivos preferidos, pois não havia melhor escolha, já que só nos restavam os intragáveis “enlatados” americanos, ou então eram as repetitivas novelas brasileiras e os programas de auditórios (a mesmice de hoje e sempre) que, desde aquela época, já eram “prá lá de chatérrimos”.

Muitas destas séries antigas ainda são reprisadas e até hoje ainda fazem sucesso. A cantora brasileira Denise Reis mostra seu talento como “trompete vocal” (imitando o som de um trompete com a boca e a garganta), e faz sucesso com sua performance, “cantando” os temas de alguns desses famosos seriados.




E foram várias as gerações que passaram a infância e a adolescência curtindo esses seriados em reprises e mais reprises, pois a ditadura militar durou de 1964 a 1985, exatos 21 anos ininterruptos (e a ditadura da Globo continua até hoje, com o seu monopólio). 

Por conta das reprises que duraram décadas, são hoje sessentões, cinquentões e quarentões (e boa parte de trintões, e até jovens de vinte e poucos que cultuam cinema e seriados) que, saudosos, relembram com nostalgia os velhos e bons seriados da época. E detalhe, nos acostumamos tanto com a versão dublada (pois era a única opção na época) que ainda hoje continuamos a assistir com a voz dos dubladores, que dá um ar mais nostálgico ainda.

"Os Waltons” contava a história de uma família rural americana às voltas com as dificuldades para criar seus sete filhos após a grande Depressão americana. Quantos de nós não dormíamos só depois do famoso “boa noite” da família Walton? (“boa noite, Mary Ellen..., boa noite, John Boy”).




“Jeannie é um gênio” era a história de uma sensual e atrapalhada “gênia” da lâmpada, apaixonada por seu amo. Já o seriado “A Feiticeira” foi recentemente cinematografado, com a atriz Nicole Kidman, no papel da bela bruxa de nome Samantha tentando se adaptar ao mundo dos mortais.

Já o ex da “Feiticeira”, o ator Tom Cruise, voltou a encarnar recentemente na telona a sua quarta “Missão Impossível”, história baseada numa outra série de sucesso na época.

A “Família Dó, ré, mi” (“The partridge family”) contava a história de uma família de músicos tentando obter sucesso e fama no mercado fonográfico americano. Éramos todos apaixonados pelos fictícios irmãos, vividos pelos belos atores David Cassidy e Susan Dey.




E, se hoje a garotada conhece e curte a famosa música “I'm a believer” que aparece no créditos finais do filme infantil “Shrek”, a tal melodia é nossa velha conhecida do seriado “The Monkees” (antes uma banda fictícia que, por conta do sucesso da série, tornou-se uma banda real na época). Saudade não tem idade, e o que é bom, sempre volta. 




O divertido “Agente 86” (“Get smart”) também foi recentemente levado para o telão, com o ator Steve Carell (o famoso “virgem de 40 anos”) na pele do trapalhão Maxwell Smart (papel, na série televisiva, do falecido ator Dom Adams), um agente de uma organização de nome CONTROL, que tinha como missão combater uma agência criminosa de espionagem, a KAOS, cujo chefe tinha sotaque e postura nazista (história criada pelo humorista Mel Brooks, numa alusão bem humorada da CIA americana e a KGB soviética). 

O “nosso herói” vivia às voltas com mirabolantes equipamentos “especiais”, de fazer “inveja” ao super agente 007 James Bond, como por exemplo, o seu famoso “sapato-fone”. E nos divertíamos com o impagável “cone do silêncio” da organização, uma geringonça que era usada para conversas sigilosas com o seu chefe, mas que em geral não funcionava, ou melhor, funcionava sempre às avessas (ou não se ouvia um ao outro e, ao contrário, todos ao redor podiam ouvi-los).



Impagáveis também eram as tiradas sempre apatetadas do agente secreto Smart (que de esperto nada tinha), como as do tipo “o velho truque...” (o truque era velho, mas ele nunca o descobria a tempo), ou então era o bordão “não me diga que...“ e, quando alguém dizia a tal contestação dele, ele respondia, na lata, “eu pedi para não me dizer isso”.

Ou então, quando ele ameaçava o seu algoz, dizendo que “um exército de policiais estaria cercando o local” e, ao ser desacreditado pelo tal, saía com a máxima perguntando se o fulano “acreditaria se fosse uns dez homens e um cachorro” e a cada contestação do inimigo, ele ia diminuindo o número de “homens do cerco”, tentando convencer (inutilmente) o inimigo que este estaria sem saída. Era hilário.

Com uma ingenuidade nata, seu jeito desastrado e total falta de atenção, o agente 86 (ironicamente chamado “Smart”), apesar dos pesares, conseguia ser engenhoso, perspicaz e com uma grande dose de sorte, e no fim se saía bem no seu ofício, divertindo a todos com soluções sempre esdrúxulas dos casos de espionagem.




Quanto às séries japonesas, os heróis eram representados principalmente pelo “National Kid”, uma verdadeira “febre” entre a garotada da época (a gurizada “levava” as séries para a escola, em brincadeiras no recreio, “teatralizando” seus super-heróis prediletos, e “National Kid” era um dos preferidos). Tinha também “Jaspion”, “Ultraman”, e os mais recentes “Dragon Ball Z” e “Power Rangers”.




Surgiram também os (nem sempre) heróis latinos, como o até hoje megassucesso “Chapolim” (“El Chapulín colorado”) e “Chaves” (“El Chavo del ocho”). No Brasil, na década de 60, surgiu o primeiro seriado genuinamente brasileiro, “O vigilante rodoviário” com seu fiel cão, de nome “Lobo”, que combatia o crime pelas rodovias do país, a bordo de uma Harley-Davidson dos anos 50.

E não parava de aparecer mais e mais séries – “Bonanza”, “Daniel Boone”, “Bat Masterson”, “Túnel do tempo”, “Terra de gigantes”, “Perdidos no espaço”, “Flipper”, “O incrível Hulk”, “A família Adams”, “Além da imaginação” (Twilight Zone”)Viagem ao fundo do mar”, “Mary Tyler Moore”, Havaí 5.0”, “A família buscapé”, “Os monstros”.




E a série “That ‘70s show”, criada nos anos 90 (os atualmente famosos atores Ashton Kutscher e Mila Kunis, começaram suas carreiras na hoje extinta série), confirma a relevância da década de 70 ao retratar a história de seis jovens amigos adolescentes às voltas com as mudanças radicais daquelas então novas gerações. Reprises do seriado ainda podem ser vistas em canais a cabo.



A série girava em torno da então juventude americana dos anos 70 que aprendia a se virar num novíssimo contexto social, com a recente “igualdade” dos sexos, o “rock and roll”, a iminente liberdade sexual, e a entrada (ainda sutil) das ervas ilícitas nos lares americanos (o famoso círculo “enfumaçado” no porão da casa, onde rolava “altos” papos, inclusive sobre estas famosas séries televisivas - assista abaixo - kkkk). 




Realmente saudade não tem idade, e relembrar os revolucionários anos 60/70 é primordial para as atuais gerações tomarem conhecimento da grande contribuição da então juventude daquela época (a chamada “geração baby-boomer”, dos nascidos logo após a 2ª guerra mundial), pois foi a primeira geração a conquistar o direito de ser jovem, a chamada “juventude libertária” que tomou as ruas, os centros acadêmicos e os grandes festivais de música. 

O vídeo “We all want to be young” mostra geração a geração e como tudo começou graças à “explosão”, antes demográfica e depois comportamental, dos “baby-boomers”.




E eu me orgulho (e muito) de ter “bebido” de parte desta fonte (pois sou da “geração coca-cola” ou “geração X”) porque, por conta daquela geração anterior à minha (os “baby-boomers”, nascidos entre a década de 40-60), a juventude nunca mais seria a mesma. 

A minha geração se espelhou e “pegou carona” na geração anterior (“era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones”) e, no Brasil, fez brotar o talento das grandes e eternas bandas revolucionárias do nosso rock nacional (Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Engenheiros do Havaíí, Blitz, Barão Vermelho e outras).



Pena que a atual juventude brasileira se perdeu, sem rumo e sem expressão social, voltada apenas para o seu próprio umbigo, com seus “chatérrimos selfies” (ou então bisbilhotando o “umbigo” alheio) nos “facebooks da vida”, embalados pelo som (som???!!!) da horrenda e brega música sertaneja (que de sertão não tem nada) e a ridícula sertaneja universitária (com suas letras “ora de corno, ora de babaca metido a fodão”) e a horripilante música funkeira (leia-se “de cachorra”). 

A “Sociedade dos poetas mortos” da nossa MPB (Renato Russo, Cazuza, Raul Seixas, Celso Blues Boy, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Gonzaguinha) devem estar se contorcendo em seus jazigos, diante de tanto lixo fonográfico. É, Renato Russo achava que não, mas parece que foi “Tempo Perdido” sim. 




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